quinta-feira, 30 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 8 (4ª parte)



- Bem, meninos, vamos lá deixar a doentinha descansar, por hoje já chega de visitas e eu sou bastante ciumento. – Nuno conseguia sempre desanuviar um ambiente, com o seu espírito alegre e positivo. - A enfermeira chefe esteve lá fora a dizer-nos que tens alta daqui a dois dias, só por precaução, está tudo bem contigo. – e sentou-se novamente no seu local de vigia, dando a entender que não ia sair da beira da sua cama de hospital.
Sofia ficou amuada por ter de ir dormir para casa dos tios, mas Ana rejubilou com o regresso da sobrinha, mesmo que só por uns dias. Sofia vivia com o tio apenas há cinco anos. Nuno tinha feito questão de a trazer de casa da Ana e do Jorge, onde fora acolhida em bebé quando os pais morreram, mas a criança era muito agarrada a ele e parecia só estar relaxada quando este estava por perto. Ana ficara abalada com a saída dela de sua casa, mas compreendeu que talvez fosse bom para os dois ficarem juntos, afinal tinham muito em comum.
A comitiva familiar despediu-se dos dois, e Isabel descansou a filha garantindo que já tinha trocado a fechadura de casa e que não iria ser descuidada, mantendo-se alerta para alguma visita inesperada. Desta vez não abriria as portas de sua casa a ninguém e Jorge já tinha organizado uma vigilância permanente à sua rua até tudo aquilo acalmar. Margarida percebeu que Álvaro tinha escapado, mas fingiu não ter entendido.
Nuno acompanhou todos à porta do quarto e teve de empurrar os gémeos à força para que estes seguissem os pais, o entusiasmo dos adolescentes com os acontecimentos macabros era despropositado para o inspetor.
- Estes vão seguir as pisadas da família, só gostam de sangue… - gracejou Nuno, voltando para junto de Margarida. O gigante parecia mais velho, abatido, e Margarida, que já tinha preparado um rol de perguntas para lhe fazer assim que ficassem sozinhos, retraiu-se, com medo de o amargurar mais. Não conseguia imaginar o que aquele homem tinha passado, o desespero de não saber se a ia encontrar, viva ou morta. Já tinha perdido tanta gente, ficara órfão aos cinco anos, sem uma irmã e um cunhado aos vinte e um… era demasiada morte e tristeza para uma pessoa tão nova. – constatava Margarida nos seus pensamentos.
- Não tens de ficar aqui comigo de noite, Nuno. Vais dormir todo torto. – disse ela genuinamente preocupada com o facto de ele parecer não ter dormido na noite anterior.
- A Menina acha que a vou deixar sozinha? E se precisar de ir à casa de banho ou que lhe ajeitem a almofada? – gracejou ele.
Margarida retesou-se novamente com aquela expressão, que lhe provocou calafrios.
- O que se passa? Tens dores? – questionou preocupado.
Havia algo de muito errado na forma como ele e o homem que a atacara falavam… as lágrimas invadiram-lhe as palavras, não conseguia verbalizar. Margarida tinha uma suspeita angustiante na cabeça, que não lhe saía do pensamento desde que o ouvira falar a primeira vez, ao acordar no hospital.
- Não penses mais nele, por favor. Esse assunto vai ser arrumado, mais cedo ou mais tarde. Eu prometo-te. – Nuno beijou-a com delicadeza, tentando não acertar nas zonas magoadas da cara dela. Olhou angustiado as marcas das agressões que Álvaro tinha deixado na mulher que amava e profetizou,
- Ele vai pagar por tudo isto, por cada centímetro do teu rosto. – Margarida não tinha noção do estado em que estava, nem do seu aspeto, e temia olhar o espelho. Sabia que tinha levado pontos e sentia hematomas, mas o importante era estar viva, e principalmente, tê-lo ali.
- Não quero que faças nada precipitado, por favor. – pediu Margarida. – Precisamos de investigar um pouco mais, antes de tomares uma atitude. Garante-me que não vais atrás dele. - suplicou.
- Não te quero mais envolvida nesta história, já chega de brincares aos polícias. Só Deus sabe o que me culpo quando te vejo aqui neste estado, no que podia ter acontecido… - Nuno revolvia-se com remorsos – Esse gajo agora é problema meu. – concluiu.
Margarida não podia revelar o que suspeitava, era terrível demais. Sossegou Nuno e guardou para si mesma os pensamentos que a invadiam.
- Então e agora? Se ficar feia e deformada, ainda me vais querer? – brincou ela, mudando de assunto.
- Sempre fico com o teu rabo delicioso para apalpar! – Nuno sentou-se na cama, recostou-se colocando uma almofada na cabeça, esticou as pernas ao lado das dela, e Margarida encostou-se no seu tronco, como dormira na segunda noite em que o conhecera.
            - Vais ficar? – perguntou ela, sentindo-se a ceder ao sono.
            - Sim, não te preocupes. – garantiu ele, beijando-lhe a cabeça.

            - Ainda bem. – Abraçou o seu gigante, e adormeceu.

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