Nuno deixou-a em casa por volta das 23:30,
demasiado cedo para o novo casalinho, pensou ele, mas satisfeito com o
inesperado rumo que as coisas tinham levado. Estava claramente em desvantagem
com ela, que começava a tomar as rédeas do relacionamento dos dois, e não sabia
o que fazer dali em diante.
Margarida saiu descontraidamente do jipe e
acenou para se despedir. Subiu para o seu apartamento e já dentro de casa,
iniciou o seu ritual de segurança. Dirigia-se à janela do quarto para fechar o
estore quando viu o homem do livro, de pé, junto a um carro a olhar diretamente
para si. As pernas ficaram instantaneamente feitas de gelatina e foi percorrida
por um arrepio gelado quando o viu em direção à porta do prédio onde morava.
Correu em pânico procurando a carteira, e
dando com ela depois de percorrer metade da casa, pegou no telefone e ligou
"Tó Nuno". Este demorou a atender o que pareceu uma eternidade.
- Sim? - disse ele finalmente depois de
séculos.
- Nuno, volta por favor! - gritou ela.
- Mas o que se passa? - ou tinha sido
arrebatada por um desejo poderosíssimo de se pôr debaixo dele - pensou - ou a
casa estava a arder, queria acreditar no primeiro.
- Ele está aqui! Vai-me matar. - disse ela
descontrolada.
- Mas quem é Ele? Tem calma, tranca a
porta de casa que já estou a voltar.
E nesse instante apercebeu-se de que não
se lembrara de trancar a porta. Correu para a entrada da casa e espreitou pelo
óculo. Estremeceu. Ele estava do outro lado, a olhar diretamente na pequena
bolinha de vidro, como se soubesse que ela o via. As mãos tremiam-lhe de tal
forma que não conseguia segurar o ferrolho para o encaixar na tranca, duas
lágrimas desciam pela sua cara e a garganta e os pulmões começavam a fechar o
circuito do oxigénio. Precisava da sua
bomba, ia morrer asfixiada.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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