Marta
forrou o mais eficazmente possível o banco traseiro do carrão
desportivo para acomodar Filipe, que parecia um Senhor esparramado no
grande espaço, sentando-se em seguida de pernas cruzadas à chinês
no banco do lado do condutor, que se esforçou por não se distrair
com a perna dela demasiado perto da mão poisada na manete das
mudanças. Conversavam animados sobre locais a visitar, naquele
pequeno passeio de fim de semana, quando o ambiente começou a mudar
lentamente. Marta não parava quieta no banco, mostrando perna e mais
perna, e por vezes deixando uma alça cair desajeitadamente do ombro,
revelando pequenos vislumbres de soutien, sem se aperceber do que
fazia, simplesmente descontraída com a música, ou olhando Filipe
com carinho, que dormia que nem um justo. A estrada parecia nunca
mais terminar, e João teve de fazer uma pausa na tortura sensual que
era olhar, e não poder tocar.
-
Vamos parar aqui nesta estação de serviço à frente? Preciso de ir
à casa de banho.
- Ok,
o Filipe também deve precisar de usar os lavabos. – brincou,
endireitando-se no banco e percebendo que ia a mostrar um pouco mais
do que devia. – Desculpa, não dei conta que ia quase a mostrar-te
as cuecas. – disse-lhe, corando.
- Não
faz mal, também já me viste de boxers.
-
Vamos, eu pago o café para me redimir. – sorriu-lhe, saindo do
carro e abrindo a porta ao cão sonolento.
- Um
café e uma nata, no mínimo. – gracejou, abraçando-a
instintivamente com um braço por cima do ombro.
O
resto da viagem foi feito em silêncio, apenas interrompido pelo
ressonar de Filipe, pois Marta deitara o seu banco e acabara por
adormecer profundamente, a meio de uma conversa sobre Ganesha. João
manteve-se pensativo e a passo de caracol, para a poder admirar sem
provocar nenhum acidente. Sentia-se demasiado atraído por ela, por
todas as características que até então conhecia dela; físicas,
emocionais, mentais, tudo lhe agradava naquela mulher e parecia-lhe
tão certo e fácil quando estavam juntos, matutava, ao mesmo tempo
que lhe afagava o cabelo carinhosamente.
Marta
acordou com aquele toque suave, abrindo os olhos e sentindo aquele
arrepio dos pés à cabeça, ao ver o olhar dele apaixonado. Teria de
conversar com ele sobre o seu passado, concluiu.
-
Vocês os dois andaram na borga ontem à noite. – brincou ele,
endireitando-se no banco e concentrando-se na condução.
-
João, temos de falar. – iniciou Marta, nervosa coma confissão que
se seguiria. – Eu não fui totalmente honesta contigo. – disse,
olhando-o.
-
Então, porquê? – perguntou ansioso com o tom sério da sua voz.
- Eu…
estou a recuperar de um longo relacionamento problemático, - engoliu
em seco recordando-se de Tiago – que terminou há cinco anos, mas
que ainda me pode prejudicar, se não tiver cuidado. – confessou,
tremendo ligeiramente das mãos. A primeira parte já estava, faltava
o resto.
João
deu-lhe a mão, como forma de apoio emocional, sabia o que ela queria
confessar, e que não lhe seria fácil, apercebendo-se de repente de
que tinham chegado ao destino.
-
Olha, chegámos. – disse-lhe animado – Não penses nisso agora,
não hoje, nem amanhã. Os nossos fantasmas ficaram em Coimbra,
combinado? Quando voltarmos pensamos neles outra vez. – pediu-lhe
carinhoso, beijando-lhe a mão e ficando uns segundos perdido no
olhar quente que sentiu vindo dela. Se tudo corresse bem,
aproveitariam os dois dias apenas com eles, sem Tiagos nem horrores.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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