quarta-feira, 29 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 8 (3ª parte)



As vozes de Isabel e de Nuno ficavam cada vez mais próximas, conseguia distinguir os lamentos da mãe e sentia uma mão na sua. Estava deitada, não tinha dores, bastante mais confortável do que momentos antes, ou horas, não sabia bem quanto tempo se tinha passado desde que estivera sentada para morrer, na sala dos azulejos. Um alívio percorreu-lhe a espinha, estava viva, e a mãe também.
Abriu os olhos, reconhecendo um quarto de hospital e viu-os sobressaltarem-se de alegria, sufocando-a com beijos e abraços.
- Então a Menina queria matar-nos de susto, hein? – Nuno gracejou aliviado por vê-la a recuperar do choque, estivera quase 12 horas sem acordar, e Margarida estremeceu com aquela expressão, arregalando os olhos instintivamente, mas disfarçando logo de seguida. Não queria pensar nisso agora.
- Querida, tive tanto medo de te perder… - choramingou Isabel, limpando as lágrimas num lenço que Nuno lhe estendeu carinhosamente.
- Está tudo bem, - tranquilizou-a Margarida – já passou. – e olhou para Nuno interrogando-o silenciosamente, ansiosa por saber o que tinha acontecido a Álvaro. Nuno manteve-se calado, desconfortável, e desconversou.
- Sim, agora está tudo bem, mas tens de descansar. – deixando-a sem resposta e mudando de assunto deliberadamente.
Margarida percebeu que teria de esperar para ter respostas, e ele beijou-a suavemente nas mãos, num gesto que mais parecia uma súplica de perdão.
- Podemos? – uma cabeça espreitou na porta, e sem esperar pela resposta, uma família inteira entrou no quarto de hospital. Jorge, Ana, os gémeos de catorze anos e Sofia, que trazia flores, meio indecisa se sorria, ao ver o tio debruçado na cama de uma mulher.
- Margarida, íamos todos morrendo de susto ontem, querida! – a voz de falsete de Ana estava carregada de genuína preocupação, e Margarida sentiu-se feliz com aquela plateia carinhosa que a admirava. Sempre desejara uma família grande, e parecia que Deus lhe pedia desculpa pelos momentos angustiantes e dolorosos do dia anterior, presenteando-a com sete visitas calorosas.
- Não era preciso virem até aqui, eu estou bem. – disse Margarida encavacada com aquelas demonstrações de amizade – E tenho que vos pedir desculpa – dirigiu-se aos gémeos – por vos ter estragado o jantar de aniversário. Prometo que vos compenso!
- Não faz mal, - disse Miguel, um adolescente de olhar meigo – até foi fixe, a minha mãe esqueceu-se do bolo no forno com aquela confusão toda, ia pegando fogo à cozinha e tivemos de ir jantar fora depois do pai chegar. – confessou inocentemente.
- O bolo era o meu preferido – lamentou-se Francisco sem remorsos – mas para castigo o pai teve de nos comprar um jogo para a PS! – e Ana deu-lhe um cascudo para o silenciar.
- Desculpa Margarida, estes miúdos são todos uns parvos hoje em dia!
- Eiii!!! – entoaram os gémeos em uníssono em desagrado pela ofensa.
- Nuno, precisava de falar contigo lá fora, pode ser? – Jorge sorriu para Margarida, pedindo-lhe licença para que Nuno a deixasse por alguns minutos.
- Sim, vamos. – Nuno sorria pouco convencido, tentando não transparecer a preocupação, bastante ansioso com o que Jorge teria para lhe dizer.
Margarida ficou alerta com a conversa dos dois inspetores, mas era requisitada pela plateia mais jovem que tentava saber pormenores do que se tinha passado. Ana e Isabel conversavam sobre filhos e preocupações maternais e Margarida descontraiu naquele ambiente estranhamente festivo e familiar.

Passados alguns minutos, Jorge e Nuno entraram, sem denunciar o teor da conversa, e comportando-se como se nada se tivesse passado, eram mestres em camuflagem de emoções, pensava Margarida.

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(imagem, internet)

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