terça-feira, 2 de maio de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 14 (1ª parte)



Margarida acordou dificilmente, a noite tinha sido maravilhosa, e dormira como nunca. Nuno já não estava na cama, o que era estranho, ele adorava prolongar aquela dormência matinal, abraçando-a e enfiando o nariz nos seus cabelos, pensou espreguiçando-se.
Procurou por ele pela casa e viu um recado escrito à mão em cima da mesa da entrada. “Fui correr, já volto”. Margarida não conhecia o Nuno corredor, aquilo era novidade. Foi confirmar no quarto e de facto as sapatilhas não estavam lá. Bem, pensava ela, pelo menos não lhe deu para me querer levar também a correr, isso seria bem pior. Preparou o pequeno-almoço para ela e Sofia e foi-se arranjar, aquele dia ia ser comprido e cansativo!


Nuno apareceu mais tarde completamente desfigurado, tinha corrido até ao Choupal, percorrera todos os caminhos labirínticos da mata e voltara, sem nunca parar.
Margarida sobressaltou-se com aquela capacidade física do gigante, como era possível que não lhe tivesse dado uma coisinha má?, pensava confusa entre a admiração e o susto.
Ele falou pouco, e desculpou-se por estar cansado, dirigindo-se para o quarto de banho.
Apareceu mais recomposto à mesa do pequeno-almoço, abraçando a sobrinha, com carinho, e desejando-lhe um feliz aniversário. Prolongou aquela demonstração de afeto sem saber como se comportar com Margarida que o olhava desconfiada. Amava-a tanto que era difícil encarar os olhos dela sem se perder no desespero dos seus pensamentos. Mas o que teria ela em comum com Jaime? Fingiu estar ansioso por ir para casa de Ana e apressou-se a engolir um café e uma torrada que ficaram presos na garganta durante toda a manhã.
Margarida estranhou o comportamento de Nuno, mas tinham prometido que aquele dia seria integralmente dedicado a Sofia e não queria estragar o ambiente. Fosse o que fosse, deveria estar relacionado com Álvaro, pensou, talvez Nuno tivesse alguma novidade sobre o doido. Relembrou-se de que precisava de ganhar coragem e conversar com ele sobre as suas recentes descobertas. Não sabia bem como abordar aquele tema, mas a verdade sobre o pai de Nuno não lhe pertencia e sentia-se cada vez pior por lhe prolongar aquela ignorância.
O dia correu rapidamente, e todos, à exceção de Nuno, estavam divertidos e comeram mais do que habitualmente o organismo humano aguentaria. Ana tinha-se esmerado na festa, fora tudo perfeito; Sofia tinha tido a atenção de todos, e em especial a do tio, que se refugiou nela todo o dia para evitar Margarida.

Nuno teria de ir ao encontro de Jaime antes de se permitir abrir a guarda com ela. Diversas vezes fingiu não ver os olhares de Margarida a ordenarem-lhe que se deslocasse à varanda, o que o fez sofrer de uma forma profunda. A sua ditadora privada exigia a sua atenção e ele não podia ir satisfazê-la. À medida que a noite se aproximava Nuno perdia a noção da realidade. Tinha de arranjar uma desculpa para se retirar algum tempo da festa, sem que Margarida não exigisse ir com ele. Decidiu dizer uma meia verdade, iria falar com Jaime que lhe tinha ligado, e insistiu com Jorge que ele deveria ficar a guardar o harém, facto que deixou os gémeos indignados, ofendidos no seu orgulho macho.

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(imagem, internet)

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