terça-feira, 4 de agosto de 2020

"A Mala Vermelha" - Capítulo 12



Filipe acordou Marta passando-lhe por cima do corpo adormecido, sem dó nem piedade, excitado com o bater na porta de casa, fungando-lhe o pescoço com o focinho húmido.
- Está quieto! – ralhou, empurrando-o frustrada. – Só pode ser o teu amigo, para estares neste histerismo… - comentou, sentindo-se automaticamente dormente. Vestiu o robe e encaminhou-se para a porta, respirando fundo. Ainda nem o tinha visto já tremia de nervos… Recompõe-te rapariga, ordenou-se. – Sim? Quem é?
- Eu!
- Eu quem? – perguntou com vontade de brincar.
- O teu mestre de obras.
- Palavra-passe? 
- “O João é bonito”. – respondeu prontamente deliciado com aquilo tudo.
- Errado. Mais uma tentativa.
- A Marta é má!. – tentou de novo.
Abriu a porta, derretendo com o sorriso dele, que a abraçou sem dó nem piedade, transformando-a em gelatina.
- Bom dia. – disse quase sem voz.
- Bom dia. Então? Gostaste da surpresa? – dirigiu-se à cozinha, levando-a atrás, deserto para se certificar de que estava tudo a funcionar.
- Adorei… não precisavas de ter gasto este dinheiro todo… - comentou pouco à vontade com a ideia da fatura daquilo tudo. – Vais deixar-me pagar tudo de volta?
- Não. – respondeu decidido – Não me vais dar a fatura do meu livro, pois não? Prendas são prendas. E funciona tudo? – mudou de conversa, abrindo as torneiras satisfeito.
- Sim, tudo perfeito… 
- Não me vais pagar nada, mas pelo menos um beijinho de agradecimento ficava-te bem… - agarrou-a para não lhe dar hipótese de fuga.
- Primeiro tenho de ir tomar banho, lavar os dentes… - escapou-se, deixando-o com cara de amuado.
- Ok, eu espero. Vou fazendo o pequeno almoço. Faz  já a mala que temos de ir cedo. – informou-a, já a falar para o corredor vazio.
Marta voltou atrás, surpreendida.
- Temos?
- Sim, ao Gerês, lembras-te? Pensei em irmos hoje cedo e voltarmos no domingo, o que achas? – perguntou contente.
- Gerês? Mas isso não é longe? – exclamou espantada.
- Sim, mas pela autoestrada chega-se num instante. – explicou, trazendo o comer para a mesa de centro em frente ao sofá.
- E dormimos onde? – quis saber incomodada. Aquilo seria como chegar fogo ao rastilho, pensou angustiada, imaginando passar a noite fora com ele, longe de tudo e de todos, apenas separados pela parede de um quarto de hotel. – E o Filipe? Ele não pode ficar sozinho…
- Há para lá imensos sítios para dormir, e escolhemos um que aceite cães.- disse de forma prática.
- Não vais aceitar um não, pois não?
- Não. – sorriu-lhe satisfeito.
- Ok, mas com uma condição. – disse muito séria. – Vais deixar-me conduzir o teu carro.
- Não, isso é que não!... – exclamou horrorizado com a ideia, baixando os ombros resignado depois do olhar duro que Marta de lançou – Ok, mas só alguns quilómetros… Agora mexe-te! – virou-a na direção da casa de banho e empurrou-a suavemente, forçando-a a arranjar-se depressa.
- Eu quero chá e torradas. – disse autoritária, sorrindo-lhe antes de fechar a porta.

Marta forrou o mais eficazmente possível  o banco traseiro do carrão desportivo para acomodar Filipe, que parecia um Senhor esparramado no grande espaço, sentando-se em seguida de pernas cruzadas à chinês no banco do lado do condutor, que se esforçou por não se distrair com a perna dela demasiado perto da mão poisada na manete das mudanças. Conversavam animados sobre locais a visitar, naquele pequeno passeio de fim de semana, quando o ambiente começou a mudar lentamente. Marta não parava quieta no banco, mostrando perna e mais perna, e por vezes deixando uma alça cair desajeitadamente do ombro, revelando pequenos vislumbres de soutien, sem se aperceber do que fazia, simplesmente descontraída com a música, ou olhando Filipe com carinho, que dormia que nem um justo. A estrada parecia nunca mais terminar, e João teve de fazer uma pausa na tortura sensual que era olhar, e não poder tocar.
- Vamos parar aqui nesta estação de serviço à frente? Preciso de ir à casa de banho.
- Ok, o Filipe também deve precisar de usar os lavabos. – brincou, endireitando-se no banco e percebendo que ia a mostrar um pouco mais do que devia. – Desculpa, não dei conta que ia quase a mostrar-te as cuecas. – disse-lhe, corando.
- Não faz mal, também já me viste de boxers.
- Vamos, eu pago o café para me redimir. – sorriu-lhe, saindo do carro e abrindo a porta ao cão sonolento.
- Um café e uma nata, no mínimo. – gracejou, abraçando-a instintivamente com um braço por cima do ombro.

O resto da viagem foi feito em silêncio, apenas interrompido pelo ressonar de Filipe, pois Marta deitara o seu banco e acabara por adormecer profundamente, a meio de uma conversa sobre Ganesha. João manteve-se pensativo e a passo de caracol, para a poder admirar sem provocar nenhum acidente. Sentia-se demasiado atraído por ela, por todas as características que até então conhecia dela; físicas, emocionais, mentais, tudo lhe agradava naquela mulher e parecia-lhe tão certo e fácil quando estavam juntos, matutava, ao mesmo tempo que lhe afagava o cabelo carinhosamente.
Marta acordou com aquele toque suave, abrindo os olhos e sentindo aquele arrepio dos pés à cabeça, ao ver o olhar dele apaixonado. Teria de conversar com ele sobre o seu passado, concluiu.
- Vocês os dois andaram na borga ontem à noite. – brincou ele, endireitando-se no banco e concentrando-se na condução.
- João, temos de falar. – iniciou Marta, nervosa coma confissão que se seguiria. – Eu não fui totalmente honesta contigo. – disse, olhando-o.
- Então, porquê? – perguntou ansioso com o tom sério da sua voz. 
- Eu… estou a recuperar de um longo relacionamento problemático, - engoliu em seco recordando-se de Tiago – que terminou há cinco anos, mas que ainda me pode prejudicar, se não tiver cuidado. – confessou, tremendo ligeiramente das mãos. A primeira parte já estava, faltava o resto.
João deu-lhe a mão, como forma de apoio emocional, sabia o que ela queria confessar, e que não lhe seria fácil, apercebendo-se de repente de que tinham chegado ao destino.
- Olha, chegámos. – disse-lhe animado – Não penses nisso agora, não hoje, nem amanhã. Os nossos fantasmas ficaram em Coimbra, combinado? Quando voltarmos pensamos neles outra vez. – pediu-lhe carinhoso, beijando-lhe a mão e ficando uns segundos perdido no olhar quente que sentiu vindo dela. Se tudo corresse bem, aproveitariam os dois dias apenas com eles, sem Tiagos nem horrores. 

- Aqui parece-te bem? – perguntou analisando as características do pequeno Hotel “Amigos dos Patudinhos”, que permitia que os hóspedes levassem os cães para o quarto, providenciando uma pequena almofada para os acompanhantes, mediante uma taxa adicional.
- Sim, quanto fica a cada um? – quis saber para se orientar no orçamento que tinha enfiado à toa na carteira.
- Não vamos começar. – resmungou, olhando-a de esguelha – Eu é que convidei.
- Isto é ridículo. Se eu não pudesse pagar não tinha vindo! – ralhou, espreitando para o ecrã do computador da receção, à procura do valor total, deixando o funcionário sem jeito com aquela discussão doméstica logo à chegada.
- Não lhe mostre, faz favor. – ordenou João ao rapaz corado, puxando-a de cima do balcão, onde se tinha empoleirado.
- Bem, e querem quarto para casal, duplo ou separado? – perguntou a gaguejar.
- Hum… cama de casal! – gracejou João, provocando-a, mas desejando que isso pudesse ser verdade.
- Separado! – exclamou Marta a sentir-se quente e vermelha.
- Bem, separado já não há… Mas tenho aqui um duplo que são praticamente dois quartos independentes… - sugeriu, olhando-os alternadamente.
- O que achas, mana? – gozou João, olhando-a satisfeito.
- Pode ser. – Mana?! Mas que atrevido, pensou furiosa com a brincadeira.
- Muito bem, quarto 13. – concluiu o funcionário satisfeito, entregando uma chave que João agarrou à pressa sorridente, como uma criança que ganhava algum jogo infantil de “quem chega primeiro”. – Já lá mando alguém entregar a almofada para o cão.
- Para o Filipe, faz favor! – recriminou Marta, a destilar ira por todos os poros, enquanto pegava na sua mala e seguia João que já se encaminhara para o corredor.

Poisaram as malas nas respectivas camas, que afinal eram bem mais próximas uma da outra que o desejável, lamentava-se Marta que entoava uma melodia calmante que lhe restabelecesse o equilíbrio emocional. A tensão sexual entre os dois disparava a cada minuto que passava, e a prova disso era o facto de já não estarem a conseguir manter a calma e a serenidade um com o outro. Das duas uma, ou resolviam aquilo à antiga, ou iam andar à chapada, concluiu sorrindo com as suas teorias tão pouco yogis. Filipe olhava-a com cara de curioso, deveria sentir todas aquelas energias estranhas, matutava ela, enquanto procurava o fato de banho e roupa própria para caminhar, pois durante a viagem tinham combinado visitar os locais famosos com pequenas piscinas naturais no meio das rochas.
- Não te preocupes, - confessou-lhe sussurrando para que João não a ouvisse de dentro do quarto de banho, onde tinha ido trocar de roupa – quando chegarmos à Serra empurramo-lo das rochas abaixo!
- Vamos almoçar? – João surgiu de repente, ficando novamente uma energia incómoda no ar, que num espaço fechado parecia ainda mais difícil de suportar.
- Vai andando, já lá vou ter, tenho de me trocar. – disse Marta, empurrando-o para fora do quarto. – Leva o Filipe e esperem-me lá em baixo. – despachou-os aos dois para conseguir preparar-se à vontade. Arrumou a confusão do lado dele, censurando aqueles modos mimados de viver, sem respeito pelo outro, onde tudo ficava onde caía, sem ordem, a sentir a neura a crescer em cada peça de roupa enrodilhada no saco chique do médico. Precisava de se acalmar, recriminou-se, terminando a arrumação e despindo-se em seguida. Retirava a roupa interior para enfiar o fato de banho quando a porta se abriu de repente, sem lhe dar tempo para se esconder convenientemente.
- Falta-me a minha… - João estacou paralisado, com Filipe a seu lado de orelhas em pé.
Marta lançou-se a fechar a porta o mais rapidamente que conseguiu, encostando-se nela vermelha até às orelhas. Aquilo não podia ter acontecido… 
- Falta-te o quê? – berrou descontrolada.
- Desculpa… a minha mochila. – disse do lado de fora.
Marta agarrou na mochila e entregou-lha por uma fresta da porta, fechando-a rapidamente. Pôs o trinco e vestiu-se, bufando de raiva. Mimado, mal educado, inconveniente, parvo… enumerava calçando-se.
Pegou na carteira e saiu em direção ao hall de entrada, sem saber como os encarar. Um estava mais que habituado a vê-la despida pela casa, mas o outro não tinha o direito de a humilhar daquela maneira. Se o ambiente já estava estranho entre os dois, agora é que ia melhorar!, ironizou.
Viu-os à porta, já na rua, bem animados com qualquer coisa. Filipe abanava-se todo, como um palerma e o outro sorria para alguém. Marta espreitou sem se denunciar e viu uma loira estrangeira a afagar o seu cão no pescoço e o seu companheiro de passeio no seu Ego masculino. Uma quentura subiu-lhe pela cara, ciúmes, pensou pragmaticamente, para ajudar à festa já sentia ciúmes… Deu meia volta e dirigiu-se ao balcão de entrada, sacando do porta-moedas e fixando o funcionário mortalmente.
- Faça-me a conta de metade da estadia, rápido. – ordenou ao rapaz.
- Mas senhora, o seu irmão não disse que pagava tudo? – balbuciou amedrontado.
- O meu irmão tem a mania só porque é Dr., diga lá quanto é. – suplicou o mais discretamente possível.
- Estás aqui. O que fazes? – perguntou João desconfiado de a ver de carteira na mão.
- A pagar a minha parte. – encarou-o orgulhosa. Pelo menos monetariamente não ficaria a sentir-se humilhada, decidiu.
- Já disse que não. Não sejas teimosa. – argumentou, tentando alcançar-lhe a carteira, como se fossem miúdos.
- Nem penses. – exclamou, fugindo com o braço o mais que conseguia.
João agarrou-lhe no braço, com uma mão e com a outra tentava tirar-lhe a carteira, sob o olhar de espanto do funcionário, ficando demasiado perto dela, que se debatia, furiosa. Conseguiu tirar-lhe o porta-moedas e pararam no mesmo instante com a luta despropositada, encarando-se desconfortáveis e afastando-se automaticamente. 
- Guarda isso, por favor. – pediu-lhe corado com a excitação que tudo aquilo lhe tinha dado, devolvendo-lhe o objeto.
O funcionário olhava-os alternadamente, nunca em toda a sua vida de hotel vira dois irmãos adultos numa luta tão estranhamente sexy. Perturbador e errado, dizia a si mesmo aparvalhado.


- Desculpa ter entrado no quarto sem bater. – disse João incomodado com o ambiente que se estava a criar.
- Estás desculpado, eu também devia ter posto o trinco na porta. – confessou, ainda envergonhada com a situação.
- Já escolheste? – perguntou-lhe a mudar de assunto, chamando o empregado de mesa do pequeno restaurante típico.
- É tudo carne ou peixe… - lamentou-se, percorrendo novamente a lista na tentativa de encontrar algo adaptável ao seu vegetarianismo pouco prático fora de casa.
- Desculpe, não há hipótese de se fazer uma salada para a senhora que é vegetariana? – perguntou ao funcionário que não compreendia as novas modas de algumas pessoas de não comerem animais.
- Mas não come carne nenhuma? Nem vitelinha? Olhe que é muito tenrinha… - disse, tentando ser prestável.
- Não, nem vitelinha… - respondeu Marta tentando não rir. Como se o vegetarianismo na cabeça de alguns fosse a distinção entre carne de bichos adultos e bebés. Porque comer bebés era muito mais correto…
- Vou lá dentro perguntar na cozinha. – disse resignado com a teimosia da cliente.
- E cachorrinhos? Também não comes? – gozou João, assim que o empregado se retirou.
- Já ouvi coisas estranhas, agora sugerir a um vegetariano vitelinha… - largou numa gargalhada.
João animou-se com a mudança de humor nela, finalmente voltava a Marta descontraída e bem disposta. Sabia que ela resistia a deixar-se levar numa relação, compreensivelmente. Deveria ter ainda bastantes reservas emocionais e travões físicos. Teria de ser mais calmo, decidiu. E bater antes de entrar…
Retomaram a conversa fácil durante o resto do almoço, rindo das tiradas engraçadas do empregado de mesa que insistia em sugerir opções de comida para Marta, que se viu forçada a comer “vitelinha com batata assada e grelos”, sem a vitela, pois só havia alface com alface, e se queriam ir escalar pedras era preciso energia.

A sonolência da digestão parecia invadir-lhes os movimentos, quando finalmente encontraram um dos locais paradisíacos para explorar. Marta arrastava-se pelos caminhos sinuosos, puxada por João, que seguia o instinto de Filipe em encontrar o poço da água cristalina que se via na foto do folheto turístico. 
- Vamos, estamos quase lá. – encorajou-a, determinado a ver ao vivo aquela maravilha da natureza.
- Chama o Filipe, ele ainda cai por aí abaixo… - disse preocupada com o caminho demasiado íngreme da descida.
- Ele já nada, olha. – exclamou sorridente a apontar para o cão que encontrara a piscina.
- É muito inteligente, o meu menino. – gracejou Marta, ganhando ânimo para o resto do caminho até ao poço.
Desceram mais uns metros e recostaram-se numa sombra, a admirar o canídeo despreocupado e brincalhão, que saía e entrava na água em histeria.
- Que raça é ele? – perguntou João sem tirar os olhos da água.
- Uma misturada qualquer entre boxer e pitbul. Uma inconsciência de um amigo meu que decidiu cruzar essas raças e ver o que dava. – disse, relembrando com  mágoa o ex-marido. – Mas o resultado até nem foi mau. Eu adoro o Filipe. – confessou sorrindo.
- É um cão simpático. – acrescentou, olhando-a e sentindo novamente aquela energia vinda dela. Uma brisa passava no momento, levantando-lhe um pouco os cabelos, e João sentiu-se a perder a noção do espaço, inclinando-se na sua direção, como se fossem metal e íman. Marta sorria para o cão, distraída, sem perceber os movimentos discretos de João, cada vez mais próximo dela, quando os seus olhares se encontraram. Ficaram à distância de um palmo, com a respiração rápida, em compasso de espera, fixando-se hipnotizados. Marta levou a mão ao cabelo de João, deslizando-a até ao pescoço dele e ele imitou-a, aproveitando o momento de desejo que via no olhar dela. 
- Podes beijar-me. – disse Marta a sussurrar.
- Já vai. Deixa-me apreciar isto. – confessou, sorrindo-lhe.
- Abusador… - brincava, a sentir-se cada vez mais apaixonada com o romantismo delicioso dele, quando viu perifericamente Filipe a cair de uma pedra demasiado alta, desamparado, aos trambolhões, até à água, sobressaltando-a. – Filipe! – gritou, levantando-se automaticamente. – Filipe! – continuou a bradar já correndo na direção do poço, sem conseguir perceber se ele estava bem da queda aparatosa. – Filiiiipe! – continuou aos gritos sem notar que João não se levantara, e se mantinha na mesma posição. Espreitou para o poço mas não o via, entrando em pânico e procurando por João, que na sua imaginação estaria também a tentar encontrar o cão. Olhou em volta, e da sua perspetiva não via nenhum deles, o que lhe provocou um arrepio de nervos. Correu até ao local onde estivera momentos antes sentada e viu João apoiado no chão sobre os braços, a respirar furiosamente, como se estivesse a sofrer alguma espécie de ataque. Foi invadida por um medo visceral, de o ver morrer ali no meio do nada, sem conseguir pedir por socorro a ninguém, e colocou-se de joelhos, sentada nos calcanhares, apoiando a cabeça dele nas pernas, e refrescando-o com água que trazia na mochila, enquanto tentava perceber o que estava a acontecer.
- João, calma. Respira, por favor. – suplicava na voz mais controlada possível, quando se recordou dos comprimidos SOS. Aquilo devia ser o SOS! Berrou a si mesma, já largando algumas lágrimas, enquanto procurava freneticamente na mochila dele pela caixa de remédios. Encontrou-os com dificuldade, e como João não reagia, teve de ler a bula para tentar descobrir a dose certa para lhe dar. O choro invadiu-a com violência, numa mistura de tristeza e impotência pelo acidente de Filipe, que ainda não aparecera, e o pânico de que algo de grave acontecesse com João, que parecia estar possuído. Finalmente percebeu que aquilo seria uma crise de pânico forte, e que teria de lhe conseguir dar dois comprimidos, para estabilizar o organismo o suficiente para que não houvesse falta de oxigénio no cérebro. Se ele desmaiasse, nunca mais conseguiriam sair dali.

(direitos reservados, AFSR)
(imagem, internet)


Sem comentários:

Enviar um comentário