Ficaram horas dentro do quarto impessoal
da casa de férias, que ficou parcialmente irreconhecível.
Margarida estava deitada na cama de barriga
para baixo, feliz. Nuno olhava-a deitado a seu lado, de cabeça apoiada numa das
mãos. Com a outra percorria as costas dela, pensativo.
- Estás a pensar nos teus pais? -
perguntou Margarida, receosa.
- Não - confessou ele - estava a pensar
que tens uma pele demasiado macia - e levando a mão a uma nádega de Margarida,
continuou a confissão - e que podia ficar horas a apalpar-te. É maravilhoso! -
disse sorrindo divertido.
- Sinceramente! - exclamou ela fingindo
desagrado, e lançando-se novamente nos braços dele. Aquele homem permitia-lhe
ser ela própria, sem máscaras, e tinha uma sabedoria qualquer inexplicável de a
fazer sentir-se bem. Comportava-se como se a conhecesse desde sempre,
trazendo-lhe uma maravilhosa sensação de pertença que nunca pensou ser possível
viver. Pela primeira vez na vida ela queria ser de alguém. Nuno tinha-a
ganhado.
Estava na hora de voltar, Margarida
precisava de resolver umas questões fisiológicas e tomar banho. Não sabia bem
como se comportar, estava toda nua... Mas também, que mais havia para ver? Já
tinha revelado tudo, em diferentes posições e perspetivas. O mistério da nudez
da donzela já não existia. Ganhou coragem, levantou-se, procurou as suas roupas
pelo quarto e dirigiu-se ao quarto de banho.
Nuno apreciava a cena de braços cruzados
atrás da cabeça, esticado na cama, sorrindo orgulhoso, ela não sabia bem do
quê…
- Dá-me 15 minutos de avanço e podes vir
tu tomar banho, ok? - havia coisas que mesmo com ele não iria partilhar no
terceiro dia, e talvez nunca na vida, não sabia bem.
Quando regressou ao quarto, já recomposta
e a cheirar a "Abanderado", um gel de banho espanhol que era vendido
em embalagens gigantes, ele estava ao telefone com Sofia.
- Sim, ok, tinha-me esquecido disso… Mas
vamos claro, eu vou-te buscar à escola daqui a pouco. Deixo-te em casa da tia e
depois vou lá ter, pode ser? Ah, vou levar companhia. - confessou ele à
sobrinha. - Sim, é essa. Adeus! - e forçou a despedida para evitar ser
bombardeado com mil perguntas sobre a nova namorada. As mulheres eram
terrivelmente curiosas, constatou.
- Então, vais-me levar onde? Posso saber?
Acho que andas a ficar muito mandão. - começou a arrumar a confusão do quarto
como uma boa convidada.
- Os meus sobrinhos gémeos fazem hoje 14 anos,
os filhos da Ana. Tinha-me esquecido completamente da festa de hoje à noite e a
Sofia fica muito ofendida com as minhas falhas de calendário. Vamos lá jantar
hoje e quero que vás comigo. - aquilo era uma estranha forma de convidar alguém
para uma festa. Ela não tinha nada para fazer, nem combinações, mas podia ao
menos ser questio nada sobre as suas vontades... resolveu
espernear um pouco para apimentar o momento, e dar-lhe uma lição educativa de
como se tratava uma senhora.
- Não sei se tenho nada combinado, posso
ligar-te mais logo a confirmar? - lançou ela em desafio.
- A menina esqueceu-se de que não torna a
ficar sozinha em casa? - Dinis outra vez a acenar-lhe e a aparecer na sua
mente. - Há um inspetor chefe da PJ a persegui-la e antes de eu o confrontar
pessoalmente e lhe dar dois murros esclarecedores, não volta ao seu apartamento
sem mim. - e deu-lhe um beijo na testa saindo do quarto em direção ao quarto de
banho.
Margarida aceitou aqueles argumentos,
minimamente válidos, e terminou a arrumação do espaço, pegando em seguida no
telemóvel para ver se tinha alguma chamada perdida. Estranhou ver um sms da
mãe, não era costume dela escrever em máquinas. Estaria ela finalmente a
perceber o funcionamento da tecnologia? Sorriu e abriu a mensagem:
"Olá
querida?
Quando
voltas cá a casa?
Aparece
hoje, fiz o teu bolo preferido!
Beijos
Mãe"
Ficou com remorsos ao ler a mensagem,
esquecia-se frequentemente de que a mãe vivia demasiado só. Tinha de a ir ver
antes do jantar, nem que fosse para lhe dar apenas um beijo.
Respondeu-lhe
prontamente,
"Olá
mãe,
vou
aí antes de jantar! :)
Adoro-te!
Bjs
M"
- Ok, eu vou contigo conhecer a famelga toda,
mas antes tenho de passar em casa da minha mãe. - gritou ela em direção ao
quarto de banho.
- Que bom, queria mesmo conhecê-la! -
gracejou Nuno respondendo de volta.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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