quinta-feira, 6 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 9 (5ª parte)



Sofia esperneava com o tio «possessivo e controlador», como “carinhosamente” o tratara no decorrer da conversa inflamada, e Margarida arrepiara-se com o olhar de Nuno quando a sobrinha lhe batera com a porta na cara e saíra de casa gritando que ele não era pai dela.
- Ela não sabe o que diz, - consolou-o Margarida – as miúdas são mesmo assim às vezes, parvas e cruéis, mas isto passa-lhe. A Sofia acha que já é crescida – e de facto era, só não compreendia o medo que Nuno sentia de que algo lhe pudesse acontecer, pensou Margarida – e quer fazer o mesmo que as amigas, sair, ir à discoteca e ver rapazes. Compreende-a por favor, não te zangues. Eu vou tentar falar com ela. – abraçou-o e ele agradeceu Margarida estar ali. Aturar uma adolescente era cada vez mais difícil.
- Se algum dia tivermos uma menina, eu torço-lhe o gasganete e tentamos de novo! – brincou ele. Margarida adorava aquele humor negro de Nuno, mas ali estava uma mensagem que lhe fez perder a vontade de rir. Afinal, ter filhos estava nos planos dele…
- Machista! – acabou por responder à piada, tentando não demonstrar o pânico que sentia no momento. Nuno já a conhecia o suficiente para perceber quando ela estava incomodada. Viu-a apressar-se para levantar a mesa e arrumar a cozinha, levantou-se para a ajudar e decidiu brincar um pouco, antes de a esclarecer, de uma vez por todas.
- É claro que se tu quiseres muito, podes ficar com a miúda, mas tratas tu dela sozinha! - continuou ele com a provocação, satisfeito.
-Ham? Qual miúda? – que tema tão impróprio para se brincar, lamentou ela desesperada – Mas estás a falar de quê? – tentou disfarçar.
- Dos nossos filhos! – aquilo dava-lhe um gozo supremo, Margarida deixava cair talheres nervosa – Se fizeres muita questão, deixo-te ficar com as bebés meninas, mas lavo daí as minhas mãos!
- Não obrigada, podes torcer-lhes o pescoço. – Margarida tentava a todo o custo safar-se daquele assunto e respondia à brincadeira de mau gosto… mas ele não se calava com aquilo porquê?
- Agora, se for rapaz, tens a minha adoração eterna! Se forem dois então, coloco-te num Altar! – era melhor parar com aquilo, pensou, uma faca caíra a poucos centímetros do pé dela, escorregando-lhe dos dedos nervosos, observava ele divertido.
- Dois? – saiu-lhe alto de mais, agora era difícil disfarçar de que filhos era tema tabu.
- Ah, sim, eu quero muitos filhos, se forem saindo sempre rapazes, podemos ter uns cinco!  – ela ficava vermelha, tentando tapar a cara com os cabelos – Eu nasci com quase cinco quilos, mas como tu és pequena, não tens de te preocupar com o parto, pode ser que não cheguem aos quatro quilos! – a respiração de Margarida ficava ofegante, já estava na hora de parar com a tortura, bastante cómica, mas exagerada, admitiu. Abraçou-a rindo, tirou-lhe as facas das mãos e sentou-a na banca da cozinha.
- Estava a brincar! – confessou calmamente – Não é preciso ficares assim, já percebi que tens medo de ser mãe. É natural, se dependesse de mim, nenhum bebé sairia do meu corpo, te garanto! – brincou e Margarida estremeceu ao imaginar o parto… nem queria pensar nisso, só esperava que aquela conversa de momentos antes fosse mesmo brincadeira…
- Desculpa, só fiquei surpreendida com o facto de pensares em ter filhos comigo. – esclareceu omitindo a totalidade dos seus receios.
- Mas porque raio não quereria ter filhos contigo? Tens algum problema genético que possas passar às crianças? – gracejou e preparou-se para o momento – Margarida, eu Amo-te. Eu não quero ter filhos contigo, quero ter Tudo contigo.
Ficaram em silêncio, de olhares presos um no outro. Margarida podia ter esperado tudo daquela conversa maluca, menos um desfecho tão maravilhoso.
- Então faça favor! – disse comovida com aquela declaração de amor. Sorriu e beijou-o.

Nuno sentia-se nas nuvens com a confirmação de que ela queria o mesmo que ele. Era bastante confiante das suas capacidades, mas Margarida era a Tal, e sendo assim, não lhe bastava saber que ela gostava dele. Ela teria que querer ser dele. Beijou-a de volta, confirmando aquela união eterna entre tachos e panelas, e quis sacramentar ali mesmo a cerimónia. Arredou furiosamente as loiças para ganhar espaço naquele Altar improvisado onde iria materializar toda a sua Fé naquela mulher. Amén, pensou divertido.

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(imagem, internet)

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