quinta-feira, 6 de setembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 12 (2ª parte)




Marta forrou o mais eficazmente possível o banco traseiro do carrão desportivo para acomodar Filipe, que parecia um Senhor esparramado no grande espaço, sentando-se em seguida de pernas cruzadas à chinês no banco do lado do condutor, que se esforçou por não se distrair com a perna dela demasiado perto da mão poisada na manete das mudanças. Conversavam animados sobre locais a visitar, naquele pequeno passeio de fim de semana, quando o ambiente começou a mudar lentamente. Marta não parava quieta no banco, mostrando perna e mais perna, e por vezes deixando uma alça cair desajeitadamente do ombro, revelando pequenos vislumbres de soutien, sem se aperceber do que fazia, simplesmente descontraída com a música, ou olhando Filipe com carinho, que dormia que nem um justo. A estrada parecia nunca mais terminar, e João teve de fazer uma pausa na tortura sensual que era olhar, e não poder tocar.
- Vamos parar aqui nesta estação de serviço à frente? Preciso de ir à casa de banho.
- Ok, o Filipe também deve precisar de usar os lavabos. – brincou, endireitando-se no banco e percebendo que ia a mostrar um pouco mais do que devia. – Desculpa, não dei conta que ia quase a mostrar-te as cuecas. – disse-lhe, corando.
- Não faz mal, também já me viste de boxers.
- Vamos, eu pago o café para me redimir. – sorriu-lhe, saindo do carro e abrindo a porta ao cão sonolento.
- Um café e uma nata, no mínimo. – gracejou, abraçando-a instintivamente com um braço por cima do ombro.

O resto da viagem foi feito em silêncio, apenas interrompido pelo ressonar de Filipe, pois Marta deitara o seu banco e acabara por adormecer profundamente, a meio de uma conversa sobre Ganesha. João manteve-se pensativo e a passo de caracol, para a poder admirar sem provocar nenhum acidente. Sentia-se demasiado atraído por ela, por todas as características que até então conhecia dela; físicas, emocionais, mentais, tudo lhe agradava naquela mulher e parecia-lhe tão certo e fácil quando estavam juntos, matutava, ao mesmo tempo que lhe afagava o cabelo carinhosamente.
Marta acordou com aquele toque suave, abrindo os olhos e sentindo aquele arrepio dos pés à cabeça, ao ver o olhar dele apaixonado. Teria de conversar com ele sobre o seu passado, concluiu.
- Vocês os dois andaram na borga ontem à noite. – brincou ele, endireitando-se no banco e concentrando-se na condução.
- João, temos de falar. – iniciou Marta, nervosa coma confissão que se seguiria. – Eu não fui totalmente honesta contigo. – disse, olhando-o.
- Então, porquê? – perguntou ansioso com o tom sério da sua voz.
- Eu… estou a recuperar de um longo relacionamento problemático, - engoliu em seco recordando-se de Tiago – que terminou há cinco anos, mas que ainda me pode prejudicar, se não tiver cuidado. – confessou, tremendo ligeiramente das mãos. A primeira parte já estava, faltava o resto.
João deu-lhe a mão, como forma de apoio emocional, sabia o que ela queria confessar, e que não lhe seria fácil, apercebendo-se de repente de que tinham chegado ao destino.
- Olha, chegámos. – disse-lhe animado – Não penses nisso agora, não hoje, nem amanhã. Os nossos fantasmas ficaram em Coimbra, combinado? Quando voltarmos pensamos neles outra vez. – pediu-lhe carinhoso, beijando-lhe a mão e ficando uns segundos perdido no olhar quente que sentiu vindo dela. Se tudo corresse bem, aproveitariam os dois dias apenas com eles, sem Tiagos nem horrores.

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(imagem, internet)

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