Margarida
tinha escapado, não entendia bem como, alguma coisa lhe falhara naquela noite e
Álvaro esforçava-se por perceber o quê. Tinha deixado a carteira dela no
apartamento de Isabel, para que os pertences não revelassem o destino dos dois.
O telemóvel dela estava lá, garantia a si mesmo, tinha verificado tudo, ou
talvez não. Pensando melhor, revendo os passos na sua memória, tinha encontrado
vários objectos na carteira, mas o telemóvel não.
Como podia ter sido tão
estúpido? Enraiveceu-se
com a sua imprudência, que quase lhe valera o fim de tudo o que ainda precisava
ser feito.
Agora
que várias pessoas já sabiam que ele estava enterrado
em merda até ao pescoço, não
poderia voltar à Unidade, a sua vida calma nunca mais seria a mesma. Nuno não o
perdoaria pelo ataque a Margarida, mas Álvaro não podia suspeitar que ele a
amava, afinal só conhecia a tipa há uma semana, nem isso. Recordou-se de
Manuela, linda e sorridente a entrar no escritório de Afonso pela primeira vez
e compreendeu Nuno. Não podia deixar de sentir orgulho nele, o seu filho
querido.
As
mulheres arruinavam a vida aos homens, pensava com ódio, era vital que Nuno
entendesse isso antes que ela o magoasse, o que seria inevitável, concluía.
Desta vez Álvaro seria cauteloso, estudava os horários e hábitos de todos eles,
nada lhe escaparia, agora que tudo lhes parecia mais calmo. Tinha a certeza de
que o procuravam, mas isso não o incomodava, Álvaro sabia como desaparecer, e
estava seguro ali. Aquele esconderijo era perfeito, perto de todos eles, podia
trabalhar sossegado, e já tinha uma ideia bem clara de como afastar Nuno de
Margarida tempo suficiente para ele poder avançar. Regozijou-se com a sua
capacidade de estratégia, a polícia tinha perdido um ótimo agente, ironizava. Bebeu
mais um gole de whisky e telefonou-lhe. A parvinha era tão ingénua que o
irritava, mas mais uma vez a sorte estava do seu lado!
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(imagem, internet)
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