-
Amanhã não estou cá ao final do dia. – avisou-o, enquanto
apanhava os lençóis já secos. – Vou jantar a casa de uma amiga.
- Ah,
eu também não posso amanhã, calha bem. – comentou, agarrando nas
pontas do pano e ajudando automaticamente. – E ainda não falámos
sobre o preço das aulas. – tinha de definir isso para não se
sentir abusador.
-
Ontem não fizeste nada para além de dormir. Hoje já me ajudaste a
lavar a roupa. – enumerou – Está saldado.
- Não
Senhora! Isso não tem jeito nenhum. – reclamou honestamente
incomodado.
- Já
disse. – repreendeu-o no mesmo tom com que se dirigia a Filipe.
-
Teimosa.
-
Pois sou.
João
não insistiu mais, não valia a pena estarem a acabar o dia
zangados. Iria falar com Elisabete, a mulher de César e ficaria a
saber quanto custava uma aula. Não queria cá pagamentos de hippies,
e ela de certeza que precisaria mais de dinheiro que ele.
-
Tudo bem. Mas vais lavar lençóis todos os dias? É que isto cansa.
– brincou, levando-lhe os panos dobrados para dentro de casa, não
sem que ela reclamasse desse gesto.
- Não
sei com que regularidade pensas vir ter aulas. – disse de forma
prática – Eu estou sempre em casa depois do almoço, só dou aulas
de manhã e durante uns meses não vou fazer voluntariado. Ainda não
recuperei totalmente das últimas visitas. – explicou, sentando-se
no sofá com as pernas esticadas na mesinha de centro.
- E
namoradas? – provocou ele, curioso com esse lado pessoal dela.
- Por
agora estou livre. – respondeu meio incomodada, tentando disfarçar.
-
Então, se não te importares, venho de segunda a sexta. – disse
encostando a cabeça no cadeirão e sentindo-se a ceder ao cansaço.
- Ok,
isso vai-te sair caro. Não tenho roupa suficiente para lavares. –
gracejou, genuinamente satisfeita por saber que iria ter a companhia
dele diariamente.
-
Também sei passar a ferro.
-
Sabes? – perguntou espantada.
-
Não… - sorriu e fechou os olhos que lhe pesavam toneladas,
adormecendo instantaneamente.
-
Pronto. Lá vai ele outra vez… - levantou-se e tapou-o com uma
manta que tinha sempre por ali para se aconchegar a ler, dirigindo-se
depois à cozinha para começar a fazer o jantar. Era muito estranha
aquela necessidade que ele tinha de dormir, andaria de noite
acordado?
-
Estava quase para ir à polícia denunciar um desaparecimento. –
gracejou Salvador feliz por ver de novo o amigo e cumprimentando-o
efusivamente.
-
Então, estás bom? Tenho andado ocupado. – explicou, pedindo-lhe
um fino e uns aperitivos.
- É
muita gaja, não é? Eu compreendo. – provocou o amigo sorridente.
- Por
acaso é só uma, mas é lésbica. – respondeu João satisfeito com
a cara de horrorizado de Salvador.
-
Quê? Mas agora viraste lésbico? – brincou curioso.
-
Não, ando a ter aulas de Yoga ao final do dia, e a minha professora
é lésbica. – explicou bebendo o fino quase todo.
- Mas
que confusão. – exclamou abanando a cabeça – Bem, eu também já
andei no Yoga, mas fartei-me. Ao menos é boa?
- Por
acaso é. – confessou meio angustiado. – Mal empregada. – Ela
era de facto bonita, e embora andasse sempre vestida com uns trapos
largos, conseguia perceber-se um corpo delgado, mas torneado, para
além do cabelo que o agradava bastante, por ser comprido e o facto
de ela ser simpática e nada fútil, também lhe davam uma certa dor
de barriga. Quando estava com ela não sentia nada daquilo, estando
completamente descontraído e à vontade, mas depois ficava meio
esquisito, pensava culpado.
-
Deixa lá isso. – acalmou-o Salvador, como que lendo os seus
pensamentos – Pode ser que ela vire. Enquanto isso não acontece,
chegou a louraça que noutro dia te queria engolir a cara! –
apontou divertido para a porta, afastando-se para ir atender outros
clientes.
João
tentou passar despercebido, mas a Nélia já o reconhecera ao longe,
avançando decidida na sua direção.
-
Olá. Pagas-me um vodka laranja? Acho que é o mínimo que podias
fazer, depois da outra noite. – lançou ela sorridente. Ali tinha
ficado um assunto pendente e ela não era mulher de desistir tão
facilmente.
-
Claro que sim. E desculpa o que aconteceu. Acho que já tinha bebido
demais, estava maldisposto. – mentiu, chamando Salvador com um
sinal e pedindo-lhe a bebida de forma educada.
Nélia
ficou satisfeita com a atitude e beijou-o sem pudores, voltando para
o seu espaço como se nada se tivesse passado.
-
Então e hoje? Vais mostrar-me a tal surpresa? – piscou-lhe o olho
traçando a perna mesmo de frente para ele.
-
Pois, parece que sim. – respondeu hipnotizado com as manobras
sedutoras da loira assanhada. – Vamos dançar?
Saíram
do bar cedo, João tinha arranjado companhia sem grandes dificuldades, e
estava decidido a usufruir daquela prenda fácil, conduzindo o carro
em direção a casa, apressado. Nélia usava de todos os seus truques
para o manter interessado, não seria descartada naquela noite,
pensava orgulhosa de si mesma. Já lhe tinham dito que ele era
estranho, mas rico, e juntando a isso tinha muito bom ar, o homem
perfeito para agarrar. Iria proporcionar-lhe uma noite inesquecível
e depois logo pensaria numa forma de o continuar a ver.
João
parou o carro no loteamento privado do condomínio exclusivo em que
vivia, deu-lhe a mão para a ajudar a sair do carro com aquela saia
tão curta e apertada e lembrou-se de que a Marta teria sérias
dificuldades em se movimentar pela quinta se andasse assim vestida.
Mas de onde surgiu isto
agora? Olhou para Nélia,
numa tentativa de visualizar bem quem ali estava e tirar a professora
de yoga da mente. Beijou-a contra o carro, violentamente e arrastou-a
sem cerimónias até casa.
Entraram
no apartamento silencioso e escuro e Nélia ficou encantada com o ar
sofisticado de tudo aquilo. Era de facto um homem afortunado, pensava
radiante. João levou-a até ao quarto e despiram-se freneticamente,
numa pressa incómoda e sem sentido, constatava João, que se sentira
mais excitado naquele dia a dobrar lençóis do que no quarto com uma
mulher nua. Algo de errado se estava a passar, lamentava-se nervoso.
Nélia estacou em cima dele, parando repentinamente os seus
movimentos duros e impessoais, e João temeu o pior. Se não
conseguisse terminar aquilo iria ser muito desagradável, nenhum
homem gostava de ficar mal visto naquelas matérias.
-
O que é isto? – perguntou Nélia inclinando-se para a mesa de
cabeceira curiosa e sorridente. Pegou no livro, sem sair de cima de
João e mostrou-lho, bem disposta.
-
Ando a ler… - conseguiu dizer, aparvalhado com a sensação de
estar a corar.
-
Muito bem, Sr Dr. – ronronou Nélia – vamos lá então escolher
uma página ao acaso e imitar!
-
Não me parece má ideia. – disse honestamente. Pegou no livro e
abriu-o, calhando numa das posições mais estranhas e humanamente
impossíveis que já tinha visto. Lembrou-se de Ganesha, com todos
aqueles braços, esse conseguiria de certeza acertar com aquilo. Os
membros extra seriam uma vantagem. Precisava de perguntar à Marta se
ela já tinha experimentado, mas lembrou-se que ela era lésbica,
seria difícil fazer aquilo sem um homem, ou talvez tivessem alguma
técnica diferente para gays… Não reparara que já tinha terminado
tudo e que Nélia lhe beijava a boca sem o deixar respirar,
libertando-se dela e fazendo um leve compasso de espera até ao
momento educado de a conseguir despachar. Queria ler novamente o
capítulo da parte espiritual e objectivos do Sexo Tântrico. Tinha
lido tudo aquilo na diagonal, com pressa de chegar às imagens, e
deveria ser interessante perceber como é que ela conseguia fazê-lo.
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(imagem, internet)
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