sexta-feira, 1 de março de 2019

"A Mala Vermelha" - Cap 25 (4ª parte)



Nélia respirou de alivio, quase que o seu dia acabava mal, mesmo antes de começar. Pensou rapidamente no que poderia dizer a João, se ele percebesse que tinha estado a chorar, ou andasse à sua procura. Um leve tremor nas mãos não a deixava pensar claramente, passou as mãos pelo cabelo, respirou fundo algumas vezes e saiu do vão das escadas, apressando-se a entrar no apartamento. Constatou que ainda estava escuro e sem sinais de João, e relaxou, tratando de se ir recompor na casa de banho. Ele deveria estar a chegar, e queria muito que a beijasse novamente como de manhã cedo quando o foi ver à esquadra. Passou uma base leve na zona dos olhos, eliminando qualquer vestígio de vermelhidão e passou um gloss nos lábios, ganhando instantaneamente coragem para o seduzir. Ajeitou o peito generoso na blusa e saiu para a zona comum da casa, onde já ouvia barulhos. Quando entrou na sala sentiu as mãos frouxas e um formigueiro na barriga, João olhava-a como nunca tinha sido olhada, estacou confusa, dominada pela intensidade com que ele a observava.
- O que foi?... - perguntou ansiosa, com a respiração acelerada.
- Temos perdido tanto tempo, querida... - disse, caminhando na direção dela, e largando tudo o que trazia nas mãos. Sempre ali estivera aquela mulher e só agora a via. Isabel deu alguns passos atrás, o que o excitou, gostava particularmente de a ver desarmada, sem aquela arrogância que a caracterizava. Assim que a alcançou tirou a t-shirt e encostou-a a si, se Isabel continuasse assim, com o olhar perdido, talvez a conseguisse amar. Beijou-a devagar, em adoração, queria muito amá-la, sentia saudades daquilo, de fazer amor. Lembrava-se todos os dias do beijo que tinha dado a Marta, de como fora doce e forte, e queria conseguir fazê-lo com Isabel. Precisava disso. Conduziu-a ao quarto, cada vez mais convencido de que ia esquecer a pele quente e macia que sentira debaixo do roupão de Marta, a suavidade da sua boca e o cheiro a flores. O perfume de Isabel sobrepunha-se às suas memórias, e toda a voluptuosidade da namorada lhe quebrava a ideia da forma do corpo de Marta, trazendo-o forçosamente para aquele quarto cinzento. Olhou-a uns segundos, parando para assimilar tudo aquilo, mas Isabel era impetuosa, e parecia precisar ainda mais dele, o que o reconduziu ao momento. Despiram o que restava das roupas, e João decidiu não abrir mais os olhos, permitindo-se senti-la sem imagens, limitando assim um dos sentidos e concentrando-se no sexo. Sabia que não seria difícil terminar o que ele mesmo começara, e esforçou-se por corresponder, para não ser demasiado rápido e satisfazê-la convenientemente. Perguntava-se porque continuava a teorizar aquele momento, e racionalizar o que não era racional, abriu ligeiramente os olhos mas fechou-os logo de seguida, ligeiramente incomodado com a cara de prazer de Isabel. Aquilo não o excitava como devia, lamentou-se, mudando de posição pois estava quase lá e ainda era cedo. Tinha-a levado para o quarto, não a podia desiludir, pensou, retomando o ritmo. Isabel estremeceu debaixo de si e João suspirou de alívio, terminando também a sua prestação. Deixou-se ficar alguns segundos a prolongar a união dos dois, permitindo que ela se acalmasse e aproveitando o momento em que não tinha de fingir nada.
- João, abraça-me com força... - pediu, enternecida com tudo o que tinha acontecido. Fora sem dúvida um ato de amor, como nunca experimentara antes. - Estás bem? - perguntou-lhe, preocupada com o silêncio dele.
- Sim, querida. - beijou-a na testa, da forma mais carinhosa que conseguiu, a sentir-se um traste. - Queres almoçar aqui em casa, ou comemos pelo caminho? - lançou, a tentar despachar a conversa melosa que antevia. - Ainda vai demorar um bocadito até chegarmos ao Gerês... posso preparar-te qualquer coisa...
- Eu faço! - respondeu decidida e animada. - Mas antes vamos tomar banho? - sorriu-lhe provocadoramente. Agora que experimentara aquele tipo de sexo com sentimentos queria mais, muito mais. E ele também parecia querer, percebeu pela reação física instantânea que aquela pergunta lhe causara.
- Sim, claro. Vai andando que vou procurar toalhas para nós. - balbuciou com a garganta a secar. Não sabia bem porquê, mas o seu corpo parecia não corresponder à cabeça, racionalmente fugiria daquela proposta, mas a falta de intimidade dos últimos tempos pareciam dominar o seu sexo. Limpou a palma das mãos às coxas, enquanto Isabel desaparecia em direção à casa de banho, engoliu em seco e procurou as toalhas, enquanto respirava profunda e compassadamente. “Om... Shanti...” disse a si mesmo, surpreendendo-se com aquelas palavras. Mas pareciam funcionar, “Om...Shanti...Om...”, repetiu, já a caminho do duche. Entrou e a visão daquela mulher toda só o fez ficar mais ansioso. Isabel agarrou-se-lhe ao pescoço e calou as vozes estranhas, reclamando-o de forma demasiado intensa. Fez-lhe a vontade, esforçando-se por ser convincente e despachou o sexo. Queria mesmo comer qualquer coisa e conduzir durante umas horas. Certamente que Isabel não o iria perturbar pelo caminho, com um bocado de sorte adormecia e ele podia ouvir música e pensar. A ideia de ir ao Gerês passar uns dias surgira-lhe do nada, mas a cada minuto que passava tornava-se mais penosa. Já não tinha bem a certeza de que queria ficar longe de Coimbra com uma namorada apaixonada, e sem conseguir sentir nada por ela.

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