quarta-feira, 26 de abril de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 13 (1ª parte)

            


A noite caía e Álvaro começava a sentir-se ansioso, a espera dentro do carro era difícil e dolorosa. Aquele cubículo fazia-o sentir-se claustrofóbico, com suores no pescoço e nas mãos. Catarina demorava-se, malditas mulheres, pensava furioso. Bebeu mais um gole da sua garrafa de bolso, que estupidamente não enchera convenientemente, e que agora tanta falta lhe fazia, constatava impotente. Não podia sair para apanhar um pouco de ar, os antigos colegas ainda não tinham saído todos do prédio e era vital que não fosse visto por Jaime, com quem dera de caras na fábrica, naquela noite de insucesso. Como não tinha a certeza de que este já não estava a trabalhar, Catarina era a sua única hipótese de não ser apanho em flagrante, pensou, frustrado por ter de depender daquela idiota para avançar no que tinha planeado.
            Finalmente!, pensou aliviado ao vê-la descer a rua na direção do seu carro.
            - Olá senhor Álvaro! Boa noite! – disse Catarina ao entrar sorrateiramente no veículo do polícia.
            - Olá querida! Obrigada por teres vindo, só tu me poderias ajudar hoje! – miou com dificuldade, odiava aquela parva, e já não tinha mais bebida, lembrou-se angustiado.
            - Então, diga-me o que tenho de fazer! – estava excitada com aquelas manobras secretas, ávida de vingança, e chegara o momento de passar à ação, dizia a si mesma.
            - Como te tinha explicado antes, o Nuno está muito revoltado comigo, não queria que me metesse na sua vida, preferia ser ele a resolver tudo com a Margarida, sozinho. Somos bastante parecidos, nesse ponto. – explicou – Mas agora que o mal está feito, não importa, é preciso resolver as coisas por ele. Aquela tipa é uma sonsa, finge que tem problemas respiratórios e ele sente-se culpado em deixá-la. – tinha pensado naquela desculpa momentos antes, era vital que Catarina estivesse convencida de que ainda teria alguma hipótese com Nuno – Temos de o ajudar a livrar-se dela, para o bem dele, e claro para o teu também! – sorriu.
            - Claro! Tudo o que for preciso! A Margarida é uma fingida, eu também já me tinha apercebido disso, fingiu que estava a morrer para o amolecer. – Catarina percebia agora porque Nuno voltara atrás na sua intenção de acabar o namoro com cabra da sua “chefe”.
            - Então ouve-me bem. Aqui é onde eu e o Nuno trabalhamos. Ele não está cá hoje, já me certifiquei, mas preciso de saber se o inspetor Jaime Ferreira ainda se encontra lá dentro. Ele é um bufo de primeira, tentei despedi-lo várias vezes, mas tem uma cunha qualquer e foi-se mantendo por cá. – mentiu – Só posso lá entrar dentro se o tipo já tiver ido para casa, entendes?
            - Sim, claro, então quer que lá vá e peça para falar com ele? Assim saberia na hora se ele estava ou não! Jaime Ferreira, certo? – queria resolver aquilo rapidamente.
            - Calma! – bolas que a parva era demasiado precipitada, lamentava-se. As pessoas instáveis nunca faziam um bom serviço… - Vais entrar, sorridente, e dizer que querias falar com o Jaime, não dizes o apelido, como se fosses íntima dele, uma amiga, namorada, enfim, alguém que ele conhecesse muito bem. Se ele estiver, dizes que és amiga da Margarida e que ela precisa de falar urgentemente com ele, sem ser por telefone, ele vai entender porquê! Sais com ele e vais até à outra ponta da cidade, finges que foi lá que ela marcou o local da conversa. Esperas com ele meia hora, e inventas uma desculpa qualquer pelo facto de ela não ter comparecido. Preciso de tempo para ir ao meu escritório. – era bastante fácil, mesmo uma burra daquelas conseguiria executar, pensava ele - Se não estiver, melhor, vens embora e entro eu. – rezou para que ela o tivesse compreendido, com gajas daquelas era sempre uma lotaria, constatava ansioso.
            - Ok, é fácil. Até já! – saiu sorridente e confiante, dirigindo-se à portaria, onde encontrou um grupo de homens que a olharam curiosos. Ela era vistosa, e não passava despercebida em lado nenhum, muito menos num local cheio de testosterona, pensava orgulhosa. – Boa noite, - disse com uma voz doce ao funcionário responsável – Poderia chamar-me o Jaime? Precisava de falar com ele.
            - Boa noite menina, quem devo anunciar? – o polícia fingia um profissionalismo exagerado, distraído com o decote da mulher.
            - Diga-lhe que é uma amiga! – mentiu sorrindo de forma insinuante.
            - Com certeza. – pegou no telefone e ligou para o gabinete de Jaime, que ficou surpreendido com uma visita daquele género.
- Amiga? - Ele não tinha “amigas”. – Diz-lhe que já vou, obrigada. - A curiosidade levou-o a apressar-se a desligar os seus computadores e dirigiu-se à entrada do edifício.

Catarina deslizava de um lado para o outro, mantendo os polícias demasiado concentrados nela, adorava aquelas cenas de filme, eram todos tão perigosos, pensava excitada. Viu um rapaz borbulhento avançar na sua direção e esperou que ele denunciasse ser ou não o tal Jaime, nunca o tinha visto.

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(imagem, internet)

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