Nuno
demorou-se a recuperar do choque e mantinha-se sentado na cadeira de Margarida
a girar maquinalmente de um lado para o outro, numa atitude autista, completamente
perdido nos seus pensamentos. Ela não podia deixar de se sentir culpada pela
preocupação que o seu gigante carregava nos ombros, e decidiu que já tinham
estado tempo suficiente naquela câmara de horrores.
-
Vamos comer qualquer coisa, ou dar uma volta, apetecia-me andar de carro e
esquecer um pouco isto tudo, pode ser? - e esticou a mão ao seu parceiro
angustiado, que precisava bem mais que ela de sair dali.
Nuno
estendeu a sua mão e deixou-se levantar, obedecendo agradecido.
-
Posso escolher eu o destino? - questio nou
ele ligeiramente mais animado.
-
Claro, tudo o que quiseres. - e Nuno sorriu saindo atrás dela. Assim que
Margarida trancou a porta e prendeu uma vez mais os problemas naquela jaula
hermética, ele olhou-a e disse em tom provocador.
-
Tudo? - e piscou-lhe o olho colocando o braço em volta dos seus ombros.
-
Mas não abuses!
Saíram
abraçados do prédio, e Margarida reparou que os dois encaixavam corretamente
quando estavam naquela posição, o ombro dela era como uma peça de puzzle que
cabia exatamente naquele espaço por baixo do braço forte do gigante. Encostou a
cabeça nele e aquele gesto carinhoso apagou quase na totalidade a tristeza do
coração de Nuno. Teria de agradecer à cunhada um dia mais tarde, encontrara a
peça que faltava na sua vida.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário