segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Capítulo 1, 7ª parte



Passaram-se certamente mais de dois minutos e Nuno já não aguentava mais aquele scan visual quando finalmente ganhou coragem e falou:
- Está em transe, ou é mais grave que isso e eu já devia ter chamado o INEM? Se pensa que só porque sou polícia, tenho a obrigação de saber reanimação, está enganada! Também chumbei nessa cadeira! - gracejou.
- Vou pensar no assunto e assim que me decidir aviso-o. - disse Margarida rispidamente, levantando-se e estendendo a mão, num gesto que dava por terminada a sessão, e convidava Nuno a sair.
Meio aparvalhado, mas sem perder a compostura, o desafiador de um metro e noventa levantou-se e despediu-se, acrescentando de forma educada:
- Espero sinceramente que me responda positivamente e o mais depressa possível. - disse, virando-se calmamente em direção à porta e caminhando com aquela segurança de quem possui uma arma debaixo do casaco e nada teme.
Antes de sair, Nuno hesitou. Voltou-se, e olhando para os pés dela, não resistiu a brincar um pouco com aquela freak mal disposta e difícil, terrivelmente difícil, - As botas são giras! A minha sobrinha de quinze anos comprou agora umas iguais para o inverno, parecem-me bastante robustas e quentes! Boa escolha! Então adeus e até breve! - rematou ele, saindo do escritório.
 Margarida tinha a certeza de que o parvalhão levava um sorriso na cara.

Furiosa, humilhada e com fome, dirigiu-se como um furacão à sala da Direção. Cabeças iam rolar ao final daquela que tinha sido uma das piores manhãs da sua vida profissional.
Bateu à porta, e num acesso de lucidez, respirou fundo para não cuspir fogo diretamente nos cabelos alourados e impregnados de materiais inflamáveis que a Dra. Ana usava. Seria uma crueldade destruir o centro de gravidade do seu Ego... se bem que naquele momento era mais que merecido.
-Entra Margarida! - ouviu a voz de falsete cantarolar, e aquela melodia soou-lhe particularmente irritante.
Deu um safanão na maçaneta da porta e marchou em direção à cadeira das visitas à espera que a chefe desligasse o telefonema e lhe desse a devida atenção, porque tinha várias perguntas que necessitavam de respostas claras e não se contentaria com linguagem gestual, como normalmente acontecia nas breves "reuniões" entre as duas.

A diretora vivia obcecada com o agregado familiar, com quem parecia estar eternamente ao telefone, filhos, marido, irmãos, pais e ainda um avô, dominavam por completo aquela mulher pequena, gorda, com um cabelo demasiado armado para o tamanho da cabeça, mas que nunca duvidara dos instintos profissionais de Margarida. Ana raramente a contrariara, até chegar um polícia gigante e ela ter conversado com ele de pé. Só poderia ser essa a explicação para aquela maldição que tinha surgido na sua vida, a chefe tinha ficado amedrontada com o investigador e com medo que lhe prendessem um dos filhos malucos, decidira ajudar naquela cruzada lunática de caça ao psicopata fantasma... E o mais grave de tudo aquilo, Margarida, que não desligava a luz de noite, era a melhor hipótese de sucesso aos olhos da polícia. Estavam tramados, pensou, engolindo em seco, e ela acabaria aos pedaços dentro de um saco do lixo preto de tamanho industrial. Decidiu que antes de ir para casa compraria o soporífero.

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(imagem, internet)

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