segunda-feira, 27 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 8 (1ª parte)




Nuno reconheceu imediatamente o carro de Álvaro. A noite escurecia o ambiente, e decidiu não denunciar a sua chegada deixando o jipe parado do lado de fora do muro que envolvia a antiga fábrica de cerveja. Saltou a vedação evitando o portão de entrada, e dirigiu-se cautelosamente ao edifício em ruínas, em busca de um sinal que denunciasse a presença de Margarida. Normalmente iria com os sentidos em alerta para perseguir o criminoso, hoje o importante era encontrá-la, e viva.

Jorge e Jaime chegaram ao local quase em simultâneo e trocaram algumas orientações rápidas antes de entrarem na fábrica. O jipe de Nuno já lá estava, e Álvaro, pelos vistos também tinha vindo ajudar. Estranharam a presença do chefe por ali, talvez Nuno lhe tivesse pedido ajuda, raciocinaram os dois. O silêncio da noite que descia iria ser precioso na busca dentro do edifício abandonado. Dividiram-se e cada um avançou por dois pontos diferentes, de forma a alargar as hipóteses de encontrar Margarida, ou talvez só o seu iphone, lamentavam os inspetores, que já tinham visto de tudo na sua experiência profissional.
           
            Nuno não raciocinava como Jorge e Jaime, a sua dependência emocional por Margarida atrapalhava-lhe a lucidez, e o ódio que crescia por Álvaro era aumentado pela desilusão de aquele homem o estar a magoar tanto. Tinha perdido os pais em criança e agora o seu grande amigo morria também repentinamente, tentando arrastar Margarida com ele. A sua confusão mental começava a trair-lhe os sentidos, nunca se sentira tão perdido como naqueles corredores destruídos…

Álvaro fitou Margarida enraivecido ao voltar à sala azul, ouvira barulho no exterior do prédio e precisava resolver rapidamente aquele problema. Esperava que não fosse ele, não estava nos seus planos matá-lo. Sacou da arma e encostou-a a Margarida que, vendo o seu final aproximar-se, “ressuscitou” do choque da última agressão,
- Antes de me matar diga-me, por favor, a minha mãe está viva? – disse, ganhando coragem. Não podia morrer sem saber o que o doido lhe tinha feito. As suas certezas sobre a vida pós morte eram nenhumas, não tinha gasto muito tempo a pensar sobre isso, só sabia que não podia morrer sem aquela resposta.
- Ela está viva, uma simpatia, deixe que lhe diga, bebemos um chá e conversámos muito tempo sobre si, a sua família e… até foi ela que me deu a ideia de a trazer para aqui! Pelos vistos gostava bastante deste local, não é verdade? – o gigante brincava agora com o medo de Margarida e a revelação do que lhe inspirara o local onde iria cometer o crime deixou-a angustiada.

            Ouviu vozes. Ainda estava viva, pensou com o coração a sair-lhe da garganta, e avançou em silêncio em direção ao som.

            Margarida estava sentada, de cabeça caída, numa atitude de resignação, e Álvaro de pé encostava uma arma à sua testa. Nuno paralisou em choque, perturbado com aquela visão, sem reagir, recordando todos os mortos que o assombravam desde criança. Queria matar Álvaro, mas a mão não colaborava, ficando petrificada.

(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)

Sem comentários:

Enviar um comentário