quarta-feira, 1 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 4 (4ª parte)



Jantaram sob um ambiente de tensão e Nuno sentia-se frustrado por perceber que havia demasiados homens a olhar interessados aquela morena sisuda sentada na sua mesa, sem poder dar-lhe a mão ou fazer um outro gesto mais íntimo que esclarecesse os outros machos de que ela era sua. Depois da sobremesa, ele pagou e encaminhou-se para dentro do Parque, acendendo um cigarro, sendo obedientemente seguido por Margarida. Suspirou de alívio ao perceber que ela não ia dificultar a noite, continuando a torturá-lo com gestos de superioridade, mas que se limitava a apreciar o momento do seu pedestal feminino.
Margarida sentou-se em cima do muro e quebrou o gelo.
- Hoje quando vínhamos no corredor da editora, antes da donzela interromper a nossa caminhada, reparei que os meus colegas estão desconfiados de que temos um caso. Não é para menos, afinal passamos horas fechados na minha sala. Como deves querer manter em segredo a nossa investigação e a mente humana é limitada na imaginação quando se trata de parcerias entre homem e mulher, acho que devíamos fingir que somos um casal. Assim mantemos a curiosidade de toda a gente satisfeita e ganhamos liberdade para trabalhar. O que achas? - Margarida tinha estudado aquela abordagem direta enquanto se maquilhava, e como sempre, tinha acertado na mouche!
- Namorados? - disse surpreendido - Por mim tudo bem, mas olha que sou exigente. - brincou ele. - Vais ter de me prometer fidelidade eterna, e uns beijinhos quando estivermos na presença de outras pessoas. – aproveitou a deixa e aproximou-se dela, à distância desconfortável de dois palmos, sentindo-se cada vez mais enfeitiçado por aquela mulher.
Margarida não reagiu à provocação de Nuno, o que o intrigou, e mantinha o olhar longe e fixo em qualquer coisa. O homem que vira de tarde estava de novo a observá-los, sentado num banco distante, com o mesmo livro nas mãos. Foi percorrida por um arrepio gelado, e tentou disfarçar a sua preocupação mexendo na gravata estilosa que Nuno vestira. Fingiu estar interessada na marca daquele objeto, virando-a do avesso automaticamente, pois não queria que Nuno notasse a presença do perseguidor. Os olhos do homem demonstravam interesse e curiosidade no casal e ela resolveu mostrar-lhe a essência daquele encontro.
Puxou pela gravata de Nuno, trazendo-o até bem perto de si, esticou-se o mais que pôde - o homem era mesmo alto! - e beijou-o. Apanhado de surpresa, reagiu automaticamente, abraçando-a com força e prolongou o beijo, sem lhe dar hipótese de fuga. Margarida esqueceu-se por instantes que estava a ser observada por um tarado qualquer e levou as mãos ao pescoço dele, gesto que desejara fazer desde que o vira a primeira vez. Nuno afastou-lhe suavemente os joelhos unidos e colou-se a ela, sentindo o seu corpo pela primeira vez. Ficaram assim algum tempo, o beijo aprofundava-se, e tornava-se pouco próprio para o local público em questão, mesmo de noite. As pessoas afastavam-se incomodadas com aquele arrebatamento e Margarida voltou a si, abrindo um olho para tentar perceber se o homem ainda ali continuava especado. Tinha desaparecido, felizmente, pensou ela.
Soltou-se dele para respirar e evitou o seu olhar, uma coisa eram apalpões, outra era olhar nos olhos. Essas intimidades uma senhora não andava por aí a dar a qualquer um! – teorias suas.
- Bem, se isto é namorar contigo a fingir, nem quero saber quando for a sério! - gracejou Nuno ainda afogueado.
Afastou-se um pouco dela e Margarida não pôde deixar de notar na consequência física que tinha provocado no parceiro.
- Francamente Nuno! - repreendeu-o. - Controla-te!
- Desculpa, esqueci-me de o avisar de que era só a fingir! - resmungou ele.

- Vamos mas é dar o pão aos patinhos que foi para isso que fui convidada.

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(imagem, internet)

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