sábado, 13 de fevereiro de 2016

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Capítulo 2, 4ª parte




Enterrou-se o mais que pôde na cadeira e colocou os cabelos à frente da cara para ficar camuflada quando lhe pareceu que ele a detetara e que por segundos cruzara o olhar com o dela. Amaldiçoou a hora em que lhe parecera que ver um filme "estúpido" seria boa ideia, e passou o tempo todo a mirar a nuca do casalinho, tentado perceber o grau de intimidade dos dois. Deveria ser considerada pedofilia aquela relação, remoía ela. Se ele a perturbasse mais do que o aceitável, iria denunciar aquele sacana às autoridades, pensou.
De repente, veio o intervalo e Margarida surpreendeu-se com a rapidez com que passara a primeira parte do filme que ela não tinha sequer percebido do que tratava. As luzes acenderam-se e Nuno levantou-se, tirou o maço de tabaco do bolso do casaco e virou-se para Margarida acenando-o, convidando-a a fumar. Pateticamente ela fingiu não ter visto, e virou a cara, fixando a parede, corada até às orelhas. Ele dirigiu-se à zona exterior de fumadores, divertido com aquela reação.
Margarida passou o restante tempo de filme a estudar uma forma de evitar cruzar-se com o casal à saída, e decidiu que a melhor estratégia era esperar que a sala esvaziasse, dando tempo para o polícia e a sua playmate irem alegremente à sua vidinha, enquanto ela ficava consigo própria, sossegada e livre para se ir embora.

Quando lhe pareceu estar em "segurança", saiu da sala, mantendo todos os sentidos em alerta, não fosse o dueto estar ainda por ali, e caminhou para as escadas rolantes. Descia lentamente naquele corredor automático quando o viu a conversar com a loira, à espera não sabia bem do quê. O homem parecia uma assombração, inspirou fundo e mentalizou-se de que teria de o enfrentar e ignorar a miúda, pois não tinha intenção de dar dois beijinhos a uma loira inquieta e saltitante.

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

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