Jantaram sob um ambiente de tensão e Nuno
sentia-se frustrado por perceber que havia demasiados homens a olhar
interessados aquela morena sisuda sentada na sua mesa, sem poder dar-lhe a mão
ou fazer um outro gesto mais íntimo que esclarecesse os outros machos de que
ela era sua. Depois da sobremesa, ele pagou e encaminhou-se para dentro do
Parque, acendendo um cigarro, sendo obedientemente seguido por Margarida. Suspirou
de alívio ao perceber que ela não ia dificultar a noite, continuando a
torturá-lo com gestos de superioridade, mas que se limitava a apreciar o
momento do seu pedestal feminino.
Margarida sentou-se em cima do muro e
quebrou o gelo.
- Hoje quando vínhamos no corredor da
editora, antes da donzela interromper a nossa caminhada, reparei que os meus
colegas estão desconfiados de que temos um caso. Não é para menos, afinal
passamos horas fechados na minha sala. Como deves querer manter em segredo a
nossa investigação e a mente humana é limitada na imaginação quando se trata de
parcerias entre homem e mulher, acho que devíamos fingir que somos um casal. Assim
mantemos a curiosidade de toda a gente satisfeita e ganhamos liberdade para
trabalhar. O que achas? - Margarida tinha estudado aquela abordagem direta
enquanto se maquilhava, e como sempre, tinha acertado na mouche!
- Namorados? - disse surpreendido - Por
mim tudo bem, mas olha que sou exigente. - brincou ele. - Vais ter de me
prometer fidelidade eterna, e uns beijinhos quando estivermos na presença de
outras pessoas. – aproveitou a deixa e aproximou-se dela, à distância
desconfortável de dois palmos, sentindo-se cada vez mais enfeitiçado por aquela
mulher.
Margarida não reagiu à provocação de Nuno,
o que o intrigou, e mantinha o olhar longe e fixo em qualquer coisa. O homem
que vira de tarde estava de novo a observá-los, sentado num banco distante, com
o mesmo livro nas mãos. Foi percorrida por um arrepio gelado, e tentou
disfarçar a sua preocupação mexendo na gravata estilosa que Nuno vestira.
Fingiu estar interessada na marca daquele objeto, virando-a do avesso
automaticamente, pois não queria que Nuno notasse a presença do perseguidor. Os
olhos do homem demonstravam interesse e curiosidade no casal e ela resolveu
mostrar-lhe a essência daquele encontro.
Puxou pela gravata de Nuno, trazendo-o até
bem perto de si, esticou-se o mais que pôde - o homem era mesmo alto! - e beijou-o.
Apanhado de surpresa, reagiu automaticamente, abraçando-a com força e prolongou
o beijo, sem lhe dar hipótese de fuga. Margarida esqueceu-se por instantes que
estava a ser observada por um tarado qualquer e levou as mãos ao pescoço dele,
gesto que desejara fazer desde que o vira a primeira vez. Nuno afastou-lhe
suavemente os joelhos unidos e colou-se a ela, sentindo o seu corpo pela
primeira vez. Ficaram assim algum tempo, o beijo aprofundava-se, e tornava-se
pouco próprio para o local público em questão, mesmo de noite. As pessoas
afastavam-se incomodadas com aquele arrebatamento e Margarida voltou a si,
abrindo um olho para tentar perceber se o homem ainda ali continuava especado.
Tinha desaparecido, felizmente, pensou ela.
Soltou-se dele para respirar e evitou o
seu olhar, uma coisa eram apalpões, outra era olhar nos olhos. Essas
intimidades uma senhora não andava por aí a dar a qualquer um! – teorias suas.
- Bem, se isto é namorar contigo a fingir,
nem quero saber quando for a sério! - gracejou Nuno ainda afogueado.
Afastou-se um pouco dela e Margarida não
pôde deixar de notar na consequência física que tinha provocado no parceiro.
- Francamente Nuno! - repreendeu-o. -
Controla-te!
- Desculpa, esqueci-me de o avisar de que era só a fingir! -
resmungou ele.
- Vamos mas é dar o pão aos patinhos que
foi para isso que fui convidada.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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