terça-feira, 4 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 9 (3ª parte)



Jorge e Jaime conversavam em surdina isolados numa mesa do bar da PJ, evitando os colegas que bebiam café e discutiam futebol animados. Tinham iniciado uma caça ao homem secreta, mas o chefe parecia ter-se evaporado da face da Terra. Reviam as teorias de cada um, frustrados por não terem avançado nada desde o dia em que Nuno lhes contara todos os acontecimentos que envolviam Margarida e Álvaro. Jorge revoltara-se com aqueles factos, soltando ameaças terríveis e promessas de sangue se apanhasse o chefe pela frente. Jaime, por sua vez, ficara abatido, simplesmente estupefacto com a ideia de que trabalhava com um louco e nunca dera por isso. Nuno tinha um plano alinhavado, mas os três sabiam que, com Álvaro, qualquer operação seria de risco. Ele era o cérebro da PJ.
- O Nuno suspeita que o Álvaro sabe o que aconteceu aos nossos pais, à Sara e ao Paulo. – comentava Jorge abatido, enquanto Jaime olhava fixamente o relatório discriminado das escutas de telefone das últimas semanas.
Para ele, teria de haver esturro naquelas informações secretas a que eles tinham acesso, depois de autorizados por um superior.
Como suspeitava, havia uma escuta ilegal no último mês, precisamente na altura em que tudo se tinha sucedido. Os números de telefone requisitados eram cinco. Precisava do seu computador para confirmar quais e onde era recebida a transmissão das chamadas. Talvez fosse aquela a pista que eles precisavam.
- Anda pá, acho que descobri alguma coisa! – Jaime saiu disparado em direcção à sua sala, seguido por Jorge que esfregava as mãos de entusiasmo.
O escritório de Jaime era escuro e bafiento, cheio de plasmas, teclados, e aparelhos de gps, uma confusão onde só ele se entendia, matutava Jorge ao entrar naquele «buraco negro», como gostava de se referir ao local.
- Há um pedido de escutas que não me passou pelas mãos, e foi feito directamente na central. Só o Álvaro podia fazer isso, mais ninguém. Agora temos de descobrir que números é que ele anda a espiolhar e onde recebe as transmissões.
Jaime embrenhava-se naqueles milhentos computadores e Jorge admirava os jovens com paciência para aquelas geringonças que lhe davam sono. Para ele, um computador só prestava se servisse para ver gajas boas.
- Não vais gostar disto. Tu, o Nuno, a Margarida e outros dois números estão a ser ouvidos há três semanas. – Jaime lamentou aquela invasão de privacidade, que todos os PJ sabiam bem como funcionava. Ouviam-se conversas do arco da velha, segredos íntimos dos suspeitos do dia-a-dia, e era bastante útil na maioria dos casos, mas um colega ser espiado era outra história.
- Filho da Puta, quando o apanhar leva dois murros na tromba que o mato! – vociferou Jorge enraivecido por se saber “escutado”.
Apercebeu-se com horror de que Ana e Sofia também estavam na lista. Todos eles eram monitorizados por Álvaro, essa era a explicação para o que Nuno lhes relatara do comportamento do chefe. Ele era o melhor policial da Unidade, mas daí a ser adivinho, a história mudava de figura, e Jorge recordava-se de estranhar o facto de Margarida garantir que Álvaro sabia da conversa entre ele e o irmão quando este lhe telefonou querendo saber se os pais eram felizes ou não. “Com que então descobriu que eu fui paciente da Manuela” – Margarida tinha omitido o facto de que Álvaro falava da mesma forma que Nuno e que tratava a mãe dos polícias como «puta egoísta». Só podia ter sido o telefonema de Nuno a denunciar Margarida, quando este o informou que ela reconhecera um paciente nas fotos do relatório sobre Manuela, concluiu Jorge.

Ficou subitamente branco, Sofia era “escutada”… O gajo não se atreveria… - constatou horrorizado e saiu em direcção a casa de Nuno, deixando Jaime a esmiuçar mais pormenores agarrado aos teclados. Agora teriam de fazer as coisas à antiga, pessoalmente. Estava farto da tecnologia, sempre soube que ainda lhe iriam dar razão um dia, e ali estava a confirmação, as máquinas só lixavam a vida às pessoas, pensava ele.

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(imagem, internet)

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