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Quando é que tencionavas contar-me? – Rui estava furioso. A namorada tinha o
péssimo hábito de fazer as coisas nas suas costas, passando por cima de tudo e
todos, sem se questio nar
se estava correto ou não. Aquilo lá era forma de contar que se ia embora por
quatro anos!!
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Desculpa, só recebi a confirmação ontem. Sabes que sempre quis ter o meu
próprio consultório! É uma oportunidade única Rui!! – Teresa não percebia qual
era o problema dele, não lhe ligava patavina há meses, agora de repente
armava-se em ofendido…
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Claro, e eu sou o último a saber! – a vergonha de ter ficado com cara de parvo
no jantar, que percebeu depois, ser uma festa de despedida, em frente a todos
os amigos, deixava-o perdido de raiva.
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Se passasses mais tempo comigo não te espantavas tanto com os factos da minha
vida que desconheces! – berrou Teresa. Estava a ficar saturada daquele piegas
pomposo, sempre com cobranças e sem dar nada em troca. Era um perfeito egoísta,
um egocêntrico. Pegou nas chaves do carro, saiu e bateu a porta com toda a
força que tinha. Precisava de sair dali, já não lhe podia olhar para a cara.
Teresa
sabia que não tinha sido propriamente delicada na forma como o informou da sua
partida, mas o desprezo constante daquele namorado obrigava-a a nunca partilhar
nada com ele em primeira mão. Se era para falar para o telefone, então ele que
arranjasse uma telefonista, pensava ela enfurecida.
No
dia seguinte ia pessoalmente dar-lhe uma notícia ainda mais fresca, Finito!
Não
tinha sido fácil tomar aquela decisão, mudar-se para longe, para um local onde
não conhecia ninguém. A avó nascera naquela Vila, ainda lá tinham uma casinha
pequena, que Teresa ocuparia enquanto lá estivesse a trabalhar, mas ninguém os
conhecia, os descendentes da Maria. Uma jovem corajosa que deixara a
terra, a família, e partira para Lisboa, em busca do seu futuro. Tal como ela,
pensava com ironia, só que Teresa fugia do seu futuro. O namoro frio e
impessoal que Rui lhe impunha era desgastante, frustrante, e não fazia tenções
de acabar casada com um respeitável senhor Doutor médico que a iria
trair com todas as enfermeiras que conseguisse, concluía. Já tinha visto esse
filme em casa, recusava-se a ser a protagonista da sequela. Quando recebeu o
e-mail a confirmar a vaga num centro de saúde do Alentejo profundo não pensou
duas vezes, pegou no telefone e ligou para a melhor amiga, suplicando-lhe que a
obrigasse a ir. Não era tão corajosa como queria fazer parecer, e lamentaria
toda a vida o seu infortúnio, se não desse aquele passo. Rosário berrara-lhe do
outro lado, ameaçando-a de todos os horrores possíveis e imaginários, se não
respondesse afirmativamente à oferta de emprego. Respirou fundo, carregou no
botão “enviar” e chorou durante horas agarrada à almofada. Toda uma vida
rodeada de milhares de pessoas, adrenalina, festas, amigos, espetáculos, lojas,
praia, comida chinesa… tudo iria desaparecer durante quatro anos. Tentou
animar-se com a perspetiva de que o contrato não era para toda a vida, afinal
não ia para o corredor da morte, dizia a si mesma, eram só quatro anos na
solitária… Depois tornaria a ver a luz, teria a sua liberdade de novo.
(direitos reservados, afsr)
(imagem,internet)
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