quinta-feira, 8 de novembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 21 (5ª parte)




Despiu-se rapidamente e exibiu orgulhoso toda a sua excitação ao espelho, sentindo-se bem animado com a vida, pela primeira vez há muito tempo. Uma leve culpa de estar a trair a namorada tentava entrar na sua cabeça, mas João não se sentia minimamente ligado à mulher que batia portas na cozinha. No fundo, e para sua desculpa interna, ele nem a conhecia. Mas a Ganesha era diferente, trazia-lhe uma sensação de paixão que o fazia querer ser solteiro, livre e desimpedido. Não podia ser coincidência. Se ele tinha uma amante hindú teria de haver um motivo muito forte, e a Isabel tinha de ter defeitos que o levassem a olhar para outra, dizia a si mesmo. Entrou no banho, sempre de olho no telefone, tornou a imaginar aquele corpo junto ao seu, tão sedoso, a escorregar facilmente no seu, a espuma a cair devagar pelas curvas suaves, a beijar-lhe as nádegas... o telemóvel apitou e João tirou o sabão rapidamente, secando-se a seguir atabalhoadamente, só o suficiente para não estragar o telefone. "Se pedes assim, com tanta educação... Já estás em casa?" um arrepio fez-lhe regressar a excitação, será que ela iria propor aparecer-lhe ali...? em sua casa? Teria de encontrar uma forma de se livrar da namorada, disse a si mesmo decidido. "Estou. Estive a tomar banho,... e acho que eras tu que me estavas a esfregar as costas..." riu-se com a sua ousadia. Saiu para o quarto em busca de uma roupa lavada, sempre sem tirar o sorriso do rosto, abriu todas as gavetas que lhe pareciam um local coerente para arrumar boxers, vestiu a roupa interior e continuou a abrir portas e gavetas, sem saber bem o que vestir, confuso com tanto fato e tão pouca coisa prática para andar por casa. Uma gaveta resistia em abrir, e João precisou usar de toda a perícia dos dedos para desentalar o que lhe parecia ser um livro a trancar a abertura, abrindo-a com esforço. Pegou no livro, bastante curioso, achava aquele um sítio bizarro para guardar literatura, junto às camisolas de inverno, ficando meio perplexo a ler a capa "Sexo Tântrico"... abriu-o e algo em si estremeceu ao ler escrito a lápis "Marta 2012". Já era a segunda Marta que lhe surgia na sua recente vida consciente, não poderiam ser a mesma, com toda a certeza, pensava confuso. Um quebra cabeças complicava-se a cada dia que passava, havia uma Isabel, uma Ganesha, uma Marta enfermeira e uma Marta que lhe emprestara aquele livro. Outra mensagem surgia no telemóvel poisado em cima da cama, e João sentou-se com o livro numa das mãos e o telefone noutra, cada vez mais intrigado com aqueles factos novos. "Quando saíres do banho vai até à estante embutida do lado esquerdo. Na prateleira mais alta, ao fundo, encontras-me." Deu um salto automático, como se fosse aquela uma ordem inquestionável, percorreu a prateleira com a mão e algo duro e frio lhe surgiu bem ao fundo, como se ali tivesse sido colocado propositadamente escondido do campo de visão. Pegou-lhe e deixou-se ficar uns segundos a olhar a pequena estátua de um elefante cheio de braços, uma mistura de fofice com excentricidade, uma imagem que já tinha visto quando fez a pesquisa da palavra "ganesha" na internet. Teria sido ela a colocar ali a estátua? A ideia de que já ali tinha andado no seu quarto aquela mulher misteriosa era tão excitante que tornou a fechar-se na casa de banho para continuar a conversa. Pensou no que lhe haveria de dizer... tinha tantas perguntas que seria difícil escolher uma. "Já aqui estás na minha mão... O que queres de mim?" Engoliu em seco e poisou a imagem no lavatório, desfolhando o livro que lhe parecia um ótimo prenúncio para toda aquela realidade hindú que surgia na sua vida. Posições e teorias sobre como prolongar orgasmos, durante horas!, constatou maravilhado, parecia o sonho de qualquer um, se com a mulher das pernas bonitas, claro. Já tinha pensado várias vezes como faria para lidar com a intimidade com a namorada, que mesmo bonita e sexy não lhe parecia nada o seu género de mulher. Não que lhe parecesse um castigo, afinal já há muito tempo que estava sem sexo, segundo a lógica, mas tinha-se apanhado diversas noites a matutar nessa questão. Os beijos ocasionais que Isabel lhe dava não o faziam sentir nada de especial, e para ser sincero consigo mesmo a massagem da enfermeira Marta tinha-o arrepiado mais... Mas talvez estivesse na hora de perceber se a namorada o conseguiria fazer esquecer a amante, pensou decidido. Iria aproveitar aquela excitação que sentia para tirar as suas dúvidas. Saiu da casa de banho e deixou tudo espalhado pelo quarto, tinha um objetivo em mente e teria de se despachar antes que lhe passasse o rancor. Entrou pela sala e abraçou Isabel, que se sobressaltou com aquela abordagem tão atípica.
- Sabes o que gostava de experimentar? - disse-lhe ao ouvido.
- Bem, acho que consigo adivinhar... mas assim? Antes de comer? - reagiu confusa e ligeiramente contrariada.
- O almoço ainda deve demorar a chegar... - sussurrou antes de a beijar.
Nélia correspondeu o beijo o mais naturalmente possível, pensado em mil e uma formas de conseguir safar-se daquela. Não esperava nada ter de começar logo naquele dia as funções de namorada. - João, ainda estás fraco.... - ronronou tentando libertar-se dele suavemente.
- Eu aguento. - puxou-a por um braço e encaminhou-a ao quarto, sentando-se na borda da cama e apertando-a contra si. - Tens de me mostrar como é que antigamente fazíamos isto. - desafiou-a sorrindo.
- Ok, mas rápido. - disse secamente, sorrindo de volta contrariada. Deitou-o para trás e dedicou-se o mais que conseguiu a fingir excitação, representar papéis sempre tinha sido uma das suas atividades favoritas, mas aquele era difícil, ainda não se esquecera da humilhação que passara naquele quarto há algum tempo atrás. Continuou a sua cena de casal apaixonado, e sentia-o já bem dominado, aquilo seria mais rápido, constatou aliviada. Tirou a camisola e usou de todos os seus atributos para o enlouquecer, resultava sempre, olhando em volta indolentemente. Viu bem perto da cabeça dele o telemóvel a vibrar, aproximou-se do aparelho, certificando-se de que João estava distraído e abriu a mensagem que tinha chegado. "Quero que voltes para mim... procura-me" Uma raiva apoderou-se dela, cegando-a, num ciúme azedo que lhe invadiu a garganta. O nojento tinha estado escondido às mensagens com outra e agora aliviava-se nela... novamente usada como uma puta, pensou amargurada, enquanto João lhe despia as calças e a roupa interior. Carregou no botão de chamada e colocou o telemóvel novamente na cama, agora era esperar a sonsa atender e estava resolvida a questão. - João... agora, agora! - gemeu Nélia, fingindo-se a enlouquecer de prazer, caprichando nos sons. João obedeceu-lhe e fizeram amor como se não houvesse amanhã, sem inibições de qualquer espécie, levados pelo calor do momento. - Diz o meu nome! - gritou Nélia acelerando o ritmo dos dois propositadamente, já consciente de que a chamada estava a ser ouvida há alguns segundos. - Isabel... - sussurrou meio a contragosto. - Mais alto! - grunhiu alternado com sons de prazer teatralizados – Isabel!

Janota entrou na sala e sentou-se no cadeirão em frente a Isabel que chorava silenciosamente no sofá. Não sabia bem o que dizer, mas suspeitava que o motivo teria o nome de João. Isabel colocou o telemóvel na mesinha no meio dos dois e olhou para o chão sem conseguir encarar o amigo. Janota estendeu-lhe a mão e puxou-a suavemente para si. Queria consolá-la, tirar-lhe aquela dor do peito, aquele homem do coração. Sentou-a no seu colo e deixou-a chorar, sem dizer nada. Estaria sempre ali para a ajudar.

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(imagem, internet)

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