- Ora viva! - exclamou ele com
uma familiaridade despropositada - então já deixou de fumar? - que raio de
pergunta parva era aquela, perguntava-se Margarida, que ainda não se tinha
habituado ao estilo apalhaçado das conversas do sr "Tó Nuno".
- Boa noite! Não, ainda fumo,
se faz tanta questão em saber. - respondeu ela calmamente - Prazer em revê-lo.
Adeus! - e apressou-se a desembaraçar-se dos obstáculos do caminho para fugir
dali, bufando.
- Margarida!, deixe-me
apresentar-lhe a Sofia, a minha sobrinha. - interrompeu ele colocando-se à sua
frente, barrando-lhe o caminho. Ah! Afinal era a sobrinha, pensou Margarida. Foi
obrigada a parar e a encarar a adolescente demasiado bonita, que não se
esforçou em sorrir. Sofia tinha 15 anos, relembrou Margarida da sua conversa
matinal com Nuno, era bela e possessiva da atenção do tio. Agarrou-se ao seu
braço forte, marcando o terreno daquela forma tão feminina e infantil.
- Prazer, Margarida, uma
conhecida e não interessada no seu tio - e olhou o abraço dos dois com um sorriso,
voltando os seus olhos intensos para a miúda, que baixou o olhar, desiludida
com a derrota pessoal.
- Uau, temos botas iguais! -
recuperou Sofia a animação própria da idade - Que fixe! - e Margarida
enrubesceu ao perceber o sorriso irónico na cara de Nuno, motivado pela triste
realidade de naquele dia ela se ter vestido como uma adolescente.
- Bem, está a fazer-se tarde,
tenho de ir, prazer em revê-lo. Adeus Sofia! - e encaminhou-se para a porta de
acesso à rua principal.
- Mora aqui na zona? - perguntou
Nuno, prolongando aquele encontro acidental.
- Ham? Não, não moro, vim a pé
de casa da minha mãe. - respondeu ela.
- Ah, ok, então dou-lhe boleia
até ao seu carro, está tarde e pode ser perigoso para uma mulher sozinha. -
informou-a autoritariamente.
- Não há necessidade, obrigada!
Sou uma mulher sozinha - e entoou propositadamente o facto de ser só – e de
botas de biqueira de aço, o mais provável é que todos mudem de passeio quando
virem uma punk a estas horas. - esclareceu ela.
- Deixe-me levá-la até ao
carro, preciso mesmo de falar consigo, só tenho de ir deixar a Sofia a casa,
que amanhã tem aulas e já devia estar a dormir. O prédio é já aqui ao lado,
faça favor. - e abriu a porta do centro comercial indicando o caminho óbvio.
Margarida cedeu, saindo obedientemente. Não lhe parecia má ideia fazer o
caminho de volta com companhia, assim evitaria as preocupações habituais de se
encontrar sozinha no escuro.
Sofia entrou no prédio, amuada,
por ter de partilhar a atenção do tio com uma tipa qualquer. Os dois
dirigiram-se para o carro de Nuno e Margarida ficou entusiasmada ao perceber
que era um jipe Land Rover, branco, daqueles antigos, quadradões e de ferro,
bem parecido com a sua personalidade, feios mas eficazes!
Visivelmente mais animada,
entrou no veículo e analisou curiosa o todo o terreno. Lutou com a ferrugem do
cinto de segurança, que teimava em não prender, enquanto Nuno esperava
divertido, com o jipe em ponto morto. Depois do que lhe pareceu tempo
suficiente para se vingar dos modos arrogantes da menina, sentiu-se mauzinho e pedindo-lhe licença, encaixou o cinto
com aparente facilidade, o que arranhou o orgulho feminino da passageira do
lado.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário