sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Capítulo 2, 3ª parte


Comera demais e precisava de caminhar porque estava enfartada. Deixou o carro estacionado e foi sem destino, perdida nos seus pensamentos, tentando ignorar os transeuntes com quem se cruzava, que lhe deitavam olhares de suspeita. Por mais que Coimbra fosse uma cidade grande, as pessoas ainda se comportavam como aldeões alcoviteiros, que rotulavam automaticamente quem usasse botas «fixes» e vestisse preto. Margarida sabia que já não tinha idade para andar mascarada de punk, mas certamente que em Londres ou Nova Iorque, se saísse à rua de robe e chinelos, não seria tão observada...
Farta de chamar a atenção, teve um súbito desejo de pipocas e comédias, e como se tinha aproximado do Dolce Vita, decidiu ir ao cinema ver um filme parvo qualquer que a dispusesse positivamente para a hora de dormir.
Comprou o menu grande, com pipocas que chegariam para quatro pessoas, e escolheu o lugar mais longe da tela, para observar tudo e todos com a devida distância.
Afundou-se no banco, e enquanto esperava pelo início da sessão, tirou o som ao telemóvel, reparando que tinha um email do "Tó Nuno". Contrariada, abriu a mensagem:

"Boa tarde Margarida!
Gostava muito de me desculpar pela forma como me apresentei hoje de manhã.
Talvez tenha exagerado na atitude, mas se me deixar explicar os meus motivos vai ver que não sou louco!
Temos de combinar uma nova reunião, talvez com comida, mas atrevo-me a sugerir fast food, que não inclui talheres nem pauzinhos. Já vi coisas bem feias com armas improvisadas! :)
Diga-me qualquer coisa entretanto para eu ver a minha disponibilidade à noite.
Bjs Nuno S."


O sangue subiu-lhe à cara, o descaramento do homem era desconcertante. Mas quem é que Ele pensava que Ela era? Alguma bimba necessitada de atenção que iria a correr jantar fora? Já tinha idade suficiente para não se deixar abalar com paixonetas fatelas, e neste caso em particular, os modos descontraídos do tipo e as suas intenções macabras de a envolver com criminosos não a entusiasmavam por aí além. Desligou o telefone e tentou concentrar-se nos anúncios que passavam antes do filme quando se engasgou com uma pipoca ao ver "Tó Nuno" entrar sorridente na sala de cinema com o braço por cima de uma loira demasiado nova para um trintão. O estupor era comprometido e queria jantar batatas fritas com ela com a desculpa de trabalho!

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

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