quinta-feira, 11 de outubro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 17 (3ª parte)





Salvador e Janota pararam o carro atrás do de Tiago e correram até à casa, que estava trancada.
- Eu disse-te que ela ia fazer um disparate! – berrou Salvador, histérico.
Janota rebentou a porta com facilidade e entraram aos tropeções na sala, dirigindo-se à sala de yoga, onde certamente ela estaria.
- Não… - Janota arrancou Tiago de cima dela, a tremer das mãos, para analisar o que se teria passado. Ela tinha-o morto, concluiu. – Chama o INEM! Tentativa de suicídio e uma morte. Ela está viva. – Rasgou dois pedaços da t-shirt e fez um garrote improvisado nos braços dela, para que não se esvaísse enquanto esperavam os paramédicos. – Isabel… estás a ouvir-me?
Salvador encostou-se à parede, longe do cadáver e sem manter contacto visual com Isabel, que parecia estar a morrer. Era demasiado terrível tudo aquilo, todo aquele sangue.
- Como é que aguentaste isto toda a vida? – perguntou a Janota, a sentir um vómito eminente.
- Empresta-me a tua t-shirt. – ordenou, sem explicar o que tinha em mente.
- Mas para quê? – perguntou confuso e cada vez mais nauseado.
- Preciso de apagar as impressões digitais dela da faca. Anda, dá-me a tua t-shirt virada do avesso.
Salvador obedeceu e Janota limpou o cabo da faca ainda espetada no peito de Tiago, provocando um vómito no amigo que fugiu da sala para o ar fresco da rua. Friccionou a mão direita de Tiago, depois de se certificar pela lógica da posição do relógio, nos ângulos em que seria normal alguém exercer força para aqueles golpes, virou-o ligeiramente de lado, de costas para ele e Isabel e concentrou-se novamente em prestar auxílio a ela. Ao longe o som da ambulância crescia, abrindo-lhe os pulmões e relaxando-o. Se ela fosse forte, ainda resistiria, tinham chegado a tempo de a salvar.
- Isabel, não te preocupes, não vais morrer…. – consolou-a, mantendo-se a pressionar os braços, reforçando o bloqueio dos garrotes.
A ambulância saiu disparada em direção ao hospital, ficando no local do crime a polícia e as duas testemunhas que encontraram os corpos e alertaram as autoridades. Salvador vestia a t-shirt ensanguentada por dentro, mas como Janota previra, ninguém notou, o que facilitou à polícia imaginar uma sequência de acontecimentos. “Isabel fizera queixa do ex-marido no dia anterior. Alegadamente a sua casa teria sido vandalizada por Tiago. No dia seguinte ela volta ao local do crime, ele segue-a , corta-lhe os pulsos e suicida-se a seguir. Parecia simples, faltava apenas a confirmação dos testes periciais. A ameaça escrita na parede da sala onde tudo acontecera ajudava a compreender a loucura de todo o crime. Um novo relacionamento amoroso da vítima feminina despoletara aquele desfecho dramático, mas felizmente os amigos de Isabel apareceram a tempo de a ajudar a sobreviver.”
- Acompanhem-nos à esquadra por favor. Ainda é preciso formalizar o vosso depoimento, só depois disso poderão ir ter com a vítima ao hospital. – informou o polícia secamente.
- Claro, só temos de avisar alguns familiares e amigos próximos do que aconteceu que possam ir ter com ela ao hospital. – interveio Salvador, pedindo autorização formal para divulgar entre César e os pais de Isabel a condição física dela.
- Com certeza, apenas seja discreto nos pormenores, por favor. – respondeu o polícia afastando-se dos dois e encaminhando-se para a casa dando-lhes um momento de privacidade.
- Tens cá uma prosápia… - brincou Janota já mais restabelecido do choque.
- Eu acho é que mais uma vez não vou abrir o bar… ainda vou à falência por causa destes dois… - lamentou-se, sabendo que nada era mais importante que os amigos, e fazia dinheiro suficiente para encerrar portas vários meses seguidos. – Agora vamos avisar o César e tentar descobrir o contacto da família dela lá de Castelo Branco. Ainda tenho de pensar como contar uma coisa destas sem que as pessoas fiquem desesperadas.
- O número dos pais eu arranjo, dá-me uns minutos. Vai falando com o César.
- Ok… vamos a isto. – pegou no telemóvel e procurou o contacto do psiquiatra. Teria de recorrer aos seus serviços se o seu dia a dia continuasse assim agitado. Era demasiado sangue, e o cheiro da sua camisola poderia comprová-lo, mortes eminentes, cadáveres…


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