terça-feira, 28 de agosto de 2018

"A MalaVermelha" - Cap 10 (4ª parte)




Seguiu Nélia até ao quarto, onde esta tinha entrado sem cerimónias, numa atitude de intimidade despropositada e lunática.
- Queres explicar-me o que vem a ser isto? – berrou, sentindo-se a explodir de raiva com o comportamento dela.
- Desculpa, mas não sei o teu número de telefone, - explicou cinicamente, sem se intimidar com os modos alterados dele – e como certamente não irei mais entrar nesta casa, queria certificar-me de que não deixava aqui coisas minhas perdidas. – continuou a busca pelos brincos imaginários. Tinha ali ido para se vingar, e parecia-lhe que sem querer, nem fazer qualquer esforço, uma Marta qualquer iria vingá-la convenientemente. –Ah!, encontrei! – exclamou, mentindo e fingindo agarrar os objetos perdidos debaixo da cama. – Pronto, obrigada. Adeus. – deu meia volta e saiu, rejubilando de gozo ao ver o ar perdido com ele ficara.
João bateu a porta com força, depois de Nélia sair, expulsando alguma da raiva que sentia naquele momento. Apressou-se a telefonar para Marta, mas, tal como ele imaginara, ela não atendeu. Repetiu a chamada algumas vezes, mas acabou por desistir, frustrado e consumido pela culpa. Se não tivesse desnorteado na noite de sábado, nunca se tinha metido naquela alhada, pensou angustiado. Mandaria uma mensagem a pedir desculpa e explicar quem era a Nélia, ou talvez não, pensava nervoso. Talvez fosse melhor ir até lá pessoalmente e tentar resolver o “mal entendido”. Dir-lhe-ia o quê?, perguntava-se, Que era tão estúpido ao ponto de ter levado para a cama uma ordinária qualquer, sem amor próprio, que se sujeitava a ser usada por parvalhões como ele? Ou que a culpada era ela, que o tinha deixado carente e precisara de resolver o seu problema físico, fazendo sexo com uma qualquer?
Pegou no telefone e escreveu simplesmente “Desculpa, atende para te explicar o que se passou aqui.”

Marta abriu a mensagem e desligou o telefone, encerrando-o. Não precisava daquilo, ordenou-se, limpando uma lágrima teimosa que surgiu. Aconchegou-se a Filipe e fechou os olhos, soluçando baixinho, pois não queria preocupar ninguém da casa, até adormecer, muito tempo depois.



(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

Sem comentários:

Enviar um comentário