Margarida acordou dificilmente, a noite
tinha sido maravilhosa, e dormira como nunca. Nuno já não estava na cama, o que
era estranho, ele adorava prolongar aquela dormência matinal, abraçando-a e
enfiando o nariz nos seus cabelos, pensou espreguiçando-se.
Procurou por ele pela casa e viu um recado
escrito à mão em cima da mesa da entrada. “Fui correr, já volto”. Margarida não
conhecia o Nuno corredor, aquilo era novidade. Foi confirmar no quarto e de
facto as sapatilhas não estavam lá. Bem,
pensava ela, pelo menos não lhe deu para
me querer levar também a correr, isso seria bem pior. Preparou o
pequeno-almoço para ela e Sofia e foi-se arranjar, aquele dia ia ser comprido e
cansativo!
Nuno apareceu mais tarde completamente
desfigurado, tinha corrido até ao Choupal, percorrera todos os caminhos
labirínticos da mata e voltara, sem nunca parar.
Margarida sobressaltou-se com aquela
capacidade física do gigante, como era
possível que não lhe tivesse dado uma coisinha má?, pensava confusa entre a
admiração e o susto.
Ele falou pouco, e desculpou-se por estar
cansado, dirigindo-se para o quarto de banho.
Apareceu mais recomposto à mesa do
pequeno-almoço, abraçando a sobrinha, com carinho, e desejando-lhe um feliz
aniversário. Prolongou aquela demonstração de afeto sem saber como se comportar
com Margarida que o olhava desconfiada. Amava-a tanto que era difícil encarar os olhos dela
sem se perder no desespero dos seus pensamentos. Mas o que teria ela em comum
com Jaime? Fingiu estar ansioso por ir para casa de Ana e apressou-se a engolir
um café e uma torrada que ficaram presos na garganta durante toda a manhã.
Margarida estranhou o comportamento de
Nuno, mas tinham prometido que aquele dia seria integralmente dedicado a Sofia
e não queria estragar o ambiente. Fosse o que fosse, deveria estar relacionado
com Álvaro, pensou, talvez Nuno tivesse alguma novidade sobre o doido.
Relembrou-se de que precisava de ganhar coragem e conversar com ele sobre as
suas recentes descobertas. Não sabia bem como abordar aquele tema, mas a
verdade sobre o pai de Nuno não lhe pertencia e sentia-se cada vez pior por lhe
prolongar aquela ignorância.
O dia correu rapidamente, e todos, à
exceção de Nuno, estavam divertidos e comeram mais do que habitualmente o
organismo humano aguentaria. Ana tinha-se esmerado na festa, fora tudo perfeito;
Sofia tinha tido a atenção de todos, e em especial a do tio , que se refugiou nela todo o dia para
evitar Margarida.
Nuno teria de ir ao encontro de Jaime
antes de se permitir abrir a guarda com ela. Diversas vezes fingiu não ver os
olhares de Margarida a ordenarem-lhe que se deslocasse à varanda, o que o fez
sofrer de uma forma profunda. A sua ditadora privada exigia a sua atenção e ele
não podia ir satisfazê-la. À medida que a noite se aproximava Nuno perdia a
noção da realidade. Tinha de arranjar uma desculpa para se retirar algum tempo
da festa, sem que Margarida não exigisse ir com ele. Decidiu dizer uma meia
verdade, iria falar com Jaime que lhe tinha ligado, e insistiu com Jorge que
ele deveria ficar a guardar o harém, facto que deixou os gémeos indignados,
ofendidos no seu orgulho macho.
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(imagem, internet)
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