segunda-feira, 8 de outubro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 16 (5ª parte)




Isabel acordou devagar, com uma sensação de vazio mental que a angustiou. Tinha dormido artificialmente, depois do calmante que Salvador e Janota a obrigaram a tomar, devido à sua reação descontrolada com a mensagem de Tiago. Sabia que a tortura psicológica era um dos seus fortes, já não era novidade para si ter de lidar com as chantagens promovidas a medo, mas a imagem de Filipe, morto de forma tão cruel, deixara-a enlouquecida. Como podia alguém ter coragem de fazer semelhante barbaridade a um animal? Apenas para a magoar e assustar… lamentou-se chorando agarrada à almofada de João. O cheiro dele consolou-a minimamente, e deixou-se ficar uns minutos naquela posição, imaginando que ele tomava banho para ir trabalhar e tudo ainda estava como antes. Filipe precisaria de ir à rua e depois tomariam o pequeno-almoço… Alguns barulhos vindos da sala interromperam-lhe as divagações e Isabel obrigou-se a levantar-se e arranjar-se. O corpo estava estranhamente pesado e dormente, ainda efeito do remédio demasiado forte para ela, mas queria visitar João na clínica ainda de manhã. Tinha de cuidar dele, ajudá-lo a recuperar do esgotamento que ela também provocara… Não sabia bem como se tratavam essas doenças, quanto tempo precisaria para recuperar, se ficaria com algumas mazelas… Nada disso era mais importante que o ver e abraçar, pedir-lhe desculpa.
Entrou na sala e os dois amigos já bebiam café com Rosário, que parecia ter estado a chorar, de olhos inchados.
- Bom dia. – disse Isabel sentando-se à mesa e esforçando-se por sorrir.
- Bom dia, como te sentes? – perguntou Salvador, incomodado com a abordagem violenta da noite anterior – Dormiste bem?
- Mais ou menos… estou ainda meio drogada. – respondeu, deitando um olhar de compaixão à empregada que fungava virada para o lava-loiças - Rosário, não fique assim, a culpa não foi sua. Aquele homem é louco, ele é o culpado disto tudo… E eu, por o ter trazido para as vossas vidas. Desculpem-me… - disse sem emoção. Não tinha nem força para chorar, surpreendeu-se.
- Pára com isso. – exaltou-se Janota – Nem tu, nem a senhora têm culpa. Vamos lá ver se nos entendemos! Aqui, somos quanto muito, vítimas de um psicopata. Ninguém tem culpa de esse homem ser doido!
- Sim Isabel, o Janota tem razão. E este doido quer perturbar-nos. Já conseguiu pôr toda a gente destabilizada, mas não pode continuar a infernizar-vos, temos de acabar com isto. Agora vamos comer e depois vamos à clínica ver o João.
Rosário rebentou num pranto sonoro, fugindo para a casa de banho, ao ouvir novamente que o seu patrão estava internado, e tudo aquilo porque se precipitara e não confirmara com ele se a história do homem bem-parecido era ou não verdade. Fora descuidada, desejosa por se ver livre do animal, lamentou-se chorando. Quem poderia adivinhar que houvesse na vida real homens tão maus… aquilo era pior que as novelas a que assistia de noite, era a realidade.

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(imagem, internet)

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