quarta-feira, 12 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 10 (3ª parte)




Ao entrar no bar deu de caras com Catarina e ficou ainda mais irritado do que antes, aquela tipa era chata, demasiado dengosa para o seu gosto. Fingiu não a ter visto e isolou-se num canto. Pediu uma caneca de cerveja, a maior de todas, queria tentar enganar os sentimentos, refugiando-se naquela anestesia momentânea que o álcool permitia aos estúpidos, pensou. Bebeu metade de uma só vez e sacou de um cigarro, distraindo-se com a televisão que passava um jogo qualquer da liga espanhola. Não conseguia, no entanto, tirar da cabeça aquele olhar, a desilusão que ele tinha dado a Margarida. Pegou no telefone e retraiu-se de lhe ligar, não podia informar Álvaro de que ela estava sozinha em casa com Sofia. Observou amargurado todas as fotos que tinha dela no telemóvel. Era linda, alegre, e uma das suas razões de viver. Estava tão absorto na sua tristeza que nem viu que Catarina se sentara na sua mesa sem pedir licença.
            - Olá Nuno! Está tudo bem? – perguntou Catarina interessada naquela atitude deprimida do polícia. Já deve ter terminado tudo com ela, pensava esperançosa.
            - Olá Catarina. Hoje não estou bom para conversas. Pode deixar-me sozinho? – aquilo era uma ordem, mas Catarina não era perspicaz e não obedeceu.
            - Parece triste… Posso ajudar? – questionou sugestivamente.
            Nuno engoliu o resto da cerveja e levantou-se silenciosamente, ignorando a rapariga. Esta segui-o, descaradamente, pagando o que devia e saindo do Pub no seu encalço.
            - Nuno, pode dar-me boleia? – aí estava a oportunidade, pensou ela – Fiquei sem carro e está tarde. – mentiu.
            - Ok, entre. – disse secamente. Não gostava dela, mas não custava nada dar-lhe boleia, concluiu.
            Entraram no jipe e Nuno teve de a ajudar com o cinto, como acontecia com Margarida, pensou com remorsos por ali ter a seu lado outra mulher.
            - Obrigada! – agradeceu animada – Moro no Norton de Matos. – indicou-lhe prontamente.
            - Vamos lá então. – disse sem sentimento.
            - Hoje não está nos seus dias, aconteceu alguma coisa? – perguntou curiosa.
            - Nada de especial, coisas de trabalho. – mentiu tentando não lhe dar corda, não estava com paciência para tolas.
            - Pode confiar em mim, se é por causa da Margarida, talvez possa ajudar! – Catarina tentava perceber se Nuno já tinha terminado aquela relação. O pai garantira-lhe que ele se sentia atraído por ela, mas estranhamente Nuno nem sequer olhava para a sua mini-saia.
            - A Margarida está muito bem, obrigada. – a parva não tinha inteligência nenhuma, pensava. E aquelas manobras de traçar as pernas já o estavam a enervar. Noutros tempos não tinha perdido a oportunidade, mas desde Margarida que as outras eram como vidro, transparentes. Não aqueciam nem arrefeciam. Sentia-se um canalha e precisava de voltar para casa depressa, pôr-se de joelhos, rastejar, o que fosse preciso para que a sua mulher o perdoasse.
Depois de voltas e mais voltas, pelas esquinas geométricas do bairro, chegaram a casa de Catarina e ele suspirou de alívio,
– Chegámos. Adeus.

            - Obrigada pela boleia Nuno, até amanhã. – e inclinou-se para lhe dar um beijo na cara, carregado de luxúria. Saiu do jipe, sorridente. Esperava que Margarida visse a marca de batom, pensou orgulhosa.

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(imagem, internet)

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