segunda-feira, 13 de março de 2017

"Margarida, o Bom e o Mau Gigante" - Cap 5 (6ª parte)


Ganhou coragem e questionou-o.
- Os teus pais eram felizes? - olhou-o carinhosamente.
- Ham? - foi arrancado do seu transe e demorou a responder - Sim, acho que sim. Eu não tenho muitas recordações dos meus pais como casal, era muito pequeno, mas a memória visual que tenho das fotos da época mostram cumplicidade. Estão quase sempre sorridentes, com filhos, deviam ser felizes, não? - Nuno pegou no telefone e ligou para Jorge, o irmão mais velho que, dos três, era quem partilhara mais tempo com a mãe e o pai. Nuno ressentia-se desse privilégio concedido a Jorge e durante vários anos invejara-o secretamente por isso.
Jorge atendeu energicamente, andava preocupado com o irmão mais novo desde que este se retirara do serviço por tempo indeterminado. Na PJ todos sabiam que andava novamente obcecado com as mortes da família e há três dias que não atendia o telefone a ninguém para além de Sofia. Ana tranquilizara-o de que Nuno estava bem e tinha uma excitação estranha na voz quando mencionava que o cunhado andava ocupado com outros afazeres. Por mais que Jorge a pressionasse, a mulher não se abalava com as suas técnicas policiais de intimidação e mandava-o à fava deixando-o na ignorância. Era mais fácil arrancar um crime de um suspeito que fazê-la contar segredos.
- Nuno! Então pá, o que é que andas a fazer? - rugiu Jorge preocupado.
- Olá Jorge, o mesmo de sempre. Ouve, estou aqui com uma dúvida. Preciso que me respondas a uma coisa.
- Se é outra vez sobre os sites pornográficos com vírus, já te expliquei que essa merda não é para abrir! Se queres ação arranja uma gaja pá! - Jorge adorava ser indiscreto, e quanto mais audível fossem as suas palermices, melhor!
- Deixa de ser parvo, o assunto é sério! - explodiu Nuno sem paciência para as piadas do irmão.
- Ok paneleiro, se não gostas de mulheres o problema é teu, não sabes o que perdes. - ria-se satisfeito por humilhar o irmão com a plateia masculina da sala de convívio da PJ a regozijar com a conversa.
- O pai e a mãe eram felizes? - perguntou Nuno ignorando o sentido de humor de Jorge.
- Ham? Que raio de pergunta é essa agora? - e afastou-se dos colegas caminhando para um local mais privado. Estava cada vez mais preocupado com Nuno, o miúdo não largava aquele assunto.
- Quero saber se te lembras de os ver felizes, tu sabes... se pareciam ser apaixonados. - explicou Nuno.
- Sei lá pá, acho que sim. Mas de onde vem isso agora? - Jorge gostava de poder tirar aqueles fantasmas de cima do irmão mais novo. Preocupava-o ele não arranjar uma mulher e viver apenas para Sofia, como se ela fosse sua responsabilidade. Um dia ela ia à sua vida e ele ia ficar sozinho.
- Encontrei uma pista sobre a morte dos pais e preciso de saber se eles tinham amantes, ou davam sinais disso. A Margarida reconheceu um tipo que foi paciente da mãe no hospital e o gajo tem tido umas atitudes estranhas.
- Margarida? - Jorge retomou a alegria de gozar com o caçula - É a tua nova amiga? - escarneceu - É boa? Tira-lhe uma foto em cuecas e manda-me! - brincou ele.
- Vai à Merda! - e desligou o telefone furioso. Conversar com o irmão mais velho era exasperante.
- Não te esqueças de que hoje os gémeos fazem anos... - Nuno já tinha desligado. Ficou a olhar o telefone surpreendido, o irmão nunca se tinha negado a partilhar com ele pormenores sórdidos sobre as boazonas que comia.
- Esquece, com o Jorge não dá para conversar nada sério. - disse frustrado - Ele viveu mais tempo com os nossos pais, pensei que talvez tivesse alguma memória que nos pudesse ajudar.
- Hum... Mas afinal ele respondeu alguma coisa de concreto? - questionou Margarida que imaginava o teor dos comentários de Jorge pelo ar enfurecido de Nuno.

- Acha que sim, que eram felizes.

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(imagem, internet)

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