sexta-feira, 24 de julho de 2020

"A Mala Vermelha" - Capítulo 6



As mãos suavam-lhe, sentia-se dormente e com a respiração alterada. Que porcaria, lamentava-se, ciente de que não conseguiria resistir se João lhe tocasse. Ele tinha uma força energética muito grande, como um íman gigante, e para além disso era muito bonito. Que mulher podia negar um convite daqueles feito por um Super Íman Borracho? Uma lésbica, talvez!!, ralhou consigo mesma. Aí estava o problema. Cairia certamente nos braços dele em menos de cinco minutos, mas depois, quando recuperassem o tino, teria de se explicar. 
- Entra. – disse-lhe educadamente, quebrando o silêncio, acendendo as luzes e fechando a porta devagar depois de ela passar e evitar tocar-lhe, o que o intrigou.
- É muito grande. – comentou espantada, distanciando-se dele estrategicamente.
- Sim, às vezes também sinto isso. – confessou, tirando o casaco e observando as movimentações dela pela sala.
- Era a tua mulher? – perguntou curiosa ao ver uma foto dele com uma mulher numa prateleira.
- Sim, morreu de cancro. – disse com alguma mágoa – Já devia ter tirado daqui, é tétrico.
- Não o faças. – aconselhou-o, tocando-lhe afetuosamente no braço que segurava a moldura. – Tudo faz parte de nós, a alegria, a tristeza, não podes querer apagar tudo o que viveste de bom com ela. Não é justo.
João olhou-a incrédulo. Ela tinha razão, tirar dali Isabel seria negar que ela fora uma parte feliz da sua vida, em tempos. O seu toque sedoso não o deixou matutar muito mais naquilo, e João poisou a foto para a encarar. Sentia-a também nervosa e estranha, como se estivesse à espera que ele avançasse, mas não podia ser, dizia-lhe o seu lado racional. 
Marta esquivou-se, afastando-se no momento certo e disfarçou o embaraço caminhando pela casa a dentro, sem pedir licença.
- Então e aqui para dentro? Há vestígios de vida humana ou a tua casa é toda fria e impessoal?
- À direita é o meu quarto. – explicou, alcançando-a e acendendo-lhe a luz, entrando logo a seguir. Estava especialmente bonita, com roupas confortáveis e a típica saia comprida, mas de um tecido que estranhamente se lhe moldava perfeitamente, mostrando as curvas bem feitas do seu corpo. – Aí é a casa de banho. – disse com a garganta seca. 
- Meu Deus… o que é isto? – exclamou horrorizada, ao ver a quantidade de remédios que João tinha dispostos no armário, num local que indicava que ele os utilizava com regularidade.
- Bem… isso é o meu kit de sobrevivência. – confessou envergonhado. – Este é para dormir, este para acordar, este para ficar bem disposto, e este, bem, este é para SOS. – enumerou apontado cada um deles, sentindo-se mais leve com a confissão, e puxando-a para fora da casa de banho.
- Que horror. Não podes estar a falar a sério. – disse-lhe preocupada com a ideia de que um homem tão novo, bonito, inteligente, precisasse daquilo tudo para se manter normal. – Comprimidos para SOS… que tipo de SOS?
- Não te preocupes. Faz parte de um tratamento já longo. Não me apetece falar sobre isso. – pediu-lhe com um sorriso triste.
- Eu posso ajudar em alguma coisa? – perguntou-lhe genuinamente interessada na recuperação de fosse o que fosse que o punha doente.
- Já estás a ajudar. – confessou, colocando-lhe uma madeixa de cabelo atrás da orelha.
- Acho que sei como evitares hoje o comprimido para dormir. – disse-lhe animada, empurrando-o para cima da cama. – Vou dar-te uma massagem especial. – explicou decidida, procurando na casa de banho por creme ou um óleo qualquer. – Despe-te. Quer dizer, tira tudo menos os boxers, claro. – corrigiu.
- Não queres antes treinar aqui umas técnicas do teu livro? – gracejou, tentando descontrair-se enquanto se despia desconfortável.
- Ainda não estás preparado para isso. – respondeu sorrindo-lhe e fazendo-lhe sinal para que se virasse de barriga para baixo.
- Isso quer dizer que há esperança? – perguntou espantado.
- Cala-te e fecha os olhos. – colocou-se sentada por cima dele, admirando aquela visão que poderia ter, se quisesse, e aproveitando essa sensação de prazer mental, aquecendo as mãos uma na outra. – Agora relaxa e não penses em nada.
- Desculpa, mas com uma mulher em cima de mim isso é um bocado difícil… - confessou sorrindo contra o colchão.
- Liberta-te e concentra-te só no meu toque. À medida que fores sentindo a massagem, vais visualizando essa zona do corpo a descontrair. – sussurrou-lhe quase encostada ao corpo dele.
- Estás a castigar-me porque eu não gosto do teu elefante manhoso? – gracejou a sentir-se a explodir, como iria adormecer com aquilo era um absoluto mistério.
Marta sorriu satisfeita e iniciou a massagem vigorosa e experiente, sentindo-o a ceder aos estímulos certos, ouvindo a sua respiração a acalmar-se ritmicamente. À medida que o amolecia sentia-se cada vez mais inquieta e nervosa. Era tão fácil estar com ele e parecia-lhe tão certo, que a assustava. João estava quase no ponto, admirava-o, tão obediente e manso, crente de que ela realmente o conseguiria ajudar. Sabia que aquela disposição era provocada pelo facto de ele achar que não a atraía, o que era a maior das mentiras. Foi deslizando até aos pés, saindo suavemente da posição inicial e preparando-se para o final daquela noite tão inusitada. Pegou-lhe no pé e premiu o “botão do sono”, colocando-o num estado de inconsciência bem parecido com aquele que se tinha a dormir. Tapou-o e beijou-lhe a cara com devoção. Marta 1, comprimidos 0!, pensou orgulhosa, saindo e desligando as luzes todas até à porta da rua.


Dormiu agitada com todas as sensações fortes da noite, levantando-se de madrugada para fazer uma infusão calmante e exercícios de meditação. Há muito tempo que não se sentia assim, excitada e ligeiramente apaixonada, o que a deixava inquieta e distraída, a mistura ideal para as insónias. Arrependia-se de não o ter agarrado, mas também tinha prometido a si mesma dar um tempo nas maluqueiras do Amor. Imaginara-o a parar o elevador e a beijá-la dramaticamente, vezes sem fio, como uma tortura mental e de certa maneira, física. Dava corda à sua inquietação hormonal, sabendo que dali podia nunca nascer nada, já que ela própria enterrara as primeiras hipóteses com a mentira parva de que era gay, pensava censurando-se. O fantasma de Tiago também lhe ensombrava os desejos, transformando-lhe os doces pensamentos em angustiosos receios. Temia acima de tudo que ele a descobrisse, e se isso acontecesse, cumprisse as ameaças que lhe fizera à saída do tribunal. Esse dia de libertação e alívio deveria ter colocado um ponto final no seu pesadelo, mas Tiago não tinha sido condenado por todas as agressões e torturas a que a tinha submetido durante os dois anos em que tinham sido casados. Escapara à lei pelas cínicas dificuldades em provar a intenção dos crimes, sorrira-lhe ao ouvir o veredicto, e Marta não teve outra alternativa senão fugir. Tinha-lhe sido proibida qualquer tentativa de aproximação, mas um ex-marido obsessivo não acataria qualquer ordem, nem mesmo da justiça. A ideia de que João pudesse ser envolvido no meio dos seus problemas acabou por lhe silenciar a mente sonhadora, colocando um ponto final nas suas fantasias noturnas, substituídas pela antiga angústia, que a sossegaram como um bálsamo. Acabou por ceder ao sono já quase de manhã, com Filipe rabugento a seus pés por também se sentir cansado das voltas e voltas que dera na cama, a procurar a posição de descanso vezes sem conta. Acordou demasiado cedo, poucas horas depois, com o cão a pisá-la sem piedade, nervoso com algum barulho vindo da rua. Marta abriu um olho, praguejando com ele e empurrando-o para fora da cama, zangada. Levantou-se contrariada, vestiu o robe de verão por cima do conjunto de calções e alças pouco próprio para ir à rua e arrastou-se pela casa, sentindo-se morta viva.
- Quem é?- perguntou com a voz ensonada, antes de abrir.
- Sou eu, o João. – respondeu cheio de energia.
- Hoje é sábado. – informou-o mantendo a porta fechada.
- Eu sei, anda, abre. - pediu animado.
Marta abriu uma fresta da porta e olhou-o com cara de poucos amigos, sem reagir ao ar fresco e feliz do seu perturbador de sonhos.
- Bom dia! Mas que cara é essa? – empurrou a porta sem cerimónias, trazendo sacos nas mãos e dirigindo-se à cozinha.
- Cara de quem estava finalmente a dormir. – confessou, caindo no sofá amuada.
- Eu dormi maravilhosamente! – exclamou de dentro da cozinha, e como pagamento pela tua massagem vim fazer-te o pequeno almoço e convidar-te para irmos passear.
- Aceito o comer. Passear onde? – grunhiu com a cara na almofada do sofá.
- Isso é surpresa! – respondeu sorridente, enquanto dispunha a comida na mesa de centro perto do sofá. Sentou-se animado na poltrona em frente de Marta e começou a comer fazendo-lhe sinal para que o imitasse.
Marta ergueu o tronco obedientemente, sentindo-se cada vez pior e mais deprimida. Cada minuto que passava com João a faziam temer ter encontrado o homem ideal, o que seria uma tragédia, para ambos. Antes de adormecer tomara uma difícil decisão, a de colocar um ponto final em tudo aquilo e afastar-se dele, mas nem ela nem Filipe lhe conseguiam resistir, constatou enternecida ao ver como o cão o adorava, colocando o seu focinho no joelho de João, à espera de um pedaço de pão. 
- O que se passa? Acordas sempre assim tão carrancuda? – brincou, curioso com o clima pesado que se sentia naquela casa, ao contrário da habitual serenidade.
- Desculpa, tive insónias. Não dormi bem… quase nada, mesmo. – confessou, sorrindo com esforço, sem o encarar.
- Se quiseres posso ir embora. – disse com preocupação, pousando a chávena de chá – Não devia ter vindo sem avisar, desculpa.
- Não. Fizeste bem em aparecer. Vou tomar banho e vamos então à tal surpresa. -  levantou-se e dirigiu-se à cozinha, colocando uma grande panela de água ao lume, deixando-o intrigado da utilidade que ela daria a tanto líquido, não seria para chá, com certeza. Como se lesse os seus pensamentos, ela esclareceu-o; precisava de tomar um banho antes de sair, e não tinha esquentador, logo, aquecia água, temperava com fria e colocava num balde que tinha um fundo com um adaptador de chuveiro, bastante primitivo, mas eficaz.
- Tomas banho assim? Sempre? – perguntou escandalizado com a trabalheira que era tomar duche naquela casa.
- Sim, vai dar no mesmo, só não posso ficar tempos infinitos debaixo de água. E já que aqui estás, traz-me a panela com a água quente, por favor. – piscou-lhe os olhos em súplica.
- Temos de modernizar esta casa! – ralhou, carregando com dificuldade os vários litros de água até à casa de banho.
- Temos?! – espantou-se com aquela utilização do plural que lhe deu um nó na barriga.
- Força de expressão. – corrigiu envergonhado. Sentia-se tão bem ali que às vezes esquecia-se de que era somente um convidado. – Queres ajuda para esfregar as costas? – brincou, colocando a água dentro do balde/chuveiro.
- Não, obrigada. Agora sai. – disse-lhe a sentir-se corar. Não lhe faltava mais nada, pensou enervada, ficar a imaginá-lo no banho…

Depois de muito insistir, Marta conseguiu convencê-lo a levarem o seu pequeno jipe para o passeio; seria muito mais prático para dar voltas e não teriam problemas com os estofos de pele do carro desportivo, quando Filipe se esfregasse no banco traseiro, como ficou provado, assim que entraram no veículo e o cão limpou a baba do focinho nos tapetes grossos que cobriam os assentos. João aceitou sem mais discussão e resignou-se ao lugar do morto, aproveitando para a observar com mais atenção, entusiasmado com a destreza com que Marta fintava os buracos da estrada, resultado da experiência que tinha do terreno.
- E dirijo-me para onde, Sr. co-piloto? – perguntou, curiosa com o destino surpresa.
- Podes ir andando, que eu vou dizendo. – respondeu, sem revelar mais informações, satisfeito com a reação amuada dela. – A tua dona é muito controladora… - disse em direção a Filipe, que o observava com as orelhas em pé.
- Não acho nada bem, andares a colocar o meu cão contra mim. – reagiu, olhando-os com censura e descontraindo pela primeira vez desde que acordara.


Chegaram à margem do rio, e Marta estacionou o jipe contrariada. Já não tinha ficado especialmente satisfeita com a sugestão de que seria melhor vestir fato de banho e roupa fresca, mas concordara porque só entraria dentro de água se lhe apetecesse. Mas o que via ao longe era bem diferente do que tinha imaginado, e muito pior. Várias canoas coloridas estavam dispostas na areia, à espera dos canoistas, e João não lhe confirmava nem que sim nem que não, mantendo-se irritantemente a sorrir satisfeito.
- Ou me dizes o que aqui viemos fazer, ou não saio do carro. – ameaçou, sentindo as mãos a suar ligeiramente.
- Mas onde está a mulher corajosa e bem resolvida que ainda há bocado se recusou a deixar-me guiar? – gozou, saindo do carro e abrindo a porta a Filipe, que saltou animado para o chão, cheirando tudo em volta furiosamente, a reconhecer o local e a tirar as suas próprias conclusões canídeas, ignorando o casal.
- Não saio. – disse Marta, ainda agarrada ao volante e de cinto posto.
- Que disparate. – João tirou-lhe o cinto, a chave da ignição e puxou-a para fora do jipe, colocando os chapéus na cabeça de ambos e trancando o veículo. – Vamos, vais adorar. – deu-lhe a mão e surpreendeu-se ao notar que estava gelada, o que indicava medo.
- Não quero fazer isto… - suplicou, sendo puxada em direção às canoas.
- Marta, por favor. Se isto fosse perigoso não o fazíamos. Vamos falar com o sr da empresa. Anda! – deu-lhe mais um puxão vigoroso, sem perder a convicção dos seus planos. Queria muito deslizar pelo rio abaixo a admirá-la na frente da canoa, e com um bocado de sorte, com a roupa toda colada da água que eventualmente a molhasse. 
- E o Filipe? Não o podemos deixar no carro ao sol, todo o dia… - argumentou, na esperança de que fosse proibido levar o cão e assim ela se escapasse à provação náutica.
- Já liguei hoje cedo a perguntar, ele vai no meio de nós os dois. – respondeu prontamente, dando-lhe um abraço por cima do ombro, encorajando-a.
- Depois eu é que sou controladora… - rosnou entre dentes, empurrando-o e libertando-se do seu braço confortável.
- Bom dia! – dirigiu-se João ao casal moreno e de aspeto tonificado que começava a preparar a viagem. – Telefonei hoje cedo, João Marques.- cumprimentou-os, apresentando depois Marta e Filipe. – Podemos ir andando? Já o fiz várias vezes, só precisávamos dos coletes.
Marta resistiu até ao limite do que seria possível, tentando não fazer figuras ridículas em frente a estranhos, aceitando o colete, de trombas, no meio de um som de descontentamento, enquanto João convencia Filipe a entrar na pequena embarcação.
- Vamos! Só faltas tu! – ralhou sorridente.
Marta remeteu-se ao silêncio, entrando relutantemente, a tremer, com vontade de o insultar e ou beijar, tal era a energia que lhe transmitia, todo sexy, descontraído e seguro de si, com aqueles óculos de sol caríssimos que o tornavam ainda mais bonito. Ficou ligeiramente desiludida ao perceber que iria a viagem toda de costas para aquela visão tão agradável, a olhar para o rio, as árvores, e o seu medo de cair na água sem pé, onde viveriam milhares de cobras, peixes horríveis e lixarada.
João sossegou o cão, dando-lhe uma massagem rápida e começou a remar suavemente, sentindo-se mais feliz que nunca, com a visão dela e das suas costas, rabo, ombros, braços, cabelo. Admirava todas as suas proporções quando se apercebeu do olhar de censura e espanto do cão, que o fez soltar uma gargalhada.
- Estás-te a rir de quê, pode-se saber? – perguntou, voltando-se demasiado rápido, o que destabilizou o movimento da canoa, ao ponto de os balançar perigosamente de um lado para o outro. – AAAHH! Socorro, João, pára isto! – gritou, quebrando o silêncio da natureza que os envolvia.
- Pára quieta que isto já acalma. Não podes virar-te assim de repente! – ralhou, pousando o remo e acalmando o cão que se levantou nervoso com os balanços.
- Nem um encosto para as costas… - reclamou – Quanto tempo demora a viagem?
- Podes encostar-te a mim, se quiseres… - provocou, satisfeito.
- Querias! – bufou, pensando que bom seria ir recostada nele, rio abaixo, o que lhe aumentou progressivamente a neura, juntamente com a posição desconfortável, o calor abrasador que já se começava a sentir, o facto de ser “lésbica”, querer deixar de o ser, mas a razão não deixava. 
- Desculpa, estava a brincar… - disse João preocupado com o silêncio nada característico da sua companhia. Por vezes esquecia-se de que a poderia ofender quando brincava, mas não queria perder aquela amiga. – A sério, estava a brincar. Viste as pernas daquela tipa? – perguntou, para desanuviar o ambiente.
- Quem? – disse confusa.
- A das canoas. – esclareceu-a – Que pernas fantásticas!
- Pff… - respondeu com escárnio – demasiado musculadas!
- Ah, gostas assim do tipo mais delgado. – comentou curioso.
- Sim, acho que sim… - engoliu um ardor na garganta por conta daquela conversa ridícula. Gosto mesmo é das tuas, mas ok..., pensava infeliz, a olhar os dedos da sua mão que roçavam suavemente na água fresca. – E tu? Como gostas? – decidiu aproveitar a sua condição de intocável para tirar nabos da púcara.
- Eu?... bem, de vários tipos. – ficou pensativo a remoer na questão – Quer dizer, acho que umas pernas bonitas podem ser quaisquer umas. Por exemplo, as da mulher das canoas são Boas! – e encheu a boca para dizer a última palavra. – Mas bonitas, bonitas… isso é mais difícil de encontrar. – gostava muito das pernas de Marta, do pouco que já tinha conseguido observar, mas não o disse, para não a constranger ainda mais.
- Está a ficar um calor insuportável… - queixou-se, sentindo a pele exposta ao sol a queimar.
- Vai-te molhando, sempre refrescas. – e assim que deu azo à sua imaginação que envolvia um corpo de mulher com roupa colada, Filipe olhou-o duramente, provocando-lhe outra gargalhada. 
- Acho que vou tirar a roupa. Não aguento isto tudo vestido. Podes abrandar a canoa? – pediu-lhe, levantando-se ligeiramente, de modo a puxar a saia pelas pernas. Retirou depois a camisola e sentiu-se ligeiramente observada, quando puxou a mochila para arrumar a roupa. Não conseguia tirar a limpo, porque os óculos escuros de João não deixavam perceber para onde ele olhava, mas notou um certo rubor nas suas bochechas, o que a fez sentir-se maravilhosa e satisfeita, ao ponto de se esticar um pouco na provocação. Prendeu os cabelos desajeitadamente no alto da cabeça, e iniciou um banho sensual, chapinhando-se com calma. – Que maravilha! – disse, sorrindo de orelha a orelha, gozando do seu poder feminino, quando a canoa embateu num tronco da margem e os virou aos três repentinamente para a água.
João ajudou-os a entrar novamente na pequena embarcação, recolheu as coisas espalhadas pela água e subiu sem dizer uma única palavra. Ficara paralisado a olhá-la e sentia-se ridículo ao ter deixado a canoa completamente desgovernada.
- Completamente seguro, heim? – perguntou a sorrir-lhe de costas, já recuperada do susto, mas satisfeita com o efeito que provocara nele.
- Distraí-me, não volta a acontecer. – justificou-se, mais recomposto do súbito banho fresco que lhe acalmou o físico.
- Agora ficámos com as sandes todas molhadas… - reclamou com a voz afetada.
- Não paramos no sítio do almoço, assim acabamos mais depressa a volta e vamos almoçar noutro local. – sugeriu, já consumido com a ideia de a ver semi-nua durante muito mais tempo.
- ok. – olhou para trás para visualizar o que tinha em mente, e conseguiu arranjar uma posição mais descontraída, pousando a cabeça no cão e esticando as pernas, ficando com os pés na água. – Obrigada Filipe, assim apanho um bocadinho de sol. – disse ao cão, afagando-o com uma mão, agradecida pelo encosto.
Merda… pensou, ao vê-la por inteiro, deitada à sua frente. Tirou o boné, mergulhou-o dentro de água, e trouxe-o repentinamente para a cabeça, refrescando-se.
- Ei! – reclamou Marta, que apanhou com algumas pingas na cara.
- Desculpa.

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(imagem, internet)

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