quarta-feira, 22 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 7 (1ª parte)



Não havia maneira de Nuno conseguir calar a sobrinha, que descrevia pormenorizadamente uma afronta pública que uma "Maria Qualquer" lhe tinha feito no intervalo da tarde. Perguntava-se como teria sido Margarida aos quinze anos. Duvidava que andasse envolvida em peixeiradas adolescentes, mas, se a provocassem, certamente que não iria para casa com desaforos.
Sofia batia as portas de casa desesperada por não encontrar «aquela blusa»! Sim, tinha toneladas de roupa, mas naquela noite só a blusa dos folhinhos é que lhe servia... Nuno girava de volta dela, tentando ajudar, mas só conseguia atrapalhar.
Finalmente conseguiu arrancar a sobrinha de casa e deixou-a no prédio de Ana, suspirando de alívio. Pegou no telefone, mas antes de fazer a chamada para Margarida, abriu o sms com a morada da sogrinha. Quem te viu e quem te vê, Nuno Santos, pensou ele contente com a sua nova condição de "enamorado".
Poisou o telefone e carregou no acelerador, tinha bastante curiosidade em conhecer Isabel.


Margarida recuperou os sentidos, continuava tudo escuro. Teria sido aquilo um sonho? Tentou recordar-se de tudo o que tinha acontecido. Lembrava-se de deixar Nuno à porta do liceu, ir a casa da mãe, de chamar por ela e o escuro... Entrou em parafuso com a ideia do que se teria passado com Isabel. Teria sido atacada também? A mãe era ainda mais frágil que ela, uma pessoa pacífica e doce. Deus não podia permitir que lhe fizessem mal… Tinha uma dor muito forte na nuca....
Ao aperceber-se de que tinha um pano em volta da cabeça e os membros superiores presos, o pânico voltou a apoderar-se da sua garganta, e as lágrimas caíram-lhe silenciosas pela face. Sentia-se balouçar de um lado para o outro, ia deitada, possivelmente num banco de um carro, mas para onde a levavam? O que tinha feito ela para que a tratassem daquela forma? - Os seus maiores pesadelos estavam a ser materializados, era perseguida por um estranho alto que a espiara e tentara entrar em sua casa na noite anterior, tinha sido raptada, encapuçada, amordaçada e estava de mãos atadas.
Ouvia um rádio a tocar baixinho e tentou não emitir qualquer som nem fazer nenhum movimento que denunciasse estar acordada. - O seu maior receio naquele momento era a dor física, estava em alerta total com medo de ser agredida, e pior de tudo, morrer com dor. - A garganta ameaçava um bloqueio iminente, mas esforçou-se por se manter calma. Nos livros, era assim que as vítimas se conseguiam manter vivas... pelo menos durante algumas horas. Sentiu o telefone no bolso de trás das calças e antes que este tocasse, como tinha as mãos atadas nas costas, procurou a patilha de silêncio do iphone e colocou-o mudo. Lembrou-se de que a tecnologia permitia localizar telefones modernos e isso foi o suficiente para a garganta relaxar uns centímetros, talvez ainda houvesse esperança…
O veículo parou de repente e depois de uns segundos, que lhe pareceram eternos, foi arrancada do carro com violência. Ela emitiu um som de súplica e ele cumprimentou-a.

- Ora viva! - seria aquela uma expressão de polícias? Nuno também se dirigia a ela da mesma forma… - Vamos lá então resolver isto, estou farto desta merda! - a voz estava carregada de ódio, Margarida sentiu-se a querer desmaiar. Só a ideia de Nuno a encontrar com vida a trouxera de volta à realidade. Tinha de aguentar. - Ajuda-me por favor...

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(imagem, internet)

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