sexta-feira, 21 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 12 (3ª parte)



Margarida tinha ainda revelações a partilhar com Ana, era agora ou nunca, decidira ela,
            - É possível que o Nuno não seja filho de Afonso? – perguntou um pouco a medo, depois de a ver mais recomposta.
            - Como assim? – Ana ficou vermelha.
Margarida desconfiou que aquilo não era assim tão surpresa para ela.
– O Nuno desconfia? – acrescentou em pânico.
         - Não, ele não desconfia de nada. Eu é que descobri. Naquela noite, na fábrica, o Álvaro disse várias coisas, que na altura me pareceram não ter nexo, pensava que ele apenas estava louco. No entanto, - Margarida andava de um lado para o outro, nervosa – logo quando ele me falou pela primeira vez, me fez lembrar o Nuno. Hoje de manhã tive a certeza, eu era Catarina e ele, ali de pé, gigante, o mesmo olhar, a mesma fúria, como na fábrica… ele era Álvaro. Enorme, atraente, com os mesmos olhos. Numa situação normal, não nos apercebemos, porque o Nuno é alegre, brincalhão, tem o sorriso da mãe, mas quando está furioso, é o pai autêntico, o Álvaro.
            Ana ouvia a explicação de Margarida de lágrimas nos olhos, perturbada e resignada.
            - Mas que coisas é que o doido te disse na fábrica? Ele revelou alguma coisa sobre o Nuno? – perguntou curiosa.
            - Disse várias coisas,… que andavam todos a gozar com ele, ele tinha direitos, que a “Puta egoísta” o tinha obrigado a vê-lo durante aqueles anos todos… - e aquele nome odioso com que Álvaro se referia à mãe de Jorge e de Nuno deixou-a envergonhada. – Agora sabendo que o Nuno é filho dele, tudo faz sentido. – Margarida ainda tinha mais suspeitas, mas eram de tal forma graves que não teve coragem de as dizer naquele momento. Ana já estava perturbada o suficiente.
            - Eu também desconfiei durante muitos anos, - confessou Ana – havia qualquer coisa de estranha na forma como o Álvaro se comportava com Nuno. Era natural um certo paternalismo, um sentimento de proteção, afinal ele tinha-o visto nascer e cresceu bem perto dele. Mas parecia obcecado, não sei. Depois, um dia, o Nuno zangou-se com Álvaro, aqui em casa, e chamou-o a atenção para que não se intrometesse na sua vida, que não era seu pai, e saiu furioso, batendo a porta. – adolescência, pensou Margarida – O Álvaro ficou sozinho na sala, eu ia a entrar, mas ele não me viu. Fervia de raiva, zangado com Nuno e ouvi-o dizer entre dentes: “Sou teu pai, sim senhor!”. Saí o mais rápido possível dali, para que não me visse e fiquei de rastos. Tal como tu, sondei, junto do Jorge, uma pergunta aqui, outra ali, e descobri que o Afonso traía Manuela. Tudo se clarificou, percebi que Manuela e Álvaro deviam ter tido um caso, e Nuno seria fruto dessa relação. Mas nunca abri a boca para revelar nada, há coisas que devem morrer connosco.
            Margarida compreendia-a, talvez isso fora o que a mantivera segura aqueles anos todos, pensou. Álvaro poderia ter atacado Ana, como fizera com ela, naquela noite. Recordava-se perfeitamente de Álvaro lhe perguntar que mais sabia ela, enlouquecido pela ideia de que Margarida tivesse descoberto alguma coisa. Não compreendera na altura, mas tudo ficava bem claro agora, pensava. “Com que então a menina descobriu que eu fui paciente da Puta egoísta?”, aquela pergunta não a tinha deixado em paz desde a noite do ataque, e era o motivo pelo qual ela estivera na fábrica, para morrer. Para se calar de vez. Nuno não sabia de nada, e Álvaro não queria que soubesse. Revolvera-se na cama durante várias noites, sem entender. Agora sabia, Álvaro era pai de Nuno, ninguém desconfiava, e não deveria saber.

Mas só isso não era motivo para Álvaro a querer matar, concluía ela; a podridão não acabava ali, na verdade sobre a paternidade. Álvaro tinha de ser culpado em mais alguma coisa, algo mais grave que facilmente pudesse ser relacionado se se descobrisse que eram pai e filho… arrepiou-se dos pés à cabeça, Ana tinha razão em não querer remexer no passado…

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