Ao entrar no bar deu de caras com Catarina
e ficou ainda mais irritado do que antes, aquela tipa era chata, demasiado
dengosa para o seu gosto. Fingiu não a ter visto e isolou-se num canto. Pediu
uma caneca de cerveja, a maior de todas, queria tentar enganar os sentimentos,
refugiando-se naquela anestesia momentânea que o álcool permitia aos estúpidos,
pensou. Bebeu metade de uma só vez e sacou de um cigarro, distraindo-se com a
televisão que passava um jogo qualquer da liga espanhola. Não conseguia, no
entanto, tirar da cabeça aquele olhar, a desilusão que ele tinha dado a
Margarida. Pegou no telefone e retraiu-se de lhe ligar, não podia informar
Álvaro de que ela estava sozinha em casa com Sofia. Observou amargurado todas
as fotos que tinha dela no telemóvel. Era linda, alegre, e uma das suas razões
de viver. Estava tão absorto na sua tristeza que nem viu que Catarina se
sentara na sua mesa sem pedir licença.
- Olá Nuno! Está tudo bem? –
perguntou Catarina interessada naquela atitude deprimida do polícia. Já deve
ter terminado tudo com ela, pensava esperançosa.
- Olá Catarina. Hoje não estou bom
para conversas. Pode deixar-me sozinho? – aquilo era uma ordem, mas Catarina
não era perspicaz e não obedeceu.
- Parece triste… Posso ajudar? –
questio nou sugestivamente.
Nuno engoliu o resto da cerveja e
levantou-se silenciosamente, ignorando a rapariga. Esta segui-o,
descaradamente, pagando o que devia e saindo do Pub no seu encalço.
- Nuno, pode dar-me boleia? – aí
estava a oportunidade, pensou ela – Fiquei sem carro e está tarde. – mentiu.
- Ok, entre. – disse secamente. Não
gostava dela, mas não custava nada dar-lhe boleia, concluiu.
Entraram no jipe e Nuno teve de a
ajudar com o cinto, como acontecia com Margarida, pensou com remorsos por ali
ter a seu lado outra mulher.
- Obrigada! – agradeceu animada –
Moro no Norton de Matos. – indicou-lhe prontamente.
- Vamos lá então. – disse sem
sentimento.
- Hoje não está nos seus dias,
aconteceu alguma coisa? – perguntou curiosa.
- Nada de especial, coisas de
trabalho. – mentiu tentando não lhe dar corda, não estava com paciência para
tolas.
- Pode confiar em mim, se é por
causa da Margarida, talvez possa ajudar! – Catarina tentava perceber se Nuno já
tinha terminado aquela relação. O pai garantira-lhe que ele se sentia atraído
por ela, mas estranhamente Nuno nem sequer olhava para a sua mini-saia.
- A Margarida está muito bem,
obrigada. – a parva não tinha inteligência nenhuma, pensava. E aquelas manobras
de traçar as pernas já o estavam a enervar. Noutros tempos não tinha perdido a
oportunidade, mas desde Margarida que as outras eram como vidro, transparentes.
Não aqueciam nem arrefeciam. Sentia-se um canalha e precisava de voltar para
casa depressa, pôr-se de joelhos, rastejar, o que fosse preciso para que a sua
mulher o perdoasse.
Depois de voltas e mais voltas, pelas
esquinas geométricas do bairro, chegaram a casa de Catarina e ele suspirou de
alívio,
– Chegámos. Adeus.
- Obrigada pela boleia Nuno, até
amanhã. – e inclinou-se para lhe dar um beijo na cara, carregado de luxúria.
Saiu do jipe, sorridente. Esperava que Margarida visse a marca de batom, pensou
orgulhosa.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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