- É isto que agora vais ser? Amante
deste tipo? - perguntou Janota possuído pelo ciúme de os imaginar
intimamente momentos antes de ele chegar.
- Não é da tua conta! -
respondeu-lhe furiosa com aquela abordagem.
- Isabel, pensa bem, ele tem uma
namorada que vive com ele. Se lhe começas a abrir a porta de casa,
antes de esclareceres tudo primeiro, vais ser a "outra"! -
argumentou, preocupado com o avanço que João fazia na vida de
Isabel.
- Eu sei isso tudo, mas desculpa, são
assuntos meus. - apressou-se a explicar. Começava a ficar aborrecida
com aquelas opiniões do amigo. Sentia-o demasiado possessivo
relativamente a ela e um fantasma de Tiago ameaçava a espreitar,
regelando-a.
- Eu sou apenas teu amigo, estou
preocupado. Encontrei-o à saída, o que foi que se passou? Ele já
aqui estava há muito tempo?
- Janota, eu também tenho uma
pergunta para ti. Ou melhor, duas! Porque é que me beijaste no bar?
E porque é que estás aqui na minha quinta a espiar quem entra ou
sai, às 2h00 da manhã?
- Não estava a espiar. - respondeu
ofendido. - E beijei-te para mostrar ao João que não precisas dele.
- Ele nem sabe quem eu sou! -
berrou-lhe – Sente-se atraído por mim, pensa que sou a enfermeira
que o visitou, nunca o esclareci de nada sobre nós! E quem és tu
para achar que te deves meter e mostrar seja o que for ao João?
Estou farta! Farta disto tudo, farta de Coimbra, farta desta
montanha-russa de emoções e de escândalos! Não gosto de me sentir
vigiada, - apontou-lhe o dedo – fugi de Castelo Branco para ser
livre! Sabes o que é que eu passei antes de me vir esconder aqui?
Deixei de obedecer a um pai, que nunca me bateu, para receber ordens
de um namorado e ser espancada por um marido. Consegui libertar-me
disso tudo e encontrar-me novamente nesta casa, neste local, mas
agora nem aqui me deixam em paz! Eu amo-o, percebes? Ele é o meu
homem, disso não tenho dúvidas, e não vou querer mais ninguém!
Mete isso na tua cabeça. E desculpa se tinhas esperanças
relativamente a nós dois, mas isso nunca vai acontecer. Adoro-te, és
um bom amigo, o melhor que já tive, mas estás a piorar tudo. -
gemeu, já a sentir-se quase prestes a rebentar em choro. - Estou
farta... não quero mais isto. Sai por favor, preciso de descansar. -
pediu-lhe, derrotada e exausta com todas aquelas emoções.
- Isabel, por favor, desculpa-me. -
tentou abraçá-la, ouvindo um pequeno rosnar vindo da cozinha, a
avisá-lo de que não deveria forçá-la a esse gesto. Janota olhou o
cão com raiva, voltando-se novamente para ela.
- Sai. Está tarde. Por favor.
Janota saiu e Isabel trancou a porta,
aliviada. Pegou no pequeno cão e beijou-lhe a cabeça.
- Obrigada por me defenderes. -
sorriu-lhe e levou-o para o quarto. - Amanhã vamos embora daqui,
isto está a ficar perigoso e ainda és muito pequeno para andar à
luta com um homem tão grande. A mamã adora-te, sabias? - deitou-se
e deixou Filipe enfiar-se também dentro dos lençóis junto a ela. -
Só hoje, porque mereces.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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