Seguiu Nélia até ao
quarto, onde esta tinha entrado sem cerimónias, numa atitude de
intimidade despropositada e lunática.
- Queres explicar-me o que vem a ser isto? –
berrou, sentindo-se a explodir de raiva com o comportamento dela.
- Desculpa, mas não sei o teu número de
telefone, - explicou cinicamente, sem se intimidar com os modos
alterados dele – e como certamente não irei mais entrar nesta
casa, queria certificar-me de que não deixava aqui coisas minhas
perdidas. – continuou a busca pelos brincos imaginários. Tinha ali
ido para se vingar, e parecia-lhe que sem querer, nem fazer qualquer
esforço, uma Marta qualquer iria vingá-la convenientemente. –Ah!,
encontrei! – exclamou, mentindo e fingindo agarrar os objetos
perdidos debaixo da cama. – Pronto, obrigada. Adeus. – deu meia
volta e saiu, rejubilando de gozo ao ver o ar perdido com ele ficara.
João bateu a porta com força, depois de
Nélia sair, expulsando alguma da raiva que sentia naquele momento.
Apressou-se a telefonar para Marta, mas, tal como ele imaginara, ela
não atendeu. Repetiu a chamada algumas vezes, mas acabou por
desistir, frustrado e consumido pela culpa. Se não tivesse
desnorteado na noite de sábado, nunca se tinha metido naquela
alhada, pensou angustiado. Mandaria uma mensagem a pedir desculpa e
explicar quem era a Nélia, ou talvez não, pensava nervoso. Talvez
fosse melhor ir até lá pessoalmente e tentar resolver o “mal
entendido”. Dir-lhe-ia o quê?, perguntava-se, Que era tão
estúpido ao ponto de ter levado para a cama uma ordinária qualquer,
sem amor próprio, que se sujeitava a ser usada por parvalhões como
ele? Ou que a culpada era ela, que o tinha deixado carente e
precisara de resolver o seu problema físico, fazendo sexo com uma
qualquer?
Pegou no telefone e escreveu simplesmente
“Desculpa, atende para te explicar o que se passou aqui.”
Marta abriu a mensagem e desligou o telefone,
encerrando-o. Não precisava daquilo, ordenou-se, limpando uma
lágrima teimosa que surgiu. Aconchegou-se a Filipe e fechou os
olhos, soluçando baixinho, pois não queria preocupar ninguém da
casa, até adormecer, muito tempo depois.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário