segunda-feira, 17 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 11 (2ª parte)



Ana entrou de repente na sala, carregada de manuscritos, e gritou ao ver Margarida arroxeada, caída no chão.
- Nuno! Rápido, acode aqui!! – berrou descontrolada.
Nuno, que chegara à editora minutos antes e ajudava Ana a transportar uma quantidade enorme de papéis para a sala de Margarida, largou tudo no chão do corredor, correndo em direção ao grito.
- O que foi? – disse ansioso, e estacou ao ver Margarida a sufocar. Levou a mão ao bolso e retirou a bomba de asma, que estranhara ver no móvel de entrada de casa, mas que lhe parecera uma deixa dela para que ele a procurasse no trabalho. – Ela não consegue respirar, merda! – ajoelhou-se junto dela e tentou reanimá-la o suficiente para conseguir dar-lhe o remédio. – Vá lá, querida, por favor, respira. Não me deixes, por favor. Respira. – suplicava aos seus ouvidos.
Ana chorava com os nervos e debatia-se com a dúvida de chamar uma ambulância, mas o telemóvel estava a ser vigiado e na sala de Margarida não havia telefone, o que a fez descontrolar-se ainda mais.
Margarida começava a receber ar nos pulmões que relaxavam com o Ventilan, e ouvia as súplicas apaixonadas de Nuno, que não batiam certo com as informações que Catarina lhe tinha dado momentos antes. Ele tinha-a repelido no confronto com Sofia, já não gostava dela, queria terminar e não sabia como, andava triste com isso, e o mais grave de tudo, estivera com Catarina, enumerava ela com tristeza.
- Por favor Margarida, não me faças isto!
Nuno pedia-lhe que não morresse, mas porquê? Seria possível que a quisesse viva?
Depois de alguns instantes começou a recuperar totalmente a consciência e sentiu-se desconfortável com aquele contacto físico com o homem que a renegara.
- Já me podes largar, obrigada. Já estou melhor. – disse secamente, esforçando-se por se por de pé sem ajudas. Não havia necessidade de prolongar aquela aproximação, pensava ela com mágoa.
- Estás melhor?! – vociferou.
Nuno perdia as estribeiras confundido com o comportamento frio dela e Ana arregalava os olhos amedrontada com os modos do cunhado.
- Sim, estou melhor! Obrigada por me teres trazido a bomba, foi uma parvoíce minha sair de casa sem verificar se a tinha comigo. – disse de forma impessoal, lutando contra a vontade de cair nos seus braços.
- Ana, por favor, preciso de falar com ela. – disse secamente.
Ordenou a saída de Ana, que fugiu sem hesitação. Algo de muito grave se estava a passar e quanto menos ela presenciasse melhor, pensava. 
- Preciso trabalhar, Nuno. – Margarida tentava encontrar firmeza na voz para encarar o gigante.
- E eu preciso de esclarecer uma coisa contigo. Senta-te. – mandou com firmeza.
Ela obedeceu, com os nervos à flor da pele, teria de ser forte para ouvir aquilo, engoliu em seco e encarou-o. Chegara o momento que receava, o fim.
- Diz, mas rápido.
Nuno estava desorientado com aquela mulher, não compreendia a amargura dela. O batom da noite anterior tinha sido grave, mas tinha explicação! Que raio de feitio, pensava ele mantendo um ar decidido.
- Ontem fui estúpido contigo e com a Sofia. Desculpa-me, não podia ter-te dito aquilo. É claro que tens de te meter, não és pessoa de ficar calada se vires uma injustiça, e esse é um dos motivos porque te amo. – esclareceu.
Margarida não percebia, mas afinal amava?
– Depois de teres ido embora com a Sofia para casa fiquei envergonhado com o meu comportamento – confessou ele – e não tive coragem de te encarar, precisava de beber uma cerveja e pensar a melhor forma de te pedir desculpa.
 E telefonaste à tua confidente para ir contigo, pensava enfurecida.
- Quando cheguei ao Pub, estava lá a parva da Catarina que, sem eu querer, se sentou na minha mesa a chatear-me com perguntas. Levantei-me para vir embora, mas ela pediu-me boleia. Estava sem carro, achei que não tinha mal. Deixei-a em casa e ela deu-me um beijo na cara. – Nuno sentiu a barriga torcer-se, se ouvisse aquele relato da boca de Margarida partiria tudo à sua volta, não era de facto uma situação agradável. – Compreendes?
Margarida olhava-o confusa. Nunca duvidaria da palavra dele, claro, mas então porque é que Catarina tinha confundido as suas tonturas com tristeza? Como é que ela suspeitaria que estavam chateados? Havia ali qualquer coisa que não batia certo.
- Não foi essa a versão que ouvi dela. – por muito que lhe custasse, teria de engolir o orgulho e contar-lhe a cena de novela mexicana que tinha vivido momentos antes. Noutros tempos, sairia porta fora e nunca mais atenderia o telefone ao tipo. Homem nenhum valia passar por humilhações semelhantes, relembrou-lhe a antiga Margarida.
- Versão? Não percebo. – estava confuso, mas queria esclarecer tudo de uma vez – O que te contou ela? – Nuno esperava que Catarina não fosse burra ao ponto de tentar magoar Margarida, sentia o sangue ferver.
- A Catarina disse que lhe telefonaste ontem, – aquelas palavras saíam-lhe dificilmente, a nova Margarida lutava por aquele homem! – estavas chateado e querias conversar. Depois foram beber uma cerveja, deste-lhe boleia e… - as lágrimas queriam cair, maldita dependência emocional, lamentava Margarida – aconteceu…
Nuno não disse nada. Hirto, abriu a porta e saiu disparado deixando-a sozinha e receosa de que afinal era mesmo verdade o que Catarina contara.
- Aiiiiiii – ouviu um grito vindo do fundo do corredor.
- Silêncio! – Nuno berrou e entrou pela sala com Catarina pelo braço, que se contorcia de dor com aquela mão gigante que a apertava. Fechou a porta e sentou-a violentamente na cadeira. Margarida sobressaltou-se com aquela visão, recordando a sua experiência com Álvaro e olhou Nuno com pânico, fez-se luz na sua mente e ali estava a resposta. Eram Pai e Filho. Conseguia ver nele os mesmos traços atraentes e duros de Álvaro, o ódio no seu olhar, a voz, engoliu em seco.
- Diz-lhe imediatamente que é tudo mentira! – Nuno explodia em direção a Catarina, que tremia na cadeira… como ela na fábrica… pensava angustiada, Margarida.
- É mentira… - sussurrou Catarina, chorando.
- Porque disseste tudo aquilo? – gritou novamente.
Catarina encolheu-se retesando todos os músculos do corpo, como se esperasse ser agredida. Margarida viu-se novamente sentada numa cadeira, um gigante, e o medo.
- Para! Para com isso Nuno, eu já percebi! – Margarida não aguentava ver a materialização das suas recordações, era demasiado violento tudo aquilo, mesmo em Catarina. – Deixa-a ir, por favor. – pediu, olhando-o em busca de um contacto visual que o trouxesse novamente à realidade.
Nuno largou a funcionária, que saiu da sala em choque com a reação violenta do polícia, e sentou-se com as mãos na cabeça, com a adrenalina a pedir-lhe mais.
Margarida abraçou-o e deixou-o acalmar-se. O seu gigante era seu novamente, e precisava dela, mais que nunca, agora que teria de enfrentar mais um fantasma que ainda não conhecia. A dificuldade seria dizer-lho, quando, como…
- Esquece a Catarina, por favor. Não vale a pena, temos mais coisas com que nos preocupar. – confessou.
- Desculpa-me. Não me tornes a escapar pelos dedos, por favor. – suplicou sentando-a no seu colo. Nuno transfigurava-se, num momento um gigante, noutro um rapazinho assustado com demasiadas perdas na vida.
Margarida beijou-o, e enroscou-se nele. Aquele era o melhor lugar do mundo, onde temera por instantes nunca mais poder estar e isso quase a matara de desgosto.
Ficaram naquela posição durante um tempo, recuperando as horas perdidas da noite anterior. Pela primeira vez o amor dos dois tinha sido testado, Margarida duvidara dos sentimentos de Nuno com demasiada facilidade, recriminava-se. Ainda não se tinha habituado totalmente a ser amada daquela forma, era demasiado bom para ser verdade e secretamente pensava que não o merecia. Talvez não merecesse, concluía, apenas vivesse um sonho, mas fosse qual fosse o motivo para aquela prenda do destino, Margarida nunca mais seria a mesma.
Nuno pigarreou, denunciando que a conversa ainda não tinha acabado.
- Que saia é esta?! – perguntou.
Dinis de braços cruzados a olhá-la de forma recriminadora, pensou ela.
- É uma saia que ainda não tinhas visto. – confessou divertida.
- É difícil de ver, sabes? Quase não existe! – gracejou em tom de censura.
Estava ciumento, constatou feliz da vida.

- Não vais gostar do vestido que comprei para usar amanhã na festa da Sofia – provocou ela.

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(imagem, internet)

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