-
Carros velhos, é preciso conhecer as suas manias! - disse ele, piscando o olho.
E não fosse estar em desvantagem física, teria esmurrado aquele olho atrevido
que, macacos a mordessem se não tinha acabado de a comparar com um jipe
ferrugento.
-
Gostava de lhe pedir um favor – continuou ele descontraído.
Mais
um? Bolas… perguntava-se Margarida.
-
Podemos tratar-nos por tu? "Você" é demasiado formal, e somos
praticamente da mesma idade, certo? - questionou ele brincando.
-
Por mim... - grunhiu Margarida - como quiser...res - corrigiu automaticamente.
- Vamos? – estar fechada num espaço tão pequeno com um homem era enervante,
quanto mais depressa chegasse ao seu carro, melhor, pensava.
-
Aproveitando que temos alguns minutos, queria dizer-te que se aceitares
ajudar-me na minha investigação, temos de reunir com regularidade - merda,
pensou ela - porque tenho toneladas de material para tu analisares, vídeos,
fotos, relatórios e é mais rápido entenderes o caso se eu te for
contextualizando e dando as minhas dicas. - resumiu ele rapidamente.
- Já
suspeitava - rematou ela.
- E
então? - questionou ele sem tirar os olhos da estrada.
-
Então o quê? - bufou Margarida.
-
Trabalhamos ou não? - questionou ele com naturalidade.
-
Acho que não tenho outra hipótese, a minha chefe pareceu bastante intimidada
com o assunto e quem sou eu para a contrariar? Para além de que, umas férias
dos livros até me vão fazer bem, estava mesmo a precisar de descontrair e
perseguir um psicopata. - ironizou ela.
Nuno
esticou a mão e sorriu genuinamente feliz,
-
Bem-vinda ao mundo do crime! - e deram um aperto de mão - Agora temos de
brindar ao nosso sucesso, conheço um bar aqui perto que tem a melhor cerveja da
cidade! - acrescentou ele alegremente.
Cerveja?
Pensou ela... De todas as bebidas alcoólicas, era a que menos gostava.
Margarida passara parte da infância no trabalho do pai, a extinta Central de
Cervejas, e ainda não tinha recuperado totalmente do cheiro da "sala azul", que
adorava visitar para olhar o gigante "penico de cobre", onde a fermentação
dos cereais empestava o local.
Nuno
conduziu até ao local enumerando os benefícios da cerveja, alguns
cientificamente corretos, constatava ela, outros apenas parvoíces que não
entendia de onde lhe saíam. Era difícil acompanhar aqueles raciocínios
masculinos, só podiam ser efeito das suas calças justas, pensava satisfeita, apreciando o trajeto noturno até ao Bar.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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