Nuno
arrumava no seu quarto o resto das roupas e objetos que trouxera de casa de
Margarida, confuso com tantas tralhas que lhe pareciam desnecessárias para um
ser humano viver. Mesmo partilhando a casa com uma adolescente há vários anos,
o bicho mulher ainda o conseguia surpreender. Matutava na utilidade
desconhecida de coisas que nunca antes vira, e surpreendentemente, Sofia
vibrara com um entusiasmo exagerado ao ver tudo aquilo. Pelo menos aquelas
bugigangas serviam para unir as duas mulheres da sua vida, só por isso, já
mereciam a sua aprovação, pensava ele satisfeito.
Margarida
conversava animadamente com Sofia, cozinhando o jantar, enquanto ele lutava com
soutiens e outras peças sugestivas que o deixavam demasiado pensativo, quando
se lembrou que daí a dois dias Sofia fazia anos. Dezasseis, pensava ele, estava
a ficar demasiado crescida, e estranhou ainda não ter cães a cheirar em volta do prédio, à procura da fêmea. A sobrinha
era bonita, popular, onde andariam os namorados? Talvez Margarida conseguisse
perceber como escondia ela os seus admiradores.
-
Já terminaste? – Margarida apareceu no quarto repentinamente, surpreendendo
Nuno com a sua roupa interior nas mãos, pensativo, e sorriu. – É preciso ser
mesmo um tarado para estar escondido no quarto a cheirar as minhas cuecas!
Sinceramente… - gozou ela, fingindo escândalo.
-
Ham? – Nuno olhou as mãos, atrapalhado, e recuperou a consciência,
apercebendo-se da sua figura com aqueles trapos todos nas mãos por arrumar. –
Não é nada disso, estava a pensar na Sofia – fez uma careta de horror – Não,
quer dizer, tinha isto nas mãos, mas estava a pensar que a Sofia faz anos
depois de amanhã, dezasseis, e não há sinais de namorados… é estranho. –
confessou ele atrapalhado.
-
Não é nada estranho. Uma sobrinha de um PJ gigante não se pode dar ao luxo de
andar por aí a passear com rapazes, nem eles se atrevem a isso. Tu és muito
intimidador, sabias? – e avançou para ele, insinuando-se.
-
Ah, estou a ver, sou uma espécie de monstro que afugenta rapazes imberbes. –
disse sorrindo – Gosto disso. E a Menina também fica intimidada com este
abominável homem das neves? – largou as roupas no chão e fechou a porta do
quarto devagar, prolongando o suspense. Margarida sentiu um calafrio conhecido
ao ouvir aquela expressão, mas o avanço intenso de Nuno na sua direção
distraiu-a dos pensamentos negros que se seguiam quando recordava Álvaro. Nuno
beijou-a e o desejo do seu corpo dominou a mente, afugentando a realidade.
Queria ficar assim para sempre, nos braços daquele soporífero gigante que a
anestesiava de tudo o que era mau.
-
Desculpem lá, mas há menores cá em casa, e que eu saiba, os paizinhos só podem
procriar de noite, quando os meninos já dormem! – resmungou Sofia divertida,
abrindo a porta escancarando-a. – O jantar está pronto! – informou de braços
cruzados.
Margarida
e Nuno recompuseram-se e seguiram Sofia que sorria orgulhosa, tal como o tio faria numa situação idêntica, pensou
Margarida.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário