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Não é possível, tens a certeza? - Nuno estava confuso e incrédulo. Algo naquela
afirmação mexia com as suas convicções. - Não podes estar a confundir? Como
sabes que não é alguém muito parecido? - perguntava ele nervoso.
-
Ontem antes de chegares, quando tentava trancar a porta de casa, ele estava do
outro lado a fitar-me, eu olhei pelo óculo e fiquei algum tempo em pânico a
olhar esta cara... tenho a certeza Nuno. - esclareceu ela.
Ele
caminhou até à varanda, debruçou-se esticando a costas, como se ela lhe tivesse
dado um nó nos nervos da coluna e grunhiu asneiras para o ar. Tinha a cabeça a
estalar, não conseguia compreender o que fazia Álvaro Pontes no meio daquela
história, e porque estava ele a perseguir Margarida. . Que merda era aquela? Gritava
ele nos seus pensamentos. Nuno não tinha medo de nada, na realidade era até
bastante irrefletido no dia-a-dia e na sua profissão. Naquele momento teve o
primeiro pânico da sua vida, Álvaro podia ser perigoso, tinha mais de 30 anos
de experiência, conhecimentos criminais.... e por algum motivo perseguia
Margarida.
-
Este homem aqui na foto é o meu chefe, Margarida! O melhor amigo do meu pai,
que frequentava a nossa casa. Ele teve um acidente qualquer muito grave que
envolveu uma explosão e ia morrendo se não fosse a minha mãe.- vociferou ele. Algo de muito errado estava a acontecer. Aquele homem, um exemplo que tinha aprendido a admirar ao longo dos anos e em quem depositara grande confiança, quase um segundo pai para Nuno. Fora ele quem lhe dera a mão na adolescência, transformando o ódio e revolta que sentia pela profissão de polícia, que lhe tinha roubado os pais em tenra idade, numa missão e objetivo de vida - Sempre
confiei nele, contei-lhe coisas sobre mim que mais ninguém sonha. Ele viveu o meu crescimento e deu-me pancadinhas nas costas quando precisei, porra!
Margarida releu atentamente o historial médico do polícia e ficou chocada com os pormenores técnicos do seu tratamento. Aquilo soava a doloroso. Não pôde deixar de notar, no entanto, que Álvaro era solteiro, e estar internado durante meses, numa posição imóvel à espera que a pele renascesse, sem visitas de familiares, deveria ser muito triste. Talvez Manuela tivesse preenchido um pouco esse vazio na vida do enfermo abandonado, e surgiu-lhe uma ideia que temeu em partilhar com Nuno. Mas era urgente descobrir a relação de Álvaro na morte do casal, ou descartar de vez essa possibilidade e encontrar uma desculpa plausível para o homem andar a vigiá-los. Era quase impossível não haver ali podridão.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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