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Compreendeu bem? – perguntou Álvaro a perder a paciência… detestava trabalhar com mulheres, eram todas burras… mas teria de aguentar esta, iria ser
vital no plano.
- Sim,… Mas, tem a certeza do que me
está a dizer? Nunca me pareceu que ele estivesse interessado em mim… - dizia
Catarina surpreendida. Estava apaixonada por Nuno, quem não estaria, pensava
ela. A ideia de que ele estava farto da convencida da Margarida e tinha
confessado ao pai que não sabia como livrar-se dela para avançar com Catarina,
era tão atractiva e entusiasmante… - Ok, eu vou ajudá-lo! Amanhã eles vão ao
escritório, de certeza, e eu avanço! – sentia-se ligeiramente apreensiva, mas
excitada com aquela reviravolta do destino. A cabra da Margarida ia ser
humilhada! – Sim, já percebi tudo. O senhor é um pai maravilhoso, o Nuno tem
muita sorte! – aquele elogio derreteu um pouco o coração de Álvaro, que
prometeu a si mesmo tentar não magoar Catarina se as coisas corressem mal.
Os três dirigiram-se o mais
calmamente possível ao andar das salas de cinema do shopping, e Margarida
inventou uma história mirabolante ao funcionário que vigiava as entradas,
piscando os olhos de forma insinuada, o que não agradou a Nuno, que se afastou
incomodado para não comprometer o sucesso do plano dela. Jorge apreciava a cena
de ciúmes do irmão e gozava com ele, aproveitando para lhe dar conselhos parvos
de como lidar com outros machos, o que enervava Nuno ao ponto de lhe querer
bater.
Margarida convenceu facilmente
o rapaz, abraçando-o em agradecimento e Nuno virou-se amuado, ameaçando o irmão
para que não ousasse dizer nada.
- Gostas delas mais novas, agora
amanha-te! – provocou Jorge satisfeito.
- Se não te calas vamos dar
espectáculo aqui na zona dos restaurantes! – rosnou Nuno.
Passados alguns minutos, Margarida
saiu esbaforida do corredor do cinema, Sofia não estava lá. Mentira ao tio,
raciocinava ela, como qualquer adolescente com intenções de namorar às
escondidas. Aquilo dificultaria muito as coisas, pensava. A miúda andava com as
hormonas aos saltos, e naturalmente queria alguma privacidade, iria ficar
furiosa com a perseguição deles os três.
- Ela não está lá dentro, as colegas
dela ficaram aflitas quando me viram. Não sabem dela. – sabiam claro, mas não
iam denunciar Sofia, constatava para si mesma.
- Não está? – gritou Nuno, fazendo
algumas cabeças girar surpreendidas com o gigante que fervia de raiva no meio
do shopping. – Vou matá-la! Nunca mais sai de casa! – ameaçava ele entre
dentes.
- Calma Nuno, ela certamente só
queria namorar e não te podia pedir autorização para isso. Mas não deve estar
longe. Já que não podemos usar os telemóveis, vamos dividir-nos pelos andares e
encontramo-nos aqui em dez minutos. – orientou ela determinada.
- Davas um óptimo polícia! – gracejou
Jorge, provocando um calafrio na espinha de Margarida, que se recordou do mesmo
elogio na fábrica abandonada. Afastou os fantasmas da mente e avançou para a
zona da varanda. Se quisesse dar uns beijinhos, seria aí que o faria, pensou
ela.
Nuno e Jorge dividiram-se pelos
andares, farejando todas as lojas prováveis, direccionados por Margarida.
Seria trágico se Nuno a
encontrasse aos linguados com um marmanjo qualquer – imaginava Margarida - o
puto nunca mais recuperaria, e Nuno muito menos. Correu em direcção à zona
exterior procurando por uma cabeça loira, e como em todos os momentos em que
alguém precisa de ver algo de concreto, todas as miúdas tinham cabelo amarelo…
Ansiosa por encontrá-la o mais rápido possível, antes de Nuno, rezava em
silêncio e deslocou-se ao passadiço que dava para a praça frente ao liceu de
Sofia. Aquele edifício não lhe trazia memórias agradáveis, estudara ali,
naquele covil de betos e amargurara bastante durante esses anos. Era uma peça
fora do baralho, estranha e escura que se recusara desde o primeiro dia a
aderir às modas locais das cores claras e scooters estilosas.
Remoía nas suas recordações
quando a viu sentada no chão, de cabeça pousada nos joelhos. Correu para ela,
aliviada, e percebeu logo o que teria sucedido com a adolescente chorosa.
- Sofia, o que se passa? –
interrogou-a carinhosamente.
- Ele acabou comigo… - fungou sem
levantar a cabeça, tentando esconder a vergonha.
- Querida, os rapazes são todos uns
parvos. Não fiques assim, eles não merecem. – consolou-a sentando-se a seu lado
e abraçando-a. - Estávamos todos preocupados contigo. Surgiu um problema lá em
casa e não te encontrávamos em lado nenhum. O teu tio está muito nervoso.
- Ele não me entende! – choramingou
Sofia. – É obcecado com as teorias de perseguição, não me deixa fazer nada, e
por causa dele o Tomás deixou-me. Estava farto de não conseguir ficar sozinho
comigo, cansou-se. – Lamentou ela confessando-se.
- Tomás? – guinchou Margarida. – Que
nome de parvalhão! Eu já conheci um e garanto-te que isso é nome de estúpido! –
gracejou – Não te preocupes, ele não sabe o que perdeu. Vamos ter com o Nuno,
ele deve andar a amedrontar toda a gente lá dentro com aquela cara de mau. –
brincou ela, feliz por se sentir capaz de lidar com Sofia.
Seguiam abraçadas para o shopping,
quando Nuno surgiu a correr desvairado, com Jorge no seu encalço, encontrando-as
a rir uma com a outra,
- Onde é que se meteram? – berrou –
Acham que temos motivos para rir?
- Tem calma, está tudo bem, a Sofia
só veio até cá fora para resolver um problema com um rapaz, não aconteceu nada
de mais. – arregalou os olhos a Nuno, que perdia as estribeiras muito
facilmente quando o assunto era a sobrinha.
- Rapaz? Mas qual rapaz? – Nuno
fervia e perdia a noção do que dizia. – E tu achas isto normal? – agora
virava-se para Margarida, que o enfrentava do alto dos seus 1,60m, protegendo
Sofia do tio enraivecido.
- Estás a fazer um drama
desnecessário. – disse firmemente – Não se passou nada, a Sofia não sabia que
estava a colocar-se em perigo, ela é uma miúda Nuno, conversamos em casa, por
favor! – concluiu continuando a caminhar decidida.
- Não te metas! – gritou ele,
fazendo Margarida voltar-se e encará-lo duramente.
- Tenho muita pena, mas tu não
mandas em mim! É melhor acalmares-te antes que as pessoas chamem a polícia,
estás a dar um lindo espectáculo. – disse terminando o confronto e dirigindo-se
a casa com Sofia pelo braço.
Nuno ficou colérico a olhar as duas
que se afastavam. Como podia ela defender Sofia? A miúda tinha de parar com
aquela atitude, tudo o que ele fazia era tentar protege-la.
Jorge olhava-o com censura,
aquilo tinha sido feio, o irmão ia ter problemas com Margarida se não
rastejasse convenientemente durante umas décadas, pensava Jorge, experiente em
mulheres de “pelo na venta”.
- Tás lixado! – disse calmamente.
- Vai à merda, tu também!
Nuno não conseguia ir para casa
naquele momento, tinha-se espalhado ao comprido, levado pelos nervos, e temia
que Margarida o olhasse novamente daquela forma desiludida. Cobardemente
meteu-se no jipe e foi esfriar a cabeça no Pub ali perto.
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(imagem, internet)
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