quinta-feira, 9 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 5 (4ª parte)



Nuno ainda tinha questões a esclarecer com ela, nomeadamente os pormenores sobre o homem que tentara invadir o apartamento de Margarida na noite anterior.
- Já tinhas visto aquele homem alguma vez?
- Não, ontem foi a primeira vez. Pensava mesmo que estava a ser paranóica, é uma das minhas características, sabes? - confessou - Quando o vi pela janela do quarto, tive a confirmação de que afinal não é só nos filmes e nos livros que as cenas de terror acontecem. Não estava à espera daquele desfecho na noite de ontem.
- Eu até gostei - gracejou ele - É muito divertido ouvir-te dormir. Mas a partir de hoje não ficas mais sozinha naquela casa. Se o gajo já sabe onde moras e se atreveu a ir até lá, é porque está decidido a fazer alguma. - preveniu Nuno.
- E posso saber como é que vais evitar que não fique sozinha em casa? - Margarida não queria mudar os seus hábitos assim de repente. Gostava dos seus momentos de solidão, pelo menos enquanto havia luz do dia.
- Vou pensar nisso. - disse ele de forma prática.


Estavam a rever o dossier que continha os factos sobre a vida de Manuela, a mãe de Nuno, e Margarida gostava cada vez mais daquela médica bem-sucedida que ainda arranjava tempo para um marido e três filhos. Admirava aquelas mulheres que conseguiam ter espaço mental para encaixar todas as preocupações profissionais, emocionais, maternais, sem ganharem um esgotamento. Manuela parecia feliz. As fotos com a família traziam sentimentos díspares a Margarida, alegria, insegurança, devoção, talvez a vida de uma mãe fosse recheada por emoções assim tão diferentes, pensava ela. Leu novamente a lista de pacientes graves que a médica tratara na época antes de morrer, e passava as fotos dos utentes queimados quando estremeceu ao ver aqueles olhos. Era ele, o homem que a perseguira ontem, bem mais novo, mas definitivamente a mesma pessoa. Voltou-se para Nuno e estendeu-lhe a foto com a mão trémula a denunciar o medo que a invadia.

- É este o homem de ontem. - sentiu um calafrio na espinha ao verbalizar o que temia.

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

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