terça-feira, 18 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 11 (3ª parte)



-Mas correu mal porquê? – gritou Álvaro ao telefone. Tivera um mau pressentimento quando lhe telefonou a primeira vez. Conversas patetas, risinhos histéricos, uma série de indícios que um polícia não desdenha, mas Catarina poderia ter sido perfeita, se colaborasse, e simplesmente executasse as suas orientações. Coordenar homens era mais simples e eficaz, não pensavam, não discutiam, não avaliavam prós nem contras, estavam treinados para obedecer e pronto! Álvaro sentia-se a explodir de raiva, perdera a melhor chance de os separar. Se aquela idiota não o conseguia fazer, ali, no local ideal, mais ninguém o faria.
            Um pequeno percalço, dizia a si próprio para se acalmar. Tinha tempo, não havia pressas, e ainda havia aquela pedra no sapato de Nuno, a linda Sofia. Se Margarida o amasse, faria tudo para o proteger, e muito mais ainda para salvar a adorada sobrinha, concluía satisfeito.
            - Então e agora? – Catarina insistia no plano, exasperando o polícia. Queria vingança. Perderia o emprego certamente, Nuno tratara-a como lixo e odiava Margarida ainda mais.
Álvaro podia ainda usar a tolinha, só precisava pensar como. Não fecharia aquela porta, por agora. Uma mulher despeitada era mais letal que um exército, concluía.
- Tem calma, querida, amanhã telefono-te. Não fiques preocupada. Tudo a seu tempo. – o estômago de Álvaro revolveu-se de nojo com os modos que era obrigado a utilizar com Catarina.
Desligou o telefonema e sentou-se no seu local de trabalho, encheu novamente o copo e dedicou-se ao seu trabalho de casa. As escutas eram cada vez menos úteis, pouco ou nada era dito, talvez andassem desconfiados de que ele os ouvia. Aquele Jaime era bom, mas não era um simples operador que lhe ia passar a perna, rosnava com ódio.
Olhou a sua agenda elaborada e relembrou-se de que Sofia fazia anos no dia seguinte, a família iria estar toda junta, era vital descobrir onde. Uma ideia surgiu-lhe, fazendo-o vibrar de excitação. Precisava de ir à Unidade sem que ninguém o visse.


- Posso entrar? – Ana temia que o ambiente na sala de Margarida ainda estivesse pesado, e suspirou de alívio ao vê-los sentados um no outro. Era estranho para ela assistir a cenas domésticas que envolviam Nuno, sempre tão contido e discreto nos seus relacionamentos. Margarida tinha-o na mão, pensava ela satisfeita. A sua experiência de vida tinha-a ensinado que, uma mulher que não é adorada pelo homem, sofria imenso. Vira isso de perto na família do marido. Manuela não fora a grande paixão de Afonso, e isso valera-lhe vários anos de traições e humilhações, relembrava com pesar. Mas ali a história era outra, Margarida era forte, decidida e tinha enfeitiçado Nuno a ponto de ele se ajoelhar e pedir perdão… Grande mulher!, observava, orgulhosa da sua melhor funcionária.
- Sim, entra. – respondeu Nuno – Desculpa a cena de há bocado aqui na tua editora, ando com os nervos em franja.
- Não é preciso pedires desculpa, querido. Se aquela bisca aprontou alguma entre vocês os dois vai ser posta a andar daqui para fora! Não posso ter a trabalhar connosco uma pessoa assim, para além de que as qualidades profissionais dela deixam muito a desejar. – confessou Ana.
- Coitada, - disse Margarida genuinamente – a rapariga não aguentou o charme aqui do senhor testosterona. – brincou.
- Coitada? Ela não teve aquilo que merecia! – bradou Nuno ainda colérico – Se tu não tivesses pedido para a largar, acho que lhe deixava um olho negro!
- Pronto, mas agora já passou. – disse Ana maternalmente, querendo rapidamente mudar o tema da conversa. Tinha preocupações diferentes, mas que não deixavam de ter o seu grau de importância! Era, por isso, essencial aproveitar o facto de que Margarida e Nuno já estavam bem para obter ajuda dos dois nos seus planos de coordenadora de eventos familiares – Há uma festa para organizar, e é já amanhã! Eu estou nervosíssima com aquilo que ainda há para fazer! Não é todos os dias que uma menina faz dezasseis anos, quero que tudo seja perfeito! – Ana vibrava com celebrações – Margarida, vamos tirar o resto do dia, os papéis podem esperar e preciso da tua ajuda. Nuno, tu vais fazer-me o favor de ir às compras, porque o teu querido irmão é um aselha que confunde tudo e passa o tempo todo a ligar-me. Não distingue alhos de bugalhos! Tenho aqui a lista. Nós as duas vamos para minha casa e esperamos-te lá. Ah, e depois trazes os meninos da escola! – distribuiu energicamente as tarefas, excitada com os preparativos.
Os dois obedeceram sem reclamar, uma festa iria distrair um pouco a cabeça e aliviar o ambiente. Porém, antes de sair da sala, Nuno retirou o casaco e colocou-o nos ombros de Margarida. - Deves pensar que, só porque ias morrendo, te deixava sair daqui com o rabo à mostra! – disse em tom de censura.
- Machão! – a cunhada adorava cada vez mais aquele Nuno, e piscou o olho a Margarida, satisfeita.

- Sim, paizinho. – disse Margarida ironicamente, feliz por ter de novo aquele gigante a seus pés.

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

Sem comentários:

Enviar um comentário