segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

"Margarida, o Bom e Mau Gigante" - Capítulo 1, 6ª parte



Margarida assumiu novamente o discurso, reagindo da única forma que sabia, o cinismo como mecanismo de defesa,
- E já que estamos aqui os dois a partilhar características pessoais, mas até agora só me disse o que descobriu sobre mim, quer que use os meus super poderes para o descrever, ou tem medo do que pode ouvir? É que hoje estou particularmente generosa, e os meus honorários estão com desconto de 50%, por isso é de aproveitar! – disse friamente.
Tomás chegou-se para a frente, ganhando terreno naquele confronto inesperado, e mostrando que ali era ele o Alfa. Margarida recostou-se instintivamente, o que lhe pareceu agradar ao testerónico invasor da sua paz de espírito.
- Não pense que é fácil para mim vir aqui tentar convencê-la a ajudar-me, nem sei bem como, mas garantiram-me que o conseguirá fazer. Devia começar a ouvir e confiar nas outras pessoas, aprende-se bastante quando não conversamos apenas com as vozinhas da nossa cabeça! - gozou ele, retomando a descontração física de quem dominou qualquer coisa. -  É preciso coragem para pedir favores a estranhos, mas na minha profissão não há lugar para maricas. – e continuou sem dar tempo de resposta - O meu nome é Nuno, obviamente que já tinha desconfiado que não tinha utilizado o nome verdadeiro. Se bem a conheço - e parecia mesmo conhecer, pensou ela - teria feito uma investigação informática com base nessa informação, e eu precisava mesmo de a apanhar desprevenida, para não comprometer o resultado dos nossos trabalhos - e reforçou os "nossos" o que pôs Margarida desconfortável, já que não tinha intenções de ter nada em comum com aquele parvo convencido.
- E agora que me "apanhou" desprevenida, e já percebeu que não tenho paciência nem tempo para rodeios, quer ser homenzinho e explicar quem é de facto e o que pretende fazer comigo? - aquilo tinha soado mal, mas a essência estava lá, e ele não parecia burro, nem corajoso o suficiente para fazer trocadilhos idiotas com as suas palavras, pelo menos não naquele momento, em que estava visivelmente colérica.
Nuno obedeceu,
- Sou inspetor da polícia judiciária e luto com um caso que, tenho que admitir, me transcende, e irá enlouquecer se não solucionar! Para além de que sou pago para prender mauzões, e este em particular, parece não existir - confessou descontraidamente, o que a fez mais uma vez questionar-se sobre as suas capacidades de análise, afinal o parvo poderia não ser parvo de todo. - Mas antes de acrescentar seja o que for às informações específicas deste caso, preciso de saber se posso contar com a sua ajuda. - e recostou-se na cadeira que parecia bem mais pequena que o normal com aqueles noventa e muitos quilos de músculos.

Margarida deixou o silêncio alongar-se mais do que o aceitável, e percebeu que o seu novo amiguinho começava a ficar desconfortável. Não lhe olhava diretamente nos olhos para não se desconcentrar, havia neles qualquer coisa de demasiado profunda e que a incomodava, mas analisava pacientemente todas as suas reações faciais numa tentativa de o deixar enervado. Não poderia nunca dar uma resposta daquelas no momento, primeiro porque estava demasiado chateada com as graçolas feitas às suas custas, e depois porque simplesmente ela não funcionava assim.

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(imagem, internet)

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