As crianças da casa chegaram da escola,
com o tio Nuno, interrompendo a conversa das duas e
Margarida foi obrigada a descer à Terra, travando os raciocínios que a levavam
cada vez mais perto da verdade. Ela sabia que descobrira naquele momento o
motivo da loucura de Álvaro. Ele tinha razões para andar tresloucado, e se
ainda não tinha conseguido matá-la, fá-lo-ia com toda a certeza se ela fosse
imprudente e demonstrasse saber de tudo.
Recordou-se angustiada daquele dia em que
aceitara trabalhar com Nuno, os seus instintos tinham-lhe dito claramente que
não era uma boa ideia, mas o seu coração ordenara-lhe dar a mão a Nuno,
deixara-se convencer pelas emoções, e agora teria de lutar da forma mais
inteligente que conseguisse para se manter viva, manter Nuno vivo, acabar com
Álvaro. Bebeu um copo de água para esfriar o corpo de toda aquela tensão e
afastou por momentos tudo aquilo dos seus pensamentos. Teria tempo para retomar
aquele pesadelo.
- Tanto tempo a cozinhar e ainda só
fizeram isto? – perguntou Nuno surpreendido com a ineficácia das mulheres, ao
entrar na cozinha.
- Olha outro, armado em esperto! –
reagiu Ana, disfarçando – Vá. Vão-se sentar que já levo o lanche. Empurrou
Margarida e Nuno para fora da cozinha, precisava de uns momentos de solidão.
- Não pareces muito animada por me
ver... – lamentou-se Nuno, abraçando Margarida por trás dela.
- Disparate, estive o tempo todo a
chorar com saudades tuas. – brincou ela, recuperando a disposição.
- Prometo que não vou mais às compras!
– disse sorrindo. Tinha sentido a sua falta, era o primeiro dia desde que a
conhecera que não tinham dormido juntos. Beijou-lhe o pescoço de forma
provocadora, subindo até à orelha, apertando-a contra si, daquela forma sexy
que ela adorava.
- Vamos até à varanda! – Margarida
reagia à abordagem “subtil” de Nuno, que já a conhecia bem demais, pensava ela.
Um click no botão correto e o mundo deixava de ter fantasmas, insónias,
psicopatas marados, apenas um gigante atraente e, o melhor de tudo, Seu.
- Sim chefe! – respondeu ele
prontamente, adorava aquelas ordens! Levou-a em peso, à sua frente, passando
pela sala sem notar que a família os olhava espantada. Fechou a porta da
varanda e encostou-se na parede, puxando-a contra si. Naqueles momentos ela permitia-lhe
comandar, e como bom aluno, aprendera a dar a volta à professora, mandona,
exigente, sisuda, mas terrivelmente deliciosa. Por ela escreveria trezentas
vezes no quadro, “não torno a portar-me mal”, levaria reguadas no início, meio
e fim das aulas, ficaria sentado no canto com orelhas de burro, tudo o que
fosse preciso para que a sua ditadora privada estivesse satisfeita, a
recompensa era tudo e mais o que nunca pensara existir.
Margarida amava-o cada vez mais e tinha
necessidade de lho mostrar, ali mesmo. Aquele homem libertara-a da sua solidão,
enchendo a sua vida de luz, e ela iria fazer de tudo para o curar também. Nuno
nunca mais se sentiria amargurado, prometeu a si mesma.
- Saiam já daí! – guinchou Ana do
lado de dentro, arrancando as cabeças indiscretas dos gémeos que vibravam com a
cena escaldante da varanda.
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(imagem, internet)
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