quinta-feira, 13 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 10 (4ª parte)




No “buraco negro”, Jaime ainda se encontrava debruçado nos seus aparelhos modernos de vigilância. Por mais que desse voltas à cabeça, não conseguia descobrir uma forma de eliminar as escutas ilegais aos cinco telefones, sem ser detectado por Álvaro. O chefe conhecia melhor que ninguém o funcionamento das tecnologias e qualquer passo em falso seria perigoso para Jaime, pensava angustiado. A última coisa que queria era prejudicar o seu trabalho, mas Nuno e Jorge precisavam de um amigo naquele momento, e ele não os iria desiludir. No dia seguinte iria aconselhá-los a comprar novos telefones, de carregamento, para poderem comunicar todos livremente. Desligou os Pcs e deu por terminado aquele dia na Unidade, em casa continuaria a pesquisa, pensou.


            Sofia acabou por adormecer no sofá à espera do tio. Margarida pedira-lhe para fazer as pazes com Nuno, insistindo de que ele apenas tinha sido agressivo porque estava muito nervoso e preocupado. Ele amava-a muito. Margarida ficara sentada junto dela, aguardando a chegada do polícia, e temia que alguma coisa tivesse acontecido, não era costume ele sair sozinho, muito menos de noite.
            Ouviu barulho no prédio e dirigiu-se à porta de casa, espreitando pelo óculo. Viu Nuno e abriu a porta, ansiosa.
            - Então? Passou-se alguma coisa? Estava preocupada, e não te podia telefonar… - lamentou.
            - Não, não se passou nada, temos de falar. – Nuno tinha de lhe pedir perdão, não aguentava a culpa e os remorsos de ter sido uma besta.
            Entraram e Nuno ficou comovido ao ver Sofia a dormir no sofá, parecia pequena, como antigamente. Olhou Margarida para iniciar o seu discurso de arrependimento quando a viu parada e hirta, de olhos negros e fulminantes.
            - O que foi? – não compreendia aquela mudança repentina de comportamento. Teria acontecido alguma coisa durante a sua ausência? Aquele olhar não era bom sinal. Os seus 1,90m não lhe traziam nenhuma vantagem naquele momento, sentia-se pequeno, demasiado pequeno, pensava engolindo em seco.
            - Não foi nada, Nuno. Boa noite. – disse de modo frio.
Fechou-se no quarto e trancou a porta. Nuno ficou estático junto ao sofá, perdido.
As mulheres eram demasiado incompreensíveis, mas Margarida não costumava ser irracional, pelo menos desde que se tinham apaixonado. Tinha de tentar perceber o que se passava. Bateu à porta do quarto, mas Margarida não respondeu, ficando em silêncio. Devia estar muito magoada com ele, bolas…, pensou. Depois de várias tentativas, desistiu de tentar entrar no seu quarto, e foi ao quarto de banho para lavar os dentes e tirar a roupa.
Olhou o espelho e ficou branco. – Merda… - marca de batom na sua cara. - Filha da mãe – rosnou.


            Álvaro delirou com aquele telefonema de Catarina. A parva conseguira avanços com Nuno sem ser preciso ele mexer os cordelinhos, e tinha de confessar que a ideia da marca de batom era excelente! Felicitou-a e prometeu-lhe interceder por ela junto do filho, enganando-a sem remorsos. Era tão simples lidar com aquela rapariga que até dava pena, concluía Álvaro, desligando o telefone.

            Se queres vencê-los, separa-os, tinha ordenado a si próprio quando estudava uma forma de atacar a dupla de investigadores que lhe tinham retirado o sossego. Agora que estavam “tremidos”, e iriam ficar ainda mais, se Catarina soubesse fazer a sua parte, era bem mais fácil de apanhar Margarida e resolver a questão. Encheu o copo e brindou com a sua imagem reflectida na janela, “Tchim Tchim”!

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(imagem, internet)

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