Filipe
acordou Marta passando-lhe por cima do corpo adormecido, sem dó nem
piedade, excitado com o bater na porta de casa, fungando-lhe o
pescoço com o focinho húmido.
-
Está quieto! – ralhou, empurrando-o frustrada. – Só pode ser o
teu amigo, para estares neste histerismo… - comentou, sentindo-se
automaticamente dormente. Vestiu o robe e encaminhou-se para a porta,
respirando fundo. Ainda nem o tinha visto já tremia de nervos…
Recompõe-te rapariga, ordenou-se. – Sim? Quem é?
-
Eu!
-
Eu quem? – perguntou com vontade de brincar.
-
O teu mestre de obras.
-
Palavra-passe?
-
“O João é bonito”. – respondeu prontamente deliciado com
aquilo tudo.
-
Errado. Mais uma tentativa.
-
A Marta é má!. – tentou de novo.
Abriu
a porta, derretendo com o sorriso dele, que a abraçou sem dó nem
piedade, transformando-a em gelatina.
-
Bom dia. – disse quase sem voz.
-
Bom dia. Então? Gostaste da surpresa? – dirigiu-se à cozinha,
levando-a atrás, deserto para se certificar de que estava tudo a
funcionar.
-
Adorei… não precisavas de ter gasto este dinheiro todo… -
comentou pouco à vontade com a ideia da fatura daquilo tudo. –
Vais deixar-me pagar tudo de volta?
-
Não. – respondeu decidido – Não me vais dar a fatura do meu
livro, pois não? Prendas são prendas. E funciona tudo? – mudou de
conversa, abrindo as torneiras satisfeito.
-
Sim, tudo perfeito…
-
Não me vais pagar nada, mas pelo menos um beijinho de agradecimento
ficava-te bem… - agarrou-a para não lhe dar hipótese de fuga.
-
Primeiro tenho de ir tomar banho, lavar os dentes… - escapou-se,
deixando-o com cara de amuado.
-
Ok, eu espero. Vou fazendo o pequeno almoço. Faz já a mala que
temos de ir cedo. – informou-a, já a falar para o corredor vazio.
Marta
voltou atrás, surpreendida.
-
Temos?
-
Sim, ao Gerês, lembras-te? Pensei
em irmos hoje cedo e voltarmos no domingo, o que achas? – perguntou
contente.
-
Gerês? Mas isso não é longe? – exclamou espantada.
-
Sim, mas pela autoestrada chega-se num instante. – explicou,
trazendo o comer para a mesa de centro em frente ao sofá.
- E
dormimos onde? – quis saber incomodada. Aquilo seria como chegar
fogo ao rastilho, pensou angustiada, imaginando passar a noite fora
com ele, longe de tudo e de todos, apenas separados pela parede de um
quarto de hotel. – E o Filipe? Ele não pode ficar sozinho…
- Há
para lá imensos sítios para dormir, e escolhemos um que aceite
cães.- disse de forma prática.
- Não
vais aceitar um não, pois não?
-
Não. – sorriu-lhe satisfeito.
- Ok,
mas com uma condição. – disse muito séria. – Vais deixar-me
conduzir o teu carro.
-
Não, isso é que não!... – exclamou horrorizado com a ideia,
baixando os ombros resignado depois do olhar duro que Marta de lançou
– Ok, mas só alguns quilómetros… Agora mexe-te! – virou-a na
direção da casa de banho e empurrou-a suavemente, forçando-a a
arranjar-se depressa.
- Eu
quero chá e torradas. – disse autoritária, sorrindo-lhe antes de
fechar a porta.
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(imagem, internet)
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