Ganhou
coragem e questio nou-o.
- Os
teus pais eram felizes? - olhou-o carinhosamente.
-
Ham? - foi arrancado do seu transe e demorou a responder - Sim, acho que sim.
Eu não tenho muitas recordações dos meus pais como casal, era muito pequeno, mas
a memória visual que tenho das fotos da época mostram cumplicidade. Estão quase
sempre sorridentes, com filhos, deviam ser felizes, não? - Nuno pegou no
telefone e ligou para Jorge, o irmão mais velho que, dos três, era quem
partilhara mais tempo com a mãe e o pai. Nuno ressentia-se desse privilégio concedido
a Jorge e durante vários anos invejara-o secretamente por isso.
Jorge
atendeu energicamente, andava preocupado com o irmão mais novo desde que este
se retirara do serviço por tempo indeterminado. Na PJ todos sabiam que andava
novamente obcecado com as mortes da família e há três dias que não atendia o
telefone a ninguém para além de Sofia. Ana tranquilizara-o de que Nuno estava
bem e tinha uma excitação estranha na voz quando mencionava que o cunhado
andava ocupado com outros afazeres. Por mais que Jorge a pressionasse, a mulher
não se abalava com as suas técnicas policiais de intimidação e mandava-o à fava
deixando-o na ignorância. Era mais fácil arrancar um crime de um suspeito que
fazê-la contar segredos.
-
Nuno! Então pá, o que é que andas a fazer? - rugiu Jorge preocupado.
-
Olá Jorge, o mesmo de sempre. Ouve, estou aqui com uma dúvida. Preciso que me
respondas a uma coisa.
- Se
é outra vez sobre os sites pornográficos com vírus, já te expliquei que essa
merda não é para abrir! Se queres ação arranja uma gaja pá! - Jorge adorava ser
indiscreto, e quanto mais audível fossem as suas palermices, melhor!
-
Deixa de ser parvo, o assunto é sério! - explodiu Nuno sem paciência para as
piadas do irmão.
- Ok
paneleiro, se não gostas de mulheres o problema é teu, não sabes o que perdes.
- ria-se satisfeito por humilhar o irmão com a plateia masculina da sala de
convívio da PJ a regozijar com a conversa.
- O
pai e a mãe eram felizes? - perguntou Nuno ignorando o sentido de humor de
Jorge.
-
Ham? Que raio de pergunta é essa agora? - e afastou-se dos colegas caminhando
para um local mais privado. Estava cada vez mais preocupado com Nuno, o miúdo
não largava aquele assunto.
-
Quero saber se te lembras de os ver felizes, tu sabes... se pareciam ser
apaixonados. - explicou Nuno.
-
Sei lá pá, acho que sim. Mas de onde vem isso agora? - Jorge gostava de poder
tirar aqueles fantasmas de cima do irmão mais novo. Preocupava-o ele não
arranjar uma mulher e viver apenas para Sofia, como se ela fosse sua
responsabilidade. Um dia ela ia à sua vida e ele ia ficar sozinho.
-
Encontrei uma pista sobre a morte dos pais e preciso de saber se eles tinham
amantes, ou davam sinais disso. A Margarida reconheceu um tipo que foi paciente
da mãe no hospital e o gajo tem tido umas atitudes estranhas.
-
Margarida? - Jorge retomou a alegria de gozar com o caçula - É a tua nova amiga? - escarneceu - É boa? Tira-lhe uma
foto em cuecas e manda-me! - brincou ele.
-
Vai à Merda! - e desligou o telefone furioso. Conversar com o irmão mais velho
era exasperante.
-
Não te esqueças de que hoje os gémeos fazem anos... - Nuno já tinha desligado.
Ficou a olhar o telefone surpreendido, o irmão nunca se tinha negado a
partilhar com ele pormenores sórdidos sobre as boazonas que comia.
-
Esquece, com o Jorge não dá para conversar nada sério. - disse frustrado - Ele
viveu mais tempo com os nossos pais, pensei que talvez tivesse alguma memória
que nos pudesse ajudar.
-
Hum... Mas afinal ele respondeu alguma coisa de concreto? - questio nou
Margarida que imaginava o teor dos comentários de Jorge pelo ar enfurecido de
Nuno.
-
Acha que sim, que eram felizes.
(direitos reservados, afsr)
(imagem, internet)
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