No
“buraco negro”, Jaime ainda se encontrava debruçado nos seus aparelhos modernos
de vigilância. Por mais que desse voltas à cabeça, não conseguia descobrir uma
forma de eliminar as escutas ilegais aos cinco telefones, sem ser detectado por Álvaro. O chefe conhecia melhor que ninguém o funcionamento das tecnologias e
qualquer passo em falso seria perigoso para Jaime, pensava angustiado. A última
coisa que queria era prejudicar o seu trabalho, mas Nuno e Jorge precisavam de
um amigo naquele momento, e ele não os iria desiludir. No dia seguinte iria
aconselhá-los a comprar novos telefones, de carregamento, para poderem
comunicar todos livremente. Desligou os Pcs e deu por terminado aquele dia na
Unidade, em casa continuaria a pesquisa, pensou.
Sofia acabou por adormecer no sofá à
espera do tio . Margarida pedira-lhe para fazer as pazes
com Nuno, insistindo de que ele apenas tinha sido agressivo porque estava muito
nervoso e preocupado. Ele amava-a muito. Margarida ficara sentada junto dela,
aguardando a chegada do polícia, e temia que alguma coisa tivesse acontecido,
não era costume ele sair sozinho, muito menos de noite.
Ouviu barulho no prédio e dirigiu-se
à porta de casa, espreitando pelo óculo. Viu Nuno e abriu a porta, ansiosa.
- Então? Passou-se alguma coisa?
Estava preocupada, e não te podia telefonar… - lamentou.
- Não, não se passou nada, temos de
falar. – Nuno tinha de lhe pedir perdão, não aguentava a culpa e os remorsos de
ter sido uma besta.
Entraram e Nuno ficou comovido ao
ver Sofia a dormir no sofá, parecia pequena, como antigamente. Olhou Margarida
para iniciar o seu discurso de arrependimento quando a viu parada e hirta, de
olhos negros e fulminantes.
- O que foi? – não compreendia
aquela mudança repentina de comportamento. Teria acontecido alguma coisa
durante a sua ausência? Aquele olhar não era bom sinal. Os seus 1,90m não lhe
traziam nenhuma vantagem naquele momento, sentia-se pequeno, demasiado pequeno,
pensava engolindo em seco.
- Não foi nada, Nuno. Boa noite. –
disse de modo frio.
Fechou-se no quarto e trancou a porta.
Nuno ficou estático junto ao sofá, perdido.
As mulheres eram demasiado
incompreensíveis, mas Margarida não costumava ser irracional, pelo menos desde
que se tinham apaixonado. Tinha de tentar perceber o que se passava. Bateu à
porta do quarto, mas Margarida não respondeu, ficando em silêncio. Devia estar
muito magoada com ele, bolas…, pensou. Depois de várias tentativas, desistiu de
tentar entrar no seu quarto, e foi ao quarto de banho para lavar os dentes e
tirar a roupa.
Olhou o espelho e ficou branco. – Merda…
- marca de batom na sua cara. - Filha da mãe – rosnou.
Álvaro delirou com aquele telefonema
de Catarina. A parva conseguira avanços com Nuno sem ser preciso ele mexer os
cordelinhos, e tinha de confessar que a ideia da marca de batom era excelente!
Felicitou-a e prometeu-lhe interceder por ela junto do filho, enganando-a sem
remorsos. Era tão simples lidar com aquela rapariga que até dava pena, concluía
Álvaro, desligando o telefone.
Se queres vencê-los, separa-os,
tinha ordenado a si próprio quando estudava uma forma de atacar a dupla de
investigadores que lhe tinham retirado o sossego. Agora que estavam “tremidos”,
e iriam ficar ainda mais, se Catarina soubesse fazer a sua parte, era bem mais
fácil de apanhar Margarida e resolver a questão. Encheu o copo e brindou com a
sua imagem reflectida na janela, “Tchim Tchim”!
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(imagem, internet)
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