segunda-feira, 24 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 12 (4ª parte)



As crianças da casa chegaram da escola, com o tio Nuno, interrompendo a conversa das duas e Margarida foi obrigada a descer à Terra, travando os raciocínios que a levavam cada vez mais perto da verdade. Ela sabia que descobrira naquele momento o motivo da loucura de Álvaro. Ele tinha razões para andar tresloucado, e se ainda não tinha conseguido matá-la, fá-lo-ia com toda a certeza se ela fosse imprudente e demonstrasse saber de tudo.
Recordou-se angustiada daquele dia em que aceitara trabalhar com Nuno, os seus instintos tinham-lhe dito claramente que não era uma boa ideia, mas o seu coração ordenara-lhe dar a mão a Nuno, deixara-se convencer pelas emoções, e agora teria de lutar da forma mais inteligente que conseguisse para se manter viva, manter Nuno vivo, acabar com Álvaro. Bebeu um copo de água para esfriar o corpo de toda aquela tensão e afastou por momentos tudo aquilo dos seus pensamentos. Teria tempo para retomar aquele pesadelo.
            - Tanto tempo a cozinhar e ainda só fizeram isto? – perguntou Nuno surpreendido com a ineficácia das mulheres, ao entrar na cozinha.
            - Olha outro, armado em esperto! – reagiu Ana, disfarçando – Vá. Vão-se sentar que já levo o lanche. Empurrou Margarida e Nuno para fora da cozinha, precisava de uns momentos de solidão.
            - Não pareces muito animada por me ver... – lamentou-se Nuno, abraçando Margarida por trás dela.
            - Disparate, estive o tempo todo a chorar com saudades tuas. – brincou ela, recuperando a disposição.
            - Prometo que não vou mais às compras! – disse sorrindo. Tinha sentido a sua falta, era o primeiro dia desde que a conhecera que não tinham dormido juntos. Beijou-lhe o pescoço de forma provocadora, subindo até à orelha, apertando-a contra si, daquela forma sexy que ela adorava.
            - Vamos até à varanda! – Margarida reagia à abordagem “subtil” de Nuno, que já a conhecia bem demais, pensava ela. Um click no botão correto e o mundo deixava de ter fantasmas, insónias, psicopatas marados, apenas um gigante atraente e, o melhor de tudo, Seu.
            - Sim chefe! – respondeu ele prontamente, adorava aquelas ordens! Levou-a em peso, à sua frente, passando pela sala sem notar que a família os olhava espantada. Fechou a porta da varanda e encostou-se na parede, puxando-a contra si. Naqueles momentos ela permitia-lhe comandar, e como bom aluno, aprendera a dar a volta à professora, mandona, exigente, sisuda, mas terrivelmente deliciosa. Por ela escreveria trezentas vezes no quadro, “não torno a portar-me mal”, levaria reguadas no início, meio e fim das aulas, ficaria sentado no canto com orelhas de burro, tudo o que fosse preciso para que a sua ditadora privada estivesse satisfeita, a recompensa era tudo e mais o que nunca pensara existir.
Margarida amava-o cada vez mais e tinha necessidade de lho mostrar, ali mesmo. Aquele homem libertara-a da sua solidão, enchendo a sua vida de luz, e ela iria fazer de tudo para o curar também. Nuno nunca mais se sentiria amargurado, prometeu a si mesma.


            - Saiam já daí! – guinchou Ana do lado de dentro, arrancando as cabeças indiscretas dos gémeos que vibravam com a cena escaldante da varanda.

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(imagem, internet)

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