segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

"A Mala Vermelha" - Cap 24 (5ª parte)





- Bom dia. Polícia de Segurança Pública, Comandante Santos. Posso entrar?
- Bom dia, claro, entre. - João sentiu as pernas estremecer ao perceber que tinha chegado ao fim a sua fantasia, mas ser logo visitado pelo Comandante é que não estava à espera. - Posso ajudá-lo?
- Deve! Estão lá fora alguns colegas meus a recolher informações para a proprietária desta quinta, mas queria falar consigo em privado, antes de sairmos.
- Ok, faça o favor. - indicou-lhe um lugar no sofá e sentou-se no cadeirão, sem perder a compustura.
- Primeiro, qual é o seu nome? - pegou num bloco e caneta e esperou a resposta de mão em riste. Já não fazia aquilo há muito tempo, temia que o rapaz percebesse.
- João Marques. Sou amigo da proprietária, a Marta, não entendo o que se possa estar a passar.
- Sr João Marques, a proprietária desta casa e terreno é a Sra Isabel Fontes Pereira e Melo, e foi ela quem nos denunciou que havia um homem desconhecido a viver na sua casa, que recentemente abandonou para ir viver com a família. Não sei quem é a Marta, deixemo-nos de mentiras. - olhou-o interrogativamente – Porque é que arrombou a porta desta casa? O que realmente anda aqui a fazer? Tem alguma justificação válida e coerente para estar a invadir propriedade alheia? É que me parece que se meteu em trabalhos.
- Isabel?... - era a segunda pessoa que o desmentia e chamava a Marta de Isabel, mas desta vez com apelido, e pomposo. Mas quantas Isabéis havia na sua vida? A namorada, a da mala de quem se recordara no bar e agora a do roupão e beijo escaldante. Levantou-se do cadeirão, confuso, dirigindo-se às molduras da estante, olhou-a nas várias situações ilustradas, nas aulas de yoga, com um cão enorme, agarrada a uma senhora de idade, pegou numa delas e mostrou-a ao polícia que o observava com alguma desconfiança e cautela. - Esta não é a Marta?
- Meu Sr, acalme-se, assim não vamos a lado nenhum. Como compreende, eu nunca vi a Sra Isabel Fontes Pereira e Melo, não lhe sei responder. Sente-se, por favor. Porque é que está a viver nesta casa? - começava a suspeitar que dali iam até à urgência da psiquiatria e não para a esquadra.
- Eu ia vender os legumes ao Botânico... - foi o que conseguiu responder, de moldura na mão, atónito. Mas ela tinha feito queixa dele... porquê?
- Bem, acho que não tenho mais perguntas. Por favor acompanhe-me até à esquadra, preciso de recolher o seu depoimento oficial e pedir uma avaliação técnica. - levantou-se e fez-lhe sinal para que saísse da casa, fechando tudo e trancando a porta, guardando a chave no bolso. - Este é o seu carro? - perguntou espantado com a viatura – Quer levá-lo até à esquadra? Talvez seja melhor... empreste-me a chave que faço esse favor. - entrou no bmw satisfeito, adorava um bom carro, sempre desejara comprar um daqueles, mas nunca conseguira convencer a mulher.

- Estou?... Sim, sou eu... Como assim, preso?... Claro, vou aí imediatamente. - César desligou o telefonema furioso. - Preso! Agora foi preso!! - berrou, olhando para Lisa com cara de poucos amigos. - Às vezes pergunto-me porque nunca tivemos filhos, aí está a resposta! Para não passar por coisas destas! É por estas e por outras que um casal decide conscientemente viver sem crianças. Para ter paz de espírito! Mas nem assim, bolas! - deixou a mulher sozinha a tomar o pequeno almoço e saiu disparado para o quarto. - O João está a passar todas as marcas! Ainda o vou internar outra vez, e compulsivamente!! - gritou na direção da sala. - Sinceramente, e dá o meu número de telemóvel para o ir socorrer! Ele vai ver, vai ouvi-las! - praguejava enquanto se vestia atabalhoadamente – Quase com 40 anos, caramba, um homem feito. - entrou novamente na sala, deu um beijo à mulher, que o observava com algum humor, pegou nas chaves e saiu, batendo a porta.



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