-
Aqui parece-te bem? – perguntou analisando as características do
pequeno Hotel “Amigos dos Patudinhos”, que permitia que os
hóspedes levassem os cães para o quarto, providenciando uma pequena
almofada para os acompanhantes, mediante uma taxa adicional.
-
Sim, quanto fica a cada um? – quis saber para se orientar no
orçamento que tinha enfiado à toa na carteira.
- Não
vamos começar. – resmungou, olhando-a de esguelha – Eu é que
convidei.
-
Isto é ridículo. Se eu não pudesse pagar não tinha vindo! –
ralhou, espreitando para o ecrã do computador da receção, à
procura do valor total, deixando o funcionário sem jeito com aquela
discussão doméstica logo à chegada.
- Não
lhe mostre, faz favor. – ordenou João ao rapaz corado, puxando-a
de cima do balcão, onde se tinha empoleirado.
-
Bem, e querem quarto para casal, duplo ou separado? – perguntou a
gaguejar.
-
Hum… cama de casal! – gracejou João, provocando-a, mas desejando
que isso pudesse ser verdade.
-
Separado! – exclamou Marta a sentir-se quente e vermelha.
-
Bem, separado já não há… Mas tenho aqui um duplo que são
praticamente dois quartos independentes… - sugeriu, olhando-os
alternadamente.
- O
que achas, mana? – gozou João, olhando-a satisfeito.
-
Pode ser. – Mana?! Mas
que atrevido, pensou furiosa com a brincadeira.
-
Muito bem, quarto 13. – concluiu o funcionário satisfeito,
entregando uma chave que João agarrou à pressa sorridente, como uma
criança que ganhava algum jogo infantil de “quem chega primeiro”.
– Já lá mando alguém entregar a almofada para o cão.
-
Para o Filipe, faz favor! – recriminou Marta, já a destilar ira
por todos os poros, enquanto pegava na sua mala e seguia João que já
se encaminhara para o corredor.
Poisaram
as malas nas respectivas camas, que afinal eram bem mais próximas
uma da outra que o desejável, lamentava-se Marta que entoava uma
melodia calmante que lhe restabelecesse o equilíbrio emocional. A
tensão sexual entre os dois disparava a cada minuto que passava, e a
prova disso era o facto de já não estarem a conseguir manter a
calma e a serenidade um com o outro. Das duas uma, ou resolviam
aquilo à antiga, ou iam andar à chapada, concluiu sorrindo com as
suas teorias tão pouco yogis. Filipe olhava-a com cara de curioso,
deveria sentir todas aquelas energias estranhas, matutava ela,
enquanto procurava o fato de banho e roupa própria para caminhar,
pois durante a viagem tinham combinado visitar os locais famosos com
pequenas piscinas naturais no meio das rochas.
- Não
te preocupes, - confessou-lhe sussurrando para que João não a
ouvisse de dentro do quarto de banho, onde tinha ido trocar de roupa
– quando chegarmos à Serra empurramo-lo das rochas abaixo!
-
Vamos almoçar? – João surgiu de repente, ficando novamente uma
energia incómoda no ar, que num espaço fechado parecia ainda mais
difícil de suportar.
- Vai
andando, já lá vou ter, tenho de me trocar. – disse Marta,
empurrando-o para fora do quarto. – Leva o Filipe e esperem-me lá
em baixo. – despachou-os aos dois para conseguir preparar-se à
vontade. Arrumou a confusão do lado dele, censurando aqueles modos
mimados de viver, sem respeito pelo outro, onde tudo ficava onde
caía, sem ordem, a sentir a neura a crescer em cada peça de roupa
enrodilhada no saco chique do médico. Precisava de se acalmar,
recriminou-se, terminando a arrumação e despindo-se em seguida.
Retirava a roupa interior para enfiar o fato de banho quando a porta
se abriu de repente, sem lhe dar tempo para se esconder
convenientemente.
-
Falta-me a minha… - João estacou paralisado, com Filipe a seu lado
de orelhas em pé.
Marta
lançou-se a fechar a porta o mais rapidamente que conseguiu,
encostando-se nela vermelha até às orelhas. Aquilo
não podia ter acontecido…
-
Falta-te o quê? – berrou descontrolada.
-
Desculpa… a minha mochila. – disse do lado de fora.
Marta
agarrou na mochila e entregou-lha por uma fresta da porta, fechando-a
rapidamente. Pôs o trinco e vestiu-se, bufando de raiva. Mimado,
mal educado, inconveniente, parvo… enumerava
calçando-se.
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(imagem, internet)
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