sábado, 25 de fevereiro de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 4 (2ª parte)


Nuno fumava um cigarro na varanda, de costas para o seu pesadelo constante, a falar ao telefone com Sofia que fazia uma birra para conseguir que o tio a autorizasse a dormir em casa da melhor amiga. O instinto protetor do tio limitava a adolescente a saídas monitorizadas e agora Sofia, com 15 anos, começava a exigir liberdade, o que o perturbava. Margarida sorria divertida com a conversa vinda do exterior, gozando a falta de experiência de Nuno no que dizia respeito a miúdas com as hormonas aos saltos. A menina que idolatrava o tio jeitoso começava a olhar para outros marmanjos, e ele tinha de aceitar isso, era inevitável. Quando tivesse oportunidade iria dar-lhe umas dicas sobre o assunto, pensou, distraindo a mente dos raciocínios mais sérios que estivera a fazer nas últimas horas. A vida era assim, divagava ela, mesmo perante a tragédia que nos paralisa por momentos, a natureza exige a continuidade, e as meninas ficam doidas com os meninos, e vice-versa, e Nuno tinha de se pôr a pau e abrir os olhos!
- Bem, parece que para algumas mulheres a minha companhia é perfeitamente dispensável - lamentou ele frustrado - a Sofia vai dormir a casa da sua BFF, citando a própria - esclareceu - e eu fiquei com a noite livre! Podíamos ir jantar qualquer coisa junto ao rio, adoro a comida no Itália! - convidou ele animado.
- Mas tu não tens mais amigos? - questionou ela em voz alta, e lembrou-se que tinha de se acautelar para não verbalizar tudo o que lhe vinha à cabeça - Não precisas de te sentir obrigado a fazer-me companhia, eu estou habituada a estar sozinha, e até gosto. - justificou ela.
- Tenho muitos amigos, obrigado. Sou uma pessoa adorável e de quem é fácil se gostar. - escarneceu ele - Mas se preferes ficar sozinha em casa a olhar as paredes do quarto, em vez de comer pizza e dar migalhas de pão aos patinhos do rio, o problema é teu! - gozou ele.
- Ok, vamos lá engordar esses parasitas do Mondego! - e fingiu não perceber a alegria dele, mantendo o seu estilo “enfadada de quem está a fazer um frete”. Saíram do escritório e Margarida trancou a porta guardando a chave na carteira. Dirigiam-se ao exterior do prédio e ao passarem pelos corredores das pequenas secretárias, Margarida começou a perceber que os olhares dos colegas estavam carregados de insinuações sobre ela e o gigante, e pensou que talvez fosse bom assim, pensarem que eram um casal, isso distrairia a multidão da investigação que corria na sala do fundo. Iria conversar com Nuno sobre essa possibilidade.
Ao virar a esquina do corredor, Catarina surgiu distraída e demasiado apressada, embatendo contra a parede de músculos que educadamente se apressou em amparar-lhe a queda, e Margarida ficou com a suspeita de que esta tinha sido uma cena teatral estudada pela nova funcionária. A tipa era esperta! E estava definitivamente na lista das que se voluntariavam para se "colocarem debaixo dele", como lhe tinha sido explicado anteriormente.
- Peço desculpa, magoei-o? - disse ela desgrenhada e com um ar pouco convincente de inocência. Margarida revirou os olhos de nojo e não fez qualquer esforço em disfarçar a sua repugnância pelos modos assanhados da rapariga.
- Não há problema, mas para a próxima tem de ter mais cuidado, se tivesse ido contra a minha colega não lhe garanto que saísse inteira! - e riu satisfeito ao ver a expressão de dúvida e receio que provocou na pequena desmiolada, que se endireitava e compunha os cabelos.
Margarida avançou para a porta furiosa com vontade de lhe mostrar ali mesmo como poderia ser bruta se a provocassem.
Ele seguiu-a apressando o passo para a alcançar.
- Ei, espera aí! Estava só a brincar com ela! – confessou divertido - Tens de ser sempre tão séria? - lamentou frustrado, agarrando-lhe um braço com dificuldade.
- Para a próxima limita-te a apanhar as parvinhas do chão e não me incluas nos teus jogos de sedução. Esclarecido? - aquilo era demais para Margarida, odiava aquelas fulanas dissimuladas que usavam todas as mesmas técnicas patéticas para chamar a atenção de um macho. Bahhh

- Vou-te buscar às 20h00, e não te esqueças do saquinho com os restos de pão. - gracejou ele - Os pobres animais indefesos não têm culpa dos teus ciúmes! - e antes que ela pudesse reagir, enfiou-se no jipe, deixando-a colérica e abandonada no meio da rua.

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(imagem, internet)

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