segunda-feira, 22 de outubro de 2018

"A Mala Vermelha" - Cap 19 (2ª parte)







Caminhou em silêncio até ao fundo do corredor, seguido por Nélia que não demonstrava qualquer constrangimento com aquela conversa privada e fazia a sua primeira análise do que estava a acontecer. Uma oportunista sem escrúpulos, gritava-lhe a sua vozinha interior.
- Sente-se por favor. – ordenou, tomando o lugar em frente do outro lado da grande secretária cheia de processos clínicos.
- Obrigada. Então? O que queria conversar?
- Sou amigo do João há vários anos. Ele teve uma mulher chamada Isabel e tem de facto uma namorada também com esse nome, e nenhuma delas é a senhora. Quer explicar-me o que vem a ser isto?
Nélia sorriu indolentemente e recostou-se na cadeira, observando o psiquiatra nervoso.
- Bem, lá porque nunca me viu antes, não significa que eu não faça parte da vida dele. Nós temos uma relação, que começou antes dessa tal suposta namorada. Se ele nunca lhe contou é porque tencionava manter-me em segredo.
- Não, nunca mencionou conhecer uma terceira Isabel. E eu duvido que isso seja verdade. – respirou fundo e continuou – Menina, eu não sei o que pretende com esta abordagem, mas tenho de a avisar de que está a comprometer o tratamento e a recuperação ativa do paciente. Ainda não lhe falámos sobre detalhes do passado que ele esqueceu momentaneamente porque aguardamos que recupere sozinho, sem influências. Aquilo que fez pode ser altamente prejudicial! – disse já exaltado.
- Então deixam um homem já quase recuperado, pelo que pude perceber, completamente às cegas, à espera que se dê um milagre e ele se lembre de quem era? Parece-me bastante cruel. – ironizou – Cruel e pouco correto.
- Desculpe mas não tem qualquer legitimidade para tecer considerações sobre o que é correto ou não no tratamento do paciente. Como já lhe disse, não a conheço de parte nenhuma.
- Pois, já me disse, e eu repito-lhe também: Eu e o João temos uma relação. Eu tenho provas. – tirou o telemóvel da carteira, procurou as fotos dos dois na cama e mostrou ao médico, sem pudores.
- Isso não prova nada. – uma azia ameaçou aparecer com aquela visão que sabia que ela utilizaria também com João.
- Quer apostar?
- Minha menina, eu não vou permitir que faça o que está a pensar! O João não namora consigo. Se andaram enrolados meia dúzia de vezes isso não lhe dá o direito de querer assumir um lugar que não é seu! – berrou, dando uma palmada na mesa.
- Vamos ver se não dá! – respondeu sorrindo – Ele deve estar ansioso por retomar a vida que deixou pendurada e que ninguém o deixa lembrar. – levantou-se e saiu apressadamente do gabinete deixando César embasbacado, voltando ao quarto o mais rapidamente que conseguiu. O médico não teria hipótese de a desmentir, principalmente porque temia confundir ainda mais o amigo.


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(imagem, internet)

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