terça-feira, 20 de novembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 22 (5ª parte)




- É isto que agora vais ser? Amante deste tipo? - perguntou Janota possuído pelo ciúme de os imaginar intimamente momentos antes de ele chegar.
- Não é da tua conta! - respondeu-lhe furiosa com aquela abordagem.
- Isabel, pensa bem, ele tem uma namorada que vive com ele. Se lhe começas a abrir a porta de casa, antes de esclareceres tudo primeiro, vais ser a "outra"! - argumentou, preocupado com o avanço que João fazia na vida de Isabel.
- Eu sei isso tudo, mas desculpa, são assuntos meus. - apressou-se a explicar. Começava a ficar aborrecida com aquelas opiniões do amigo. Sentia-o demasiado possessivo relativamente a ela e um fantasma de Tiago ameaçava a espreitar, regelando-a.
- Eu sou apenas teu amigo, estou preocupado. Encontrei-o à saída, o que foi que se passou? Ele já aqui estava há muito tempo?
- Janota, eu também tenho uma pergunta para ti. Ou melhor, duas! Porque é que me beijaste no bar? E porque é que estás aqui na minha quinta a espiar quem entra ou sai, às 2h00 da manhã?
- Não estava a espiar. - respondeu ofendido. - E beijei-te para mostrar ao João que não precisas dele.
- Ele nem sabe quem eu sou! - berrou-lhe – Sente-se atraído por mim, pensa que sou a enfermeira que o visitou, nunca o esclareci de nada sobre nós! E quem és tu para achar que te deves meter e mostrar seja o que for ao João? Estou farta! Farta disto tudo, farta de Coimbra, farta desta montanha-russa de emoções e de escândalos! Não gosto de me sentir vigiada, - apontou-lhe o dedo – fugi de Castelo Branco para ser livre! Sabes o que é que eu passei antes de me vir esconder aqui? Deixei de obedecer a um pai, que nunca me bateu, para receber ordens de um namorado e ser espancada por um marido. Consegui libertar-me disso tudo e encontrar-me novamente nesta casa, neste local, mas agora nem aqui me deixam em paz! Eu amo-o, percebes? Ele é o meu homem, disso não tenho dúvidas, e não vou querer mais ninguém! Mete isso na tua cabeça. E desculpa se tinhas esperanças relativamente a nós dois, mas isso nunca vai acontecer. Adoro-te, és um bom amigo, o melhor que já tive, mas estás a piorar tudo. - gemeu, já a sentir-se quase prestes a rebentar em choro. - Estou farta... não quero mais isto. Sai por favor, preciso de descansar. - pediu-lhe, derrotada e exausta com todas aquelas emoções.
- Isabel, por favor, desculpa-me. - tentou abraçá-la, ouvindo um pequeno rosnar vindo da cozinha, a avisá-lo de que não deveria forçá-la a esse gesto. Janota olhou o cão com raiva, voltando-se novamente para ela.
- Sai. Está tarde. Por favor.
Janota saiu e Isabel trancou a porta, aliviada. Pegou no pequeno cão e beijou-lhe a cabeça.
- Obrigada por me defenderes. - sorriu-lhe e levou-o para o quarto. - Amanhã vamos embora daqui, isto está a ficar perigoso e ainda és muito pequeno para andar à luta com um homem tão grande. A mamã adora-te, sabias? - deitou-se e deixou Filipe enfiar-se também dentro dos lençóis junto a ela. - Só hoje, porque mereces.

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(imagem, internet)

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