sexta-feira, 28 de setembro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 15 (5ª parte)





João conduzia possuído, rua abaixo, rua acima, tentando perceber onde é que ela estava. Mantinha a chamada em alta-voz desde que Isabel ligara sem querer, e quando ouviu a voz dela não conseguiu desligar o telemóvel. Sabia que não era correto, mas pediu licença ao paciente e saiu até a um local sossegado na clínica, ficando paralisado ao ouvir a descrição que ela dava a Elisabete. Sabia que ela estava a chorar, precisava de a ir ver, de a abraçar, ela tinha estado grávida e o ex-marido provocara-lhe um aborto com porrada… Sentia-se a explodir de raiva, capaz de o matar com as próprias mãos, se o visse à frente. Secretamente desejava encontrá-lo, mas sabia que isso seria improvável, portanto apenas lhe restava consolá-la. Viu-a dentro do café, sentada com Elisabete e parou o carro abruptamente, cruzando o olhar com ela. Isabel percebeu que ele vinha perturbado, olhou instintivamente o telemóvel e pegou-lhe.
- João? – disse com a voz trémula.
- Vamos embora, dá um beijinho à Lisa e vamos dar uma volta. – pediu-lhe.
Isabel obedeceu, e João saiu do carro, ajudando-a a entrar. Acenou adeus à amiga perplexa no café e dirigiu para longe dali, levando-os sem rumo definido. Assim que as ruas se tornaram menos povoadas, encostou o carro, tirou os cintos dos dois e puxou-a levemente para o seu colo.
- Desculpa, ouvi tudo… telefonaste-me sem querer… não consegui resistir quando me apercebi de que ias contar alguma coisa sobre ti… - confessou, olhando-a nos olhos.
- Não faz mal, iria contar-te tudo mesmo… assim já está. Não tenho de o repetir. – deveria sentir-se zangada com aquela invasão de privacidade, mas o facto é que estava aliviada. Aquele gesto de a ir procurar preocupado deixou-a de tal forma emocionada que não conseguiu culpá-lo. – Eu amo-te muito. Obrigada por me teres ido buscar. – beijou-o e deixou-se ficar enroscada nele, em silêncio.
- Se não fizeres queixa dele eu vou matá-lo. – avisou-a depois de uns minutos de silêncio.
- Quê?! – sobressaltou-se.
- É isso mesmo. E depois vais ter de esperar por mim 25 anos e ir à cadeia todas as semanas levar-me os comprimidos. – acrescentou, desanuviando um pouco a conversa.
- Ah, pensei que estivesses a falar a sério… Por favor, não quero mortes nenhumas…
- Eu estou a falar a sério. Ou vais agora comigo à polícia ou assim que eu o encontrar, mato-o. E isso vai-me dar a pena máxima. – olhou-a sério, beijando-lhe a boca seca.
- Está bem… Mas prometes-me que não fazes nada que te possa prejudicar? – perguntou receosa.
- Ele está-me a prejudicar neste preciso momento, e eu ficarei para sempre prejudicado enquanto ele andar solto, ou vivo. Entende uma coisa Isabel, eu amo-te. Esse homem fez-te muito mal, não pagou por isso, e ainda voltou a ameaçar-te depois de tudo o que se passou. O que queres que eu faça? Que finja que ele não te entrou pela casa a dentro e rabiscou as paredes? Que fique à espera que ele te mate? Porque acredita que se ele for esperto, primeiro vai tentar fazer-me mal a mim, porque sabe que agora não estás sozinha. Se ele tentar aproximar-se de ti terás alguém ao teu lado. Agora eu sei que ele vai atacar quem te está próximo, e espero que o faça cara a cara. Por isso, ou vamos agora à polícia e tentamos resolver isto através da legalidade, ou ficamos calados à espera do próximo passo dele, e aí, eu mato-o.
Isabel mergulhou a cara molhada no pescoço de João, chorando tudo o que reprimira no café, embalada pelos braços dele.


(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

Sem comentários:

Enviar um comentário