quarta-feira, 5 de setembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 12 (1ª parte)





Filipe acordou Marta passando-lhe por cima do corpo adormecido, sem dó nem piedade, excitado com o bater na porta de casa, fungando-lhe o pescoço com o focinho húmido.
- Está quieto! – ralhou, empurrando-o frustrada. – Só pode ser o teu amigo, para estares neste histerismo… - comentou, sentindo-se automaticamente dormente. Vestiu o robe e encaminhou-se para a porta, respirando fundo. Ainda nem o tinha visto já tremia de nervos… Recompõe-te rapariga, ordenou-se. – Sim? Quem é?
- Eu!
- Eu quem? – perguntou com vontade de brincar.
- O teu mestre de obras.
- Palavra-passe?
- “O João é bonito”. – respondeu prontamente deliciado com aquilo tudo.
- Errado. Mais uma tentativa.
- A Marta é má!. – tentou de novo.
Abriu a porta, derretendo com o sorriso dele, que a abraçou sem dó nem piedade, transformando-a em gelatina.
- Bom dia. – disse quase sem voz.
- Bom dia. Então? Gostaste da surpresa? – dirigiu-se à cozinha, levando-a atrás, deserto para se certificar de que estava tudo a funcionar.
- Adorei… não precisavas de ter gasto este dinheiro todo… - comentou pouco à vontade com a ideia da fatura daquilo tudo. – Vais deixar-me pagar tudo de volta?
- Não. – respondeu decidido – Não me vais dar a fatura do meu livro, pois não? Prendas são prendas. E funciona tudo? – mudou de conversa, abrindo as torneiras satisfeito.
- Sim, tudo perfeito…
- Não me vais pagar nada, mas pelo menos um beijinho de agradecimento ficava-te bem… - agarrou-a para não lhe dar hipótese de fuga.
- Primeiro tenho de ir tomar banho, lavar os dentes… - escapou-se, deixando-o com cara de amuado.
- Ok, eu espero. Vou fazendo o pequeno almoço. Faz já a mala que temos de ir cedo. – informou-a, já a falar para o corredor vazio.
Marta voltou atrás, surpreendida.
- Temos?
- Sim, ao Gerês, lembras-te? Pensei em irmos hoje cedo e voltarmos no domingo, o que achas? – perguntou contente.
- Gerês? Mas isso não é longe? – exclamou espantada.
- Sim, mas pela autoestrada chega-se num instante. – explicou, trazendo o comer para a mesa de centro em frente ao sofá.
- E dormimos onde? – quis saber incomodada. Aquilo seria como chegar fogo ao rastilho, pensou angustiada, imaginando passar a noite fora com ele, longe de tudo e de todos, apenas separados pela parede de um quarto de hotel. – E o Filipe? Ele não pode ficar sozinho…
- Há para lá imensos sítios para dormir, e escolhemos um que aceite cães.- disse de forma prática.
- Não vais aceitar um não, pois não?
- Não. – sorriu-lhe satisfeito.
- Ok, mas com uma condição. – disse muito séria. – Vais deixar-me conduzir o teu carro.
- Não, isso é que não!... – exclamou horrorizado com a ideia, baixando os ombros resignado depois do olhar duro que Marta de lançou – Ok, mas só alguns quilómetros… Agora mexe-te! – virou-a na direção da casa de banho e empurrou-a suavemente, forçando-a a arranjar-se depressa.
- Eu quero chá e torradas. – disse autoritária, sorrindo-lhe antes de fechar a porta.

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(imagem, internet)

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