segunda-feira, 16 de abril de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 5 (1ª parte)


     


       - Amanhã não estou cá ao final do dia. – avisou-o, enquanto apanhava os lençóis já secos. – Vou jantar a casa de uma amiga.
       - Ah, eu também não posso amanhã, calha bem. – comentou, agarrando nas pontas do pano e ajudando automaticamente. – E ainda não falámos sobre o preço das aulas. – tinha de definir isso para não se sentir abusador.
      - Ontem não fizeste nada para além de dormir. Hoje já me ajudaste a lavar a roupa. – enumerou – Está saldado.
        - Não Senhora! Isso não tem jeito nenhum. – reclamou honestamente incomodado.
        - Já disse. – repreendeu-o no mesmo tom com que se dirigia a Filipe.
        - Teimosa.
        - Pois sou.
      João não insistiu mais, não valia a pena estarem a acabar o dia zangados. Iria falar com Elisabete, a mulher de César e ficaria a saber quanto custava uma aula. Não queria cá pagamentos de hippies, e ela de certeza que precisaria mais de dinheiro que ele.
        - Tudo bem. Mas vais lavar lençóis todos os dias? É que isto cansa. – brincou, levando-lhe os panos dobrados para dentro de casa, não sem que ela reclamasse desse gesto.
        - Não sei com que regularidade pensas vir ter aulas. – disse de forma prática – Eu estou sempre em casa depois do almoço, só dou aulas de manhã e durante uns meses não vou fazer voluntariado. Ainda não recuperei totalmente das últimas visitas. – explicou, sentando-se no sofá com as pernas esticadas na mesinha de centro.
        - E namoradas? – provocou ele, curioso com esse lado pessoal dela.
        - Por agora estou livre. – respondeu meio incomodada, tentando disfarçar.
       - Então, se não te importares, venho de segunda a sexta. – disse encostando a cabeça no cadeirão e sentindo-se a ceder ao cansaço.
   - Ok, isso vai-te sair caro. Não tenho roupa suficiente para lavares. – gracejou, genuinamente satisfeita por saber que iria ter a companhia dele diariamente.
       - Também sei passar a ferro.
       - Sabes? – perguntou espantada.
  - Não… - sorriu e fechou os olhos que lhe pesavam toneladas, adormecendo instantaneamente.
    - Pronto. Lá vai ele outra vez… - levantou-se e tapou-o com uma manta que tinha sempre por ali para se aconchegar a ler, dirigindo-se depois à cozinha para começar a fazer o jantar. Era muito estranha aquela necessidade que ele tinha de dormir, andaria de noite acordado?


    - Estava quase para ir à polícia denunciar um desaparecimento. – gracejou Salvador feliz por ver de novo o amigo e cumprimentando-o efusivamente.
   - Então, estás bom? Tenho andado ocupado. – explicou, pedindo-lhe um fino e uns aperitivos.
      - É muita gaja, não é? Eu compreendo. – provocou o amigo sorridente.
   - Por acaso é só uma, mas é lésbica. – respondeu João satisfeito com a cara de horrorizado de Salvador.
      - Quê? Mas agora viraste lésbico? – brincou curioso.
     - Não, ando a ter aulas de Yoga ao final do dia, e a minha professora é lésbica. – explicou bebendo o fino quase todo.
     - Mas que confusão. – exclamou abanando a cabeça – Bem, eu também já andei no Yoga, mas fartei-me. Ao menos é boa?
     - Por acaso é. – confessou meio angustiado. – Mal empregada. – Ela era de facto bonita, e embora andasse sempre vestida com uns trapos largos, conseguia perceber-se um corpo delgado, mas torneado, para além do cabelo que o agradava bastante, por ser comprido e o facto de ela ser simpática e nada fútil, também lhe davam uma certa dor de barriga. Quando estava com ela não sentia nada daquilo, estando completamente descontraído e à vontade, mas depois ficava meio esquisito, pensava culpado.
    - Deixa lá isso. – acalmou-o Salvador, como que lendo os seus pensamentos – Pode ser que ela vire. Enquanto isso não acontece, chegou a louraça que noutro dia te queria engolir a cara! – apontou divertido para a porta, afastando-se para ir atender outros clientes.
João tentou passar despercebido, mas a Nélia já o reconhecera ao longe, avançando decidida na sua direção.
     - Olá. Pagas-me um vodka laranja? Acho que é o mínimo que podias fazer, depois da outra noite. – lançou ela sorridente. Ali tinha ficado um assunto pendente e ela não era mulher de desistir tão facilmente.
   - Claro que sim. E desculpa o que aconteceu. Acho que já tinha bebido demais, estava maldisposto. – mentiu, chamando Salvador com um sinal e pedindo-lhe a bebida de forma educada.
   Nélia ficou satisfeita com a atitude e beijou-o sem pudores, voltando para o seu espaço como se nada se tivesse passado.
   - Então e hoje? Vais mostrar-me a tal surpresa? – piscou-lhe o olho traçando a perna mesmo de frente para ele.
   - Pois, parece que sim. – respondeu hipnotizado com as manobras sedutoras da loira assanhada. – Vamos dançar?


    Saíram do bar cedo, João tinha arranjado companhia sem grandes dificuldades, e estava decidido a usufruir daquela prenda fácil, conduzindo o carro em direção a casa, apressado. Nélia usava de todos os seus truques para o manter interessado, não seria descartada naquela noite, pensava orgulhosa de si mesma. Já lhe tinham dito que ele era estranho, mas rico, e juntando a isso tinha muito bom ar, o homem perfeito para agarrar. Iria proporcionar-lhe uma noite inesquecível e depois logo pensaria numa forma de o continuar a ver.
João parou o carro no loteamento privado do condomínio exclusivo em que vivia, deu-lhe a mão para a ajudar a sair do carro com aquela saia tão curta e apertada e lembrou-se de que a Marta teria sérias dificuldades em se movimentar pela quinta se andasse assim vestida. Mas de onde surgiu isto agora? Olhou para Nélia, numa tentativa de visualizar bem quem ali estava e tirar a professora de yoga da mente. Beijou-a contra o carro, violentamente e arrastou-a sem cerimónias até casa.
Entraram no apartamento silencioso e escuro e Nélia ficou encantada com o ar sofisticado de tudo aquilo. Era de facto um homem afortunado, pensava radiante. João levou-a até ao quarto e despiram-se freneticamente, numa pressa incómoda e sem sentido, constatava João, que se sentira mais excitado naquele dia a dobrar lençóis do que no quarto com uma mulher nua. Algo de errado se estava a passar, lamentava-se nervoso. Nélia estacou em cima dele, parando repentinamente os seus movimentos duros e impessoais, e João temeu o pior. Se não conseguisse terminar aquilo iria ser muito desagradável, nenhum homem gostava de ficar mal visto naquelas matérias.
- O que é isto? – perguntou Nélia inclinando-se para a mesa de cabeceira curiosa e sorridente. Pegou no livro, sem sair de cima de João e mostrou-lho, bem disposta.
- Ando a ler… - conseguiu dizer, aparvalhado com a sensação de estar a corar.
- Muito bem, Sr Dr. – ronronou Nélia – vamos lá então escolher uma página ao acaso e imitar!
- Não me parece má ideia. – disse honestamente. Pegou no livro e abriu-o, calhando numa das posições mais estranhas e humanamente impossíveis que já tinha visto. Lembrou-se de Ganesha, com todos aqueles braços, esse conseguiria de certeza acertar com aquilo. Os membros extra seriam uma vantagem. Precisava de perguntar à Marta se ela já tinha experimentado, mas lembrou-se que ela era lésbica, seria difícil fazer aquilo sem um homem, ou talvez tivessem alguma técnica diferente para gays… Não reparara que já tinha terminado tudo e que Nélia lhe beijava a boca sem o deixar respirar, libertando-se dela e fazendo um leve compasso de espera até ao momento educado de a conseguir despachar. Queria ler novamente o capítulo da parte espiritual e objectivos do Sexo Tântrico. Tinha lido tudo aquilo na diagonal, com pressa de chegar às imagens, e deveria ser interessante perceber como é que ela conseguia fazê-lo.

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(imagem, internet)

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