A noite caía e Álvaro começava a
sentir-se ansioso, a espera dentro do carro era difícil e dolorosa. Aquele
cubículo fazia-o sentir-se claustrofóbico, com suores no pescoço e nas mãos.
Catarina demorava-se, malditas mulheres, pensava furioso. Bebeu mais um gole da
sua garrafa de bolso, que estupidamente não enchera convenientemente, e que
agora tanta falta lhe fazia, constatava impotente. Não podia sair para apanhar
um pouco de ar, os antigos colegas ainda não tinham saído todos do prédio e era
vital que não fosse visto por Jaime, com quem dera de caras na fábrica, naquela
noite de insucesso. Como não tinha a certeza de que este já não estava a
trabalhar, Catarina era a sua única hipótese de não ser apanho em flagrante,
pensou, frustrado por ter de depender daquela idiota para avançar no que tinha
planeado.
Finalmente!, pensou aliviado ao
vê-la descer a rua na direção do seu carro.
- Olá senhor Álvaro! Boa noite! –
disse Catarina ao entrar sorrateiramente no veículo do polícia.
- Olá querida! Obrigada por teres
vindo, só tu me poderias ajudar hoje! – miou com dificuldade, odiava aquela
parva, e já não tinha mais bebida, lembrou-se angustiado.
- Então, diga-me o que tenho de
fazer! – estava excitada com aquelas manobras secretas, ávida de vingança, e
chegara o momento de passar à ação, dizia a si mesma.
- Como te tinha explicado antes, o
Nuno está muito revoltado comigo, não queria que me metesse na sua vida,
preferia ser ele a resolver tudo com a Margarida, sozinho. Somos bastante parecidos,
nesse ponto. – explicou – Mas agora que o mal está feito, não importa, é
preciso resolver as coisas por ele. Aquela tipa é uma sonsa, finge que tem
problemas respiratórios e ele sente-se culpado em deixá-la. – tinha pensado
naquela desculpa momentos antes, era vital que Catarina estivesse convencida de
que ainda teria alguma hipótese com Nuno – Temos de o ajudar a livrar-se dela,
para o bem dele, e claro para o teu também! – sorriu.
- Claro! Tudo o que for preciso! A
Margarida é uma fingida, eu também já me tinha apercebido disso, fingiu que
estava a morrer para o amolecer. – Catarina percebia agora porque Nuno voltara
atrás na sua intenção de acabar o namoro com cabra da sua “chefe”.
- Então ouve-me bem. Aqui é onde eu
e o Nuno trabalhamos. Ele não está cá hoje, já me certifiquei, mas preciso de
saber se o inspetor Jaime Ferreira ainda se encontra lá dentro. Ele é um bufo
de primeira, tentei despedi-lo várias vezes, mas tem uma cunha qualquer e
foi-se mantendo por cá. – mentiu – Só posso lá entrar dentro se o tipo já tiver
ido para casa, entendes?
- Sim, claro, então quer que lá vá e
peça para falar com ele? Assim saberia na hora se ele estava ou não! Jaime
Ferreira, certo? – queria resolver aquilo rapidamente.
- Calma! – bolas que a parva era demasiado
precipitada, lamentava-se. As pessoas instáveis nunca faziam um bom serviço… -
Vais entrar, sorridente, e dizer que querias falar com o Jaime, não dizes o
apelido, como se fosses íntima dele, uma amiga, namorada, enfim, alguém que ele
conhecesse muito bem. Se ele estiver, dizes que és amiga da Margarida e que ela
precisa de falar urgentemente com ele, sem ser por telefone, ele vai entender
porquê! Sais com ele e vais até à outra ponta da cidade, finges que foi lá que
ela marcou o local da conversa. Esperas com ele meia hora, e inventas uma
desculpa qualquer pelo facto de ela não ter comparecido. Preciso de tempo para
ir ao meu escritório. – era bastante fácil, mesmo uma burra daquelas
conseguiria executar, pensava ele - Se não estiver, melhor, vens embora e entro
eu. – rezou para que ela o tivesse compreendido, com gajas daquelas era sempre
uma lotaria, constatava ansioso.
- Ok, é fácil. Até já! – saiu
sorridente e confiante, dirigindo-se à portaria, onde encontrou um grupo de
homens que a olharam curiosos. Ela era vistosa, e não passava despercebida em
lado nenhum, muito menos num local cheio de testosterona, pensava orgulhosa. –
Boa noite, - disse com uma voz doce ao funcionário responsável – Poderia
chamar-me o Jaime? Precisava de falar com ele.
- Boa noite menina, quem devo
anunciar? – o polícia fingia um profissionalismo exagerado, distraído com o
decote da mulher.
- Diga-lhe que é uma amiga! – mentiu
sorrindo de forma insinuante.
- Com certeza. – pegou no telefone e
ligou para o gabinete de Jaime, que ficou surpreendido com uma visita daquele
género.
- Amiga? - Ele não tinha
“amigas”. – Diz-lhe que já vou, obrigada. - A curiosidade levou-o a apressar-se
a desligar os seus computadores e dirigiu-se à entrada do edifício.
Catarina deslizava de um lado
para o outro, mantendo os polícias demasiado concentrados nela, adorava aquelas
cenas de filme, eram todos tão perigosos, pensava excitada. Viu um rapaz
borbulhento avançar na sua direção e esperou que ele denunciasse ser ou não o
tal Jaime, nunca o tinha visto.
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(imagem, internet)
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