sexta-feira, 7 de setembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 12 (3ª parte)




- Aqui parece-te bem? – perguntou analisando as características do pequeno Hotel “Amigos dos Patudinhos”, que permitia que os hóspedes levassem os cães para o quarto, providenciando uma pequena almofada para os acompanhantes, mediante uma taxa adicional.
- Sim, quanto fica a cada um? – quis saber para se orientar no orçamento que tinha enfiado à toa na carteira.
- Não vamos começar. – resmungou, olhando-a de esguelha – Eu é que convidei.
- Isto é ridículo. Se eu não pudesse pagar não tinha vindo! – ralhou, espreitando para o ecrã do computador da receção, à procura do valor total, deixando o funcionário sem jeito com aquela discussão doméstica logo à chegada.
- Não lhe mostre, faz favor. – ordenou João ao rapaz corado, puxando-a de cima do balcão, onde se tinha empoleirado.
- Bem, e querem quarto para casal, duplo ou separado? – perguntou a gaguejar.
- Hum… cama de casal! – gracejou João, provocando-a, mas desejando que isso pudesse ser verdade.
- Separado! – exclamou Marta a sentir-se quente e vermelha.
- Bem, separado já não há… Mas tenho aqui um duplo que são praticamente dois quartos independentes… - sugeriu, olhando-os alternadamente.
- O que achas, mana? – gozou João, olhando-a satisfeito.
- Pode ser. – Mana?! Mas que atrevido, pensou furiosa com a brincadeira.
- Muito bem, quarto 13. – concluiu o funcionário satisfeito, entregando uma chave que João agarrou à pressa sorridente, como uma criança que ganhava algum jogo infantil de “quem chega primeiro”. – Já lá mando alguém entregar a almofada para o cão.
- Para o Filipe, faz favor! – recriminou Marta, já a destilar ira por todos os poros, enquanto pegava na sua mala e seguia João que já se encaminhara para o corredor.

Poisaram as malas nas respectivas camas, que afinal eram bem mais próximas uma da outra que o desejável, lamentava-se Marta que entoava uma melodia calmante que lhe restabelecesse o equilíbrio emocional. A tensão sexual entre os dois disparava a cada minuto que passava, e a prova disso era o facto de já não estarem a conseguir manter a calma e a serenidade um com o outro. Das duas uma, ou resolviam aquilo à antiga, ou iam andar à chapada, concluiu sorrindo com as suas teorias tão pouco yogis. Filipe olhava-a com cara de curioso, deveria sentir todas aquelas energias estranhas, matutava ela, enquanto procurava o fato de banho e roupa própria para caminhar, pois durante a viagem tinham combinado visitar os locais famosos com pequenas piscinas naturais no meio das rochas.
- Não te preocupes, - confessou-lhe sussurrando para que João não a ouvisse de dentro do quarto de banho, onde tinha ido trocar de roupa – quando chegarmos à Serra empurramo-lo das rochas abaixo!
- Vamos almoçar? – João surgiu de repente, ficando novamente uma energia incómoda no ar, que num espaço fechado parecia ainda mais difícil de suportar.
- Vai andando, já lá vou ter, tenho de me trocar. – disse Marta, empurrando-o para fora do quarto. – Leva o Filipe e esperem-me lá em baixo. – despachou-os aos dois para conseguir preparar-se à vontade. Arrumou a confusão do lado dele, censurando aqueles modos mimados de viver, sem respeito pelo outro, onde tudo ficava onde caía, sem ordem, a sentir a neura a crescer em cada peça de roupa enrodilhada no saco chique do médico. Precisava de se acalmar, recriminou-se, terminando a arrumação e despindo-se em seguida. Retirava a roupa interior para enfiar o fato de banho quando a porta se abriu de repente, sem lhe dar tempo para se esconder convenientemente.
- Falta-me a minha… - João estacou paralisado, com Filipe a seu lado de orelhas em pé.
Marta lançou-se a fechar a porta o mais rapidamente que conseguiu, encostando-se nela vermelha até às orelhas. Aquilo não podia ter acontecido…
- Falta-te o quê? – berrou descontrolada.
- Desculpa… a minha mochila. – disse do lado de fora.
Marta agarrou na mochila e entregou-lha por uma fresta da porta, fechando-a rapidamente. Pôs o trinco e vestiu-se, bufando de raiva. Mimado, mal educado, inconveniente, parvo… enumerava calçando-se.

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

Sem comentários:

Enviar um comentário