Enterrou-se o mais que pôde na
cadeira e colocou os cabelos à frente da cara para ficar camuflada quando lhe
pareceu que ele a detetara e que por segundos cruzara o olhar com o dela.
Amaldiçoou a hora em que lhe parecera que ver um filme "estúpido"
seria boa ideia, e passou o tempo todo a mirar a nuca do casalinho, tentado
perceber o grau de intimidade dos dois. Deveria ser considerada pedofilia
aquela relação, remoía ela. Se ele a perturbasse mais do que o aceitável, iria
denunciar aquele sacana às autoridades, pensou.
De repente, veio o intervalo e
Margarida surpreendeu-se com a rapidez com que passara a primeira parte do
filme que ela não tinha sequer percebido do que tratava. As luzes acenderam-se
e Nuno levantou-se, tirou o maço de tabaco do bolso do casaco e virou-se para
Margarida acenando-o, convidando-a a fumar. Pateticamente ela fingiu não ter
visto, e virou a cara, fixando a parede, corada até às orelhas. Ele dirigiu-se
à zona exterior de fumadores, divertido com aquela reação.
Margarida passou o restante
tempo de filme a estudar uma forma de evitar cruzar-se com o casal à saída, e
decidiu que a melhor estratégia era esperar que a sala esvaziasse, dando tempo
para o polícia e a sua playmate irem
alegremente à sua vidinha, enquanto ela ficava consigo própria, sossegada e
livre para se ir embora.
Quando lhe pareceu estar em
"segurança", saiu da sala, mantendo todos os sentidos em alerta, não
fosse o dueto estar ainda por ali, e caminhou para as escadas rolantes. Descia
lentamente naquele corredor automático quando o viu a conversar com a loira, à
espera não sabia bem do quê. O homem parecia uma assombração, inspirou fundo e
mentalizou-se de que teria de o enfrentar e ignorar a miúda, pois não tinha
intenção de dar dois beijinhos a uma loira inquieta e saltitante.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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