Conseguiram
encontrar um veterinário com serviço de urgências 24 horas, e
Filipe estava a ser observado com Marta e João do seu lado,
abraçados. Já lhe tinham feito rx e o médico preparava-se para lhe
colocar uma tala na pata partida. Felizmente não batera com a cabeça
ou as costelas, o que teria sido mais difícil de tratar, explicou o
veterinário que já tinha visto de tudo naquele rio.
- Mas
ele pode ir já connosco? Não precisa de vigilância? Tem a certeza
de que só magoou a pata? – perguntava João nervoso.
-
Está tudo bem. – acalmou-o o veterinário sorrindo – Agora só
precisa de comer, descansar, um comprimido para as dores e mimos.
-
Obrigada Dr. – agradeceu Marta, guardando a receita para os
analgésicos.
João
pegou paternalmente no cão, levando-o até ao carro e acomodando-o
com cuidado, para não o magoar.
-
Vês? Isto é o que acontece quando não tens juízo… - ralhou
Marta na brincadeira, entrando para o carro e colocando o cinto.
-
Vais ficar de castigo um mês! Nada de dormir na cama da dona, agora
só na almofada do chão. – acrescentou João – E não me olhes
assim, estás com a pata partida, não consegues saltar.
- Não
me fales em cama…estou estoirada. – disse Marta com o olhar
cansado e inchado de tantas horas a chorar.
-
Vamos já tratar disso. – acelerou em direção ao hotel.
O
funcionário da receção acorreu a abrir-lhes as portas ao ver o
grande animal ao colo, ferido. Pareciam ter saído do filme o “Parque
Jurássico”, descabelados, sujos e em estado catatónico. Aquela
natureza selvagem do Gerês não era para todos, concluiu.
- Boa
noite, precisam de alguma coisa? Magoou-se muito?
-
Sim, precisamos de comer, podia levar-nos ao quarto um bule com chá
de Camomila e umas torradas? – respondeu João, que carregava o
enorme cão nos braços e amparava Marta, já a dormir em pé.
- É
para já. – disse o rapaz saindo apressado.
Entraram
no quarto e João poisou o cão na almofada gigante que tinham
colocado no chão, sentando-se estoirado na cama, com os músculos
dos braços a tremer do esforço. Marta abraçou-o de pé, encostando
a cabeça dele ao seu peito, afagando-lhe o cabelo, carinhosamente. O
momento fraterno durou apenas segundos, quando João a abraçou de
volta, percorrendo-lhe o corpo com as mãos, suavemente, num
movimento lento e sensual. Um bater na porta trouxe-os para a
realidade, quebrando o momento, e Marta aproveitou para se soltar
dele, não sem antes lhe sussurrar ao ouvido: “já volto, não
saias daí…”, dirigindo-se à casa de banho para tirar a sujidade
de cima e pensar um pouco sobre o que estava prestes a fazer.
João
levantou-se para receber o serviço de quartos e colocou a ceia na
mesa do quarto, a sentir uma dormência nervosa carregada de
expectativa sobre o que estava para acontecer, esforçando-se para
não invadir o banho dela. Filipe perseguia-o com o olhar, atento aos
seus movimentos neuróticos, com curiosidade, abanando a cauda, como
se o entendesse nos dilemas masculinos.
-
Também gostas dela, não é? – perguntou-lhe João suspirando. –
Eu compreendo-te.
Marta
surgiu enrolada num robe fofo, com os cabelos molhados e de aspeto
bem mais recomposto, sorrindo-lhes e sentando-se à mesa, servindo-se
de chá.
- Eu
espero por ti, vai tomar banho. Só não gosto do chá muito forte. –
disse-lhe com o olhar quente que derreteu os ossos de João,
aparvalhado com a beleza dela tão simples acabada de sair do duche.
Decidiu
esticar um pouco as pernas, deitando-se na cama, exausta e fechou os
olhos momentaneamente, ouvindo-o a mexer-se na divisão ao lado,
imaginando o que estaria a fazer. Conseguia vê-lo a despir-se,
deixar tudo espalhado no chão para depois ela apanhar, o que a fez
sorrir, a ligar a água, entrar na cabine de duche, a ficar demasiado
tempo com os olhos fechados e a cabeça debaixo de água, a
finalmente se ensaboar, tirar o sabão, desligar a água, molhar a
roupa toda do chão à procura do robe que obviamente não levara
para perto do duche, a pentear os cabelos com os dedos,
desajeitadamente, a abrir a porta da casa de banho e ficar a olhá-la
em silêncio.
João
tapou-a e beijou-lhe a cara em vários sítios; dormia profundamente,
sem reagir, constatou embevecido. Filipe começou a gemer, tentando
levantar-se, inquieto e João percebeu a intenção do cão, queria
adormecer no seu local preferido, junto dela. Juntou a sua cama à
dela, pegou no cão e colocou-o com cuidado no meio das duas camas,
ao fundo dos pés, deitando-se de seguida do seu lado da cama, a
admirar Marta. Gostava cada vez mais dela… Abraçou-a, a sentir-se
amolecer, dividido entre a vontade de a espremer contra si e o bom
senso de se manter respeitoso. Filipe resolveu-lhe a questão,
arrastando-se lentamente para o cimo da cama, enfiando-se submisso
entre eles os dois, e João abraçou-os, a sorrir.
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(imagem, internet)
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