Margarida não sentia nada para além do
alívio de que a mãe estava viva, poderia morrer, sem medo. Respirou longamente
e deu-lhe a ordem,
- Pode matar-me….
- Corajosa a Menina, hein? – Álvaro
preparou a arma para o tiro e sorriu.
«-Pode matar-me» - Margarida deu a
ordem e Nuno acordou do transe, atirando em Álvaro, que se desequilibrou com o
tiro que lhe acertou em cheio no braço que empunhava a arma. Álvaro olhou
descontrolado para Nuno e correu em direção a outra porta, fugindo desarmado.
Nuno lançou-se em perseguição do chefe baleado, mas a imagem de Margarida
ensanguentada fê-lo estacar. Álvaro não iria longe, pensou.
O som da explosão da arma ensurdeceu-a por
segundos, e Margarida esperava de olhos fechados a dor de morrer. Pensou que
afinal não tinha sido assim tão difícil, estava aliviada. Ainda raciocinava,
constatou com surpresa, e sentia o cheiro do seu sangue…
Correu para Margarida, que parecia
morta, soltou-a e sentou-se no chão com ela ao colo, tentando perceber o que Álvaro lhe tinha feito.
- Margarida, desculpa... – ouviu Nuno
gemer aos seus ouvidos. Não estava morta?
– perguntou-se, ficando novamente tudo escuro.
A
adrenalina do momento começou a extinguir-se, Nuno sentia dores fortes em todo
o corpo, os olhos picavam-lhe, e pela primeira vez em muitos anos, precisou de
chorar. Jorge apareceu na sala desvairado, em pânico com a ideia de que um
deles tivesse sido atingido pelo tiro que ouvira vindo dali. Nuno indicou-lhe
em silêncio o caminho que Álvaro tinha tomado, e o irmão obedeceu, correndo
ainda mais enlouquecido depois de ver o sofrimento de Nuno com Margarida no
colo, que parecia morta e percebendo que o chefe estava envolvido naquele
ataque.
Um carro chiou descontrolado, e o
silêncio inundou a antiga fábrica, que retomou a sua paz fantasmagórica,
enquanto Nuno recuperava as forças, reorganizando as ideias. Levou Margarida
para o jipe, desmaiada e conduziu “no cinzento” até às urgências do hospital,
sem distinguir o caminho que fazia. Ela precisava de cuidados médicos e essa
era a sua missão, nada mais.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
Sem comentários:
Enviar um comentário