- Bom dia. Polícia
de Segurança Pública, Comandante Santos. Posso entrar?
- Bom dia, claro,
entre. - João sentiu as pernas estremecer ao perceber que tinha
chegado ao fim a sua fantasia, mas ser logo visitado pelo Comandante
é que não estava à espera. - Posso ajudá-lo?
- Deve! Estão lá
fora alguns colegas meus a recolher informações para a proprietária
desta quinta, mas queria falar consigo em privado, antes de sairmos.
- Ok, faça o
favor. - indicou-lhe um lugar no sofá e sentou-se no cadeirão, sem
perder a compustura.
- Primeiro, qual é
o seu nome? - pegou num bloco e caneta e esperou a resposta de mão
em riste. Já não fazia aquilo há muito tempo, temia que o rapaz
percebesse.
- João Marques.
Sou amigo da proprietária, a Marta, não entendo o que se possa
estar a passar.
- Sr João
Marques, a proprietária desta casa e terreno é a Sra Isabel Fontes
Pereira e Melo, e foi ela quem nos denunciou que havia um homem
desconhecido a viver na sua casa, que recentemente abandonou para ir
viver com a família. Não sei quem é a Marta, deixemo-nos de
mentiras. - olhou-o interrogativamente – Porque é que arrombou a
porta desta casa? O que realmente anda aqui a fazer? Tem alguma
justificação válida e coerente para estar a invadir propriedade
alheia? É que me parece que se meteu em trabalhos.
- Isabel?... - era
a segunda pessoa que o desmentia e chamava a Marta de Isabel, mas
desta vez com apelido, e pomposo. Mas quantas Isabéis havia na sua
vida? A namorada, a da mala de quem se recordara no bar e agora a do
roupão e beijo escaldante. Levantou-se do cadeirão, confuso,
dirigindo-se às molduras da estante, olhou-a nas várias situações
ilustradas, nas aulas de yoga, com um cão enorme, agarrada a uma
senhora de idade, pegou numa delas e mostrou-a ao polícia que o
observava com alguma desconfiança e cautela. - Esta não é a Marta?
- Meu Sr,
acalme-se, assim não vamos a lado nenhum. Como compreende, eu nunca
vi a Sra Isabel Fontes Pereira e Melo, não lhe sei responder.
Sente-se, por favor. Porque é que está a viver nesta casa? -
começava a suspeitar que dali iam até à urgência da psiquiatria e
não para a esquadra.
- Eu ia vender os
legumes ao Botânico... - foi o que conseguiu responder, de moldura
na mão, atónito. Mas ela tinha feito queixa dele... porquê?
- Bem, acho que
não tenho mais perguntas. Por favor acompanhe-me até à esquadra,
preciso de recolher o seu depoimento oficial e pedir uma avaliação
técnica. - levantou-se e fez-lhe sinal para que saísse da casa,
fechando tudo e trancando a porta, guardando a chave no bolso. - Este
é o seu carro? - perguntou espantado com a viatura – Quer levá-lo
até à esquadra? Talvez seja melhor... empreste-me a chave que faço
esse favor. - entrou no bmw satisfeito, adorava um bom carro, sempre
desejara comprar um daqueles, mas nunca conseguira convencer a
mulher.
- Estou?... Sim,
sou eu... Como assim, preso?... Claro, vou aí imediatamente. - César
desligou o telefonema furioso. - Preso! Agora foi preso!! - berrou,
olhando para Lisa com cara de poucos amigos. - Às vezes pergunto-me
porque nunca tivemos filhos, aí está a resposta! Para não passar
por coisas destas! É por estas e por outras que um casal decide
conscientemente viver sem crianças. Para ter paz de espírito! Mas
nem assim, bolas! - deixou a mulher sozinha a tomar o pequeno almoço
e saiu disparado para o quarto. - O João está a passar todas as
marcas! Ainda o vou internar outra vez, e compulsivamente!! - gritou
na direção da sala. - Sinceramente, e dá o meu número de
telemóvel para o ir socorrer! Ele vai ver, vai ouvi-las! -
praguejava enquanto se vestia atabalhoadamente – Quase com 40 anos,
caramba, um homem feito. - entrou novamente na sala, deu um beijo à
mulher, que o observava com algum humor, pegou nas chaves e saiu,
batendo a porta.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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