sexta-feira, 8 de março de 2019

"A Mala Vermelha" - Cap 25 (6ª parte)



- Tu, o quê? - surpreendeu-se Elisabete ao ouvir as confissões do marido enquanto almoçavam.
- Lisa, não sei o que me deu...- balbuciou nervoso com o semblante zangado da mulher - Mas ela ainda gosta tanto dele, dá para perceber... se aguentasse por aqui mais uns diazitos... ele de certeza que vai “acordar” para a vida entretanto! - tratou de argumentar, tentando redimir-se - Sabes perfeitamente que ele vai procurá-la quando isso acontecer. Só queria garantir que ela não desaparecia sem deixar rasto.
- Francamente César! Isso nem parecem coisas tuas. Manipular situações e forçar acontecimentos... Sabes tão bem quanto eu que ele namora com aquela tipa, e não devem andar só de mãos dadas! E queres que a Isabel fique tipo freira no convento, à espera que o milagre se dê?, enquanto o João vive com outra? - berrou - Eu nem te reconheço... Sinceramente, nem sei como tiveste coragem de lhe dizer uma coisa dessas... - acrescentou já com um tom de desilusão que sabia que perturbaria o marido.
- Agora já está... - redimiu-se, constrangido.
- Pois está, está! - levantou-se e pegou no telemóvel, procurando o número de Isabel, e estendendo o aparelho ao marido, que ficou de olhos arregalados atónito de surpresa. - Vamos! Pede-lhe desculpa e diz-lhe o que sabes ser o mais acertado. César, a Isabel é uma mulher boa, não merece nada disto, diz-lhe isso. Diz-lhe para seguir com a vida dela, ela precisa disso. Não deixes que o amor que tens pelo João te ponha cego. - esticou mais a mão e o marido pegou no aparelho relutantemente, carregando no botão de chamada.
- Estou?, Isabel?, Olá, é o César... Sim, este telefone é o da Lisa... - levantou-se da cadeira, a sentir-se corar, desajeitado e comprometido. - Bem, estou a ligar-te para... lamentar o que te disse hoje cedo... sabes, falei sem pensar... e fiquei incomodado com isso, não ficava bem comigo próprio se não te dissesse que... sim, eu gosto muito do João, é um facto... mas também gosto muito de ti... e bem, deves seguir com a tua vida, mereces ser feliz... é claro que não deves ficar com esperanças de que o João volte a correr... e se recorde de tudo, pois claro. - atrapalhava-se cada vez mais, a sentir-se observado pela mulher.- E pronto, basicamente era isto que te queria dizer... espero que sejas muito feliz... e pronto... Serão entregues... claro, beijinhos também da Lisa para ti... e felicidades... adeus, adeus... até um dia.- desligou o telefonema encarando a mulher que sorria com malícia. - Então? Que mudança brusca é essa? Porque sorris assim?.... Lisa? O que foi? - sentia-se confuso.
- Ai, que anjinho que tu és... homem de Deus... - soltou uma gargalhada sonora, satisfeita com o sucesso que tinha sido aquele telefonema. - Desculpa César, mas eu não sei como podes ser um psiquiatra tão aclamado... às vezes és um bocadinho lento, não? - deu-lhe um beijo na bochecha - Queres café?
- Lisa, tu fizeste de propósito, não foi? Não ficaste nada zangada comigo, querias é que eu manipulasse a Isabel mas de outra forma, do modo reactivo... - foi pensando em voz alta, incrédulo com a mulher - Porque agora ela vai querer ficar... porque eu lhe sugeri que fosse ser feliz! - concluiu espantado - Lisa, tu és um génio.

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(imagem, internet)

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