quinta-feira, 13 de setembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 13 (2ª parte)




Conseguiram encontrar um veterinário com serviço de urgências 24 horas, e Filipe estava a ser observado com Marta e João do seu lado, abraçados. Já lhe tinham feito rx e o médico preparava-se para lhe colocar uma tala na pata partida. Felizmente não batera com a cabeça ou as costelas, o que teria sido mais difícil de tratar, explicou o veterinário que já tinha visto de tudo naquele rio.
- Mas ele pode ir já connosco? Não precisa de vigilância? Tem a certeza de que só magoou a pata? – perguntava João nervoso.
- Está tudo bem. – acalmou-o o veterinário sorrindo – Agora só precisa de comer, descansar, um comprimido para as dores e mimos.
- Obrigada Dr. – agradeceu Marta, guardando a receita para os analgésicos.
João pegou paternalmente no cão, levando-o até ao carro e acomodando-o com cuidado, para não o magoar.
- Vês? Isto é o que acontece quando não tens juízo… - ralhou Marta na brincadeira, entrando para o carro e colocando o cinto.
- Vais ficar de castigo um mês! Nada de dormir na cama da dona, agora só na almofada do chão. – acrescentou João – E não me olhes assim, estás com a pata partida, não consegues saltar.
- Não me fales em cama…estou estoirada. – disse Marta com o olhar cansado e inchado de tantas horas a chorar.
- Vamos já tratar disso. – acelerou em direção ao hotel.

O funcionário da receção acorreu a abrir-lhes as portas ao ver o grande animal ao colo, ferido. Pareciam ter saído do filme o “Parque Jurássico”, descabelados, sujos e em estado catatónico. Aquela natureza selvagem do Gerês não era para todos, concluiu.
- Boa noite, precisam de alguma coisa? Magoou-se muito?
- Sim, precisamos de comer, podia levar-nos ao quarto um bule com chá de Camomila e umas torradas? – respondeu João, que carregava o enorme cão nos braços e amparava Marta, já a dormir em pé.
- É para já. – disse o rapaz saindo apressado.
Entraram no quarto e João poisou o cão na almofada gigante que tinham colocado no chão, sentando-se estoirado na cama, com os músculos dos braços a tremer do esforço. Marta abraçou-o de pé, encostando a cabeça dele ao seu peito, afagando-lhe o cabelo, carinhosamente. O momento fraterno durou apenas segundos, quando João a abraçou de volta, percorrendo-lhe o corpo com as mãos, suavemente, num movimento lento e sensual. Um bater na porta trouxe-os para a realidade, quebrando o momento, e Marta aproveitou para se soltar dele, não sem antes lhe sussurrar ao ouvido: “já volto, não saias daí…”, dirigindo-se à casa de banho para tirar a sujidade de cima e pensar um pouco sobre o que estava prestes a fazer.
João levantou-se para receber o serviço de quartos e colocou a ceia na mesa do quarto, a sentir uma dormência nervosa carregada de expectativa sobre o que estava para acontecer, esforçando-se para não invadir o banho dela. Filipe perseguia-o com o olhar, atento aos seus movimentos neuróticos, com curiosidade, abanando a cauda, como se o entendesse nos dilemas masculinos.
- Também gostas dela, não é? – perguntou-lhe João suspirando. – Eu compreendo-te.
Marta surgiu enrolada num robe fofo, com os cabelos molhados e de aspeto bem mais recomposto, sorrindo-lhes e sentando-se à mesa, servindo-se de chá.
- Eu espero por ti, vai tomar banho. Só não gosto do chá muito forte. – disse-lhe com o olhar quente que derreteu os ossos de João, aparvalhado com a beleza dela tão simples acabada de sair do duche.
Decidiu esticar um pouco as pernas, deitando-se na cama, exausta e fechou os olhos momentaneamente, ouvindo-o a mexer-se na divisão ao lado, imaginando o que estaria a fazer. Conseguia vê-lo a despir-se, deixar tudo espalhado no chão para depois ela apanhar, o que a fez sorrir, a ligar a água, entrar na cabine de duche, a ficar demasiado tempo com os olhos fechados e a cabeça debaixo de água, a finalmente se ensaboar, tirar o sabão, desligar a água, molhar a roupa toda do chão à procura do robe que obviamente não levara para perto do duche, a pentear os cabelos com os dedos, desajeitadamente, a abrir a porta da casa de banho e ficar a olhá-la em silêncio.
João tapou-a e beijou-lhe a cara em vários sítios; dormia profundamente, sem reagir, constatou embevecido. Filipe começou a gemer, tentando levantar-se, inquieto e João percebeu a intenção do cão, queria adormecer no seu local preferido, junto dela. Juntou a sua cama à dela, pegou no cão e colocou-o com cuidado no meio das duas camas, ao fundo dos pés, deitando-se de seguida do seu lado da cama, a admirar Marta. Gostava cada vez mais dela… Abraçou-a, a sentir-se amolecer, dividido entre a vontade de a espremer contra si e o bom senso de se manter respeitoso. Filipe resolveu-lhe a questão, arrastando-se lentamente para o cimo da cama, enfiando-se submisso entre eles os dois, e João abraçou-os, a sorrir.

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